O que mais vale a pena

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O lugar tinha a mesma atmosfera caseira de antes. Alguns homens mais velhos apoiados ao balcão e pedindo outra dose da bebida de sempre. Garrafas de vodka, rum, cerveja, uísque, tequila e mais algumas bebidas decoravam as estantes da parede. E, por fim, lá estava ela: a discreta escadaria no fundo do bar que levaria ao segundo andar. Way e Frank tiveram algumas experiências extraordinárias lá.

Gerard chegou ao local e imaginou que o namorado já estaria a sua espera. O senhor baixinho e grisalho da última vez estava se servindo um copo de cerveja, acompanhado por uma mulher como sua ajudante atrás do balcão. Por parecerem ter a mesma idade e passarem a impressão de proximidade, Way deduziu que aquela seria a tia de Frank. 

A iluminação do local estava fraca e sua entrada no estabelecimento sequer foi percebida. Por ser um conhecido, Gerard não hesitou em subir as escadas, na esperança que lá estivesse Frank. Dito e feito, o mais novo estava sentado em uma poltrona que parecia confortável, com um cigarro no canto da boca. Ele soltou a fumaça e depois sorriu ao ver o outro.

- Você veio. Finalmente podemos nos ver. - Frank levantou e se atirou em seus braços, o que o deixou extremamente feliz. - Você quer um? 

- Sim, eu estou precisando um monte agora. - suspirou fundo e recebeu um cigarro novo de Frank. Depois de conseguir acendê-lo, deu uma longa tragada e depois suspirou fundo. 

- O que foi? Algo aconteceu para ficar tão estressado?

Gerard se perguntou como poderia tocar no assunto tão delicado.

- Na verdade, sim. Eu estava com Ray antes de vir, e... Ele me disse algo.

Frank voltou a se ajeitar na poltrona. Ele parecia intrigado. 

- O que?

- Basicamente, eu recebi um chamado em Nova Iorque. Só preciso dizer sim e eles me levam para lá. 

- Gerard, isso é incrível! É tudo pelo o que você esperava, que você me disse desejar depois de largar o curso. - Iero sorriu, mas, ao perceber o sentimento de pesar com que o outro dizia aquilo, já imaginou o que poderia ter de errado na oportunidade. Gerard devia estar animado, mas falava sobre aquilo com uma enorme tensão ao redor. - Mas... Deixe eu adivinhar. O emprego é fixo, certo?

- Como você soube? - ele se surpreendeu, e puxou uma cadeira que estava ao lado para se sentar em frente a Iero. 

- A forma que você disse. E eu imaginei que eles não gostariam de chamar alguém para fazer uma viagem tão longa da França até os Estados Unidos se os ganhos por isso não fossem por um longo tempo. - disse, também desanimando. - Mas, Gerard, o que está te impedindo?

- Você não sabe o que está me impedindo? Estar com você, é claro. Eu não posso simplesmente te abandonar, Frank. Não agora que eu finalmente te achei. 

- Eu sei como isso é importante para você. Quero dizer, seria uma merda ficar longe de você. Mas pior ainda é te impedir de viver um sonho. Eu quero que você vá, Gerard. Sua vida não pode depender de mim para isso. E, talvez, se você não pode perceber isso... - ele hesitou, fechando os olhos por um segundo e pensando bem no que iria dizer. - Nós devemos nos separar agora. Para que você não se prenda a mim.

O coração do mais velho parecia ter se partido em milhares de pedaço. Ele ficou boquiaberto e sentiu como se estivesse caindo, mesmo sem se mover do lugar. Os sons do bar no andar de baixo ficaram cada vez mais distantes.

- Gerard? - Frank o chamou, trazendo-o de volta a sua atenção normal. Ele respirou fundo e rapidamente aproximou seu rosto do de Way e deu um longo beijo nele, de uma intensidade totalmente diferente de todas que fez antes. Gerard podia sentir a lágrima quente de Frank cair e escorrer pelo seu rosto. Aquilo era uma despedida e ele sabia disso. - Je t'aime beaucoup. Dói muito fazer isso para mim, mas eu me odiaria se te prendesse. Quem ama, liberta, certo? - ele riu e secou as lágrimas que continuavam a cair. - E nós não sobreviveríamos a essa distância. Eu conseguiria te ver uma vez a cada ano, ou isso. Agora eu preciso fazer companhia para minha mãe e decidir como continuar com a música depois de tudo. Eu sinto muito e, minha nossa, como sinto.

- Eu também te amo. Muito. - Gerard conseguiu falar depois de um longo momento. Ele sentiu uma forte vontade de chorar naquele momento, acompanhando o rapaz. - Et je ne cesserai jamais de t'aimer. Adeus, Frank. 

Ele se levantou e desceu as escadas do bar sem olhar para trás. Pensou ter escutado o outro garoto falar um "Bon voyage" baixinho, mas podia ser apenas uma ilusão de sua mente.

•••

Após alguns telefonemas, a confirmação de um contrato com uma galeria de fama média em Nova Iorque, Gerard estava se preparando para partir. Sozinho. Para um novo continente. Era um desafio, mas seria o começo perfeito dos anos mais emocionantes de sua vida. Sua mala estava pronta., com poucas roupas e todos seus materiais para pintura e desenho. Ele tinha uma acomodação para os primeiros dias e reuniu dólares o suficiente para conseguir pagar o primeiro mês de aluguel em uma localização boa da cidade. 

- Você fez um bom trabalho se organizando, Gee. - Mikey entrou no quarto e olhou ao redor. Ele ajustou os óculos no rosto e deu uma risadinha para provocar o irmão. - Uma pena que você está indo e vou poder ocupar todo esse espaço no seu quarto.

- Ha, ha, convencido. Eu poderia mentir que não vou sentir saudades, mas você sabe que não é verdade. Eu até te chamei para vir junto.

- É, mas a mamãe e o papai precisam de alguém para continuar aqui. E você estava certo, eles estão muito orgulhosos de você.

- Finalmente, né? - Gerard riu. - Você vai cuidar bem deles. Eu tenho certeza disso. 

- Você não é único que vai sentir saudades. - Mikey sorriu para ele. - Vamos lá? Eu ainda vou ter que te acompanhar até o aeroporto. Olha que luxuoso, andando de avião antes de qualquer um da nossa família. 

- Só pude pagar a passagem porque a galeria se comprometeu a pagar. E por isso é melhor não chegarmos atrasados. 

- Então vamos. - Mikey pegou a mala para ajudar a carregar o peso para fora do apartamento. Gerard olhou para o quarto, seus objetos mais pessoais já retirados de lá, e pensou em tudo que estaria deixando para trás. Ele passou a vida em Paris e isso estaria mudando agora. Mas ele não queria pensar demais nisso. Afinal, passou por dor demais em seu emocional nos últimos dias, e o trabalho seria um foco importante para utilizar agora.

Way sacudiu a cabeça e tentou se livrar dos questionamentos por um segundo e fechou a porta. Era hora de ir embora. O seu futuro o chamava. 

1968; frerardWhere stories live. Discover now