A cidade que nunca dorme

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// Queridos,
Este é o capítulo final. Recomendo que vocês leiam o finalzinho dele escutando Sweet, do Cigarettes After Sex (vocês vão saber quando a hora chegar). Foi o que eu estava escutando enquanto escrevi, fora as músicas da época citadas.
E depois leiam minhas outras fanfics, porque elas estarão prontinhas em breve rs rs//

Estava tarde, mas Gerard não tinha horário para voltar para seu novo apartamento. Ele e Jimmy, o amigo que havia feito na primeira semana de chegada e com quem dividia o lugar onde moravam agora, haviam decidido ir a um show no melhor lugar para isso que conheciam. Jimmy, além de ser uma ótima e divertida companhia, também o ajudou a dominar o inglês nos primeiros meses que esteve ali. Foi um auxílio incrível e necessário.

Eles estavam no último ano da década de 60, e Way mal conseguia imaginar o que os anos 70 trariam. Mais liberdade, provavelmente, mas eles teriam que batalhar por isso. Pensar no futuro dessa maneira trazia um misto de ansiedade com empolgação. 

Gerard já estava trabalhando em sua quinta exposição pela galeria que o contratou. A primeira havia sido um sucesso, sua pintura capturou a essência jovem e trouxe as características nacionais que buscavam. Assim, com um contrato renovado, ele estava sendo bem sucedido e suas obras foram requisitadas em outras seleções. A mais recente era exclusivamente de esculturas. Way nem havia explorado sua capacidade manual a este nível antes da oferta, mas descobriu ter talento para o estilo depois de algumas tentativas iniciais.

Há algumas semanas, Gerard foi sozinho a uma palestra com um dos nomes mais famosos da arte contemporânea: Andy Warhol. Ele ainda teve o privilégio de trocar algumas palavras com o criador da pop-art, um movimento que ele percebia estar muito mais presente nos Estados Unidos do que na França. Era um mundo diferente e novo a ser explorado, mas ele se sentia solitário. Era claro que esse sentimento viria. A adaptação foi facilitada pela visita de Ray há aproximadamente dois meses. Gerard ainda ria quando lembrava do amigo insistindo para explorarem cada andar do Empire State no pouco tempo que tinham juntos. Depois de sua volta para Paris, eles sempre se mandam cartas. Não é a mesma coisa que pessoalmente, a demora é angustiante, mas ajuda a manter o contato, assim como Gee tem feito com Mikey e o resto de sua família.

Naquele momento, os músicos estavam se organizando no palco. Levavam os instrumentos, peças de bateria eram montadas por um homem de cabeça raspada atrapalhadamente; o baixista conferia a afinação enquanto subia no palco, e um rapaz loiro correu pela plateia enquanto levava o microfone apressadamente até o palco. Ele devia ser apenas um técnico de som, pois deixou o palco. Algum membro estava faltando.

Enquanto o show não começava, Jimmy e Gerard pegaram uma garrafa de cerveja cada um, e estavam puxando assunto.

- Tem uma notícia que eu soube sobre esse show que eu acho que vai te animar. - o americano disse. 

- Ah, é? Qual?

- Ao que parece, o vocalista desse show também toca guitarra. E ele veio de Paris, o mesmo lugar que você. Um amigo meu que trabalha com música e nos convidou me contou. - falou.

Um pensamento que Gerard não esperava veio a mente. Ele sabia muito bem quem se encaixaria nessa descrição. Mas não podia ser... O que ele teria vindo fazer em Nova Iorque? O seu relacionamento havia acabado há mais de meio ano, e ele estava devastado para superar. Quando Way estava prestes a se livrar dessa possibilidade, percebeu que sua ideia era completamente real. O garoto baixinho subia ao palco, segurando a guitarra. Frank ajustou o microfone e começou a tocar uma melodia muito conhecida. "She Loves You", composta por Lennon e McCartney, começou a tocar. A voz de Frank era mais cativante do que Gerard se lembrava.

O trio de músicos decidiu focar nas músicas originais da terra onde estavam. Canções como "Like a Rolling Stone" foram o destaque entre o público. Pessoas dançavam e não evitavam de falar alguns palavrões e xingamentos pelo calor do momento. Como haviam outras bandas na fila de apresentações que durariam a noite toda, eles encerraram com uma dedicação para todos os casais da noite. Gerard ainda estava em choque, tentando não demonstrar para Jimmy, que estava curtindo o som. Ele pôde jurar que Frank havia olhado diretamente para sua direção antes de começar a cantar. Mas havia muita gente no local, seria praticamente impossível ser reconhecido, segundo sua linha de pensamento. 

A música final foi "All My Loving", para retornar o destaque aos Beatles. O refrão final foi tocado, e a primeira apresentação terminou agradando boa parte das pessoas.

- Eu tenho uma confissão a fazer. - Gerard disse a Jimmy. - Eu conheço o guitarrista.

- É sério?! Uau, algumas conexões realmente ultrapassam barreiras. Ou até continentes. - ele riu. - Mas como vocês se conhecem?

Quando Gerard iria abrir parte do jogo com seu colega de apartamento, ele sentiu uma mão em seu ombro. Ele se virou e era Frank. Iero estava parado na sua frente, com um sorriso de leve no rosto. A próxima banda se posicionava no palco.

- Podemos conversar? - perguntou. - Você não tem ideia de como eu estou feliz em te ver.

Gerard soltou alguns grunhidos, estava tão nervoso e surpreso que sua mente não funcionava bem o bastante para formular uma resposta. Ele olhou para Jimmy, que estava ao seu lado.

- Vá nessa. Depois você me conta. - ele se distanciou e procurou grupos de outras pessoas para deixar os dois relativamente a sós, em meio a uma pequena multidão.

- O que você está fazendo aqui?! - foi a primeira coisa que veio falar. Way abriu um sorriso sem se dar conta disso. Seu coração ficou estraçalhado depois que não estavam mais juntos, mas ele não pôde evitar de ficar feliz com sua presença. Depois de tudo, ele ainda o amava, e esse sentimento estava muito claro em seu interior.

- Você não realmente esperava que eu fosse te deixar se aventurar nessa cidade tão interessante sem mim, né? Eu só precisava de um tempo antes de deixar minha vida para trás, e minha mãe precisava de mim. Agora, ela e meus tios estão se dando apoio como nunca antes. Ela percebeu que havia algo entre você e eu. Ela me disse, bem, com as palavras dela. E queria que eu corresse atrás. Então era a hora perfeita para eu vir atrás de você. - ele sorriu em reciprocidade. - Eu não podia ter te falado antes porque sabia que você me esperaria, e talvez perdesse sua oportunidade. Então, eu vou entender se você não quiser ficar comigo. Mas não vou mentir que eu ficaria um pouco chateado se soubesse que me trocou por um americano ou uma americana qualquer.

Gerard riu. Ele sentiu tanta falta desse jeito, desses olhos, dessas palavras, de Frank. 

- É claro que eu quero ficar com você. - disse, e selou seus lábios contra os dele rapidamente. Ninguém percebeu, então os dois estariam seguros. 

- Que ótimo. Bom, com o dinheiro dos shows, eu consegui alugar uma casinha em Nova Jersey, que não é muito longe. Aquele é um lugar bem legal, sabia? Mas tem alguns ratos. Não se ganha muito sendo um músico sem formação completa. Eu estou tentando conseguir uma vaga na universidade aqui, mas nem sempre é tão fácil. - Iero olhou pensativo para o lado. - Enfim, você pode ir morar comigo. Afinal, você é apenas um velho amigo meu. E acho que aquele cara ali não ficaria tão magoado por você estar um pouco distante de suas novas amizades. - ele fez sinal com a cabeça para indicar que se referia a Jimmy. 

- Frank, eu quero. Agora que você está aqui...

- Nada pode nos separar. - Frank completou. 

O que antes era dois estranhos em uma multidão, agora era um casal. O que antes era, para Gerard, um rebelde que despertava sua curiosidade, agora era seu amante para sempre. O que antes era, para Frank, o artista que o fez lembrar como era se sentir vivo, agora era a razão de sua mudança. Aquele era o reencontro mais feliz da vida dos dois. Eles se sentiam completos juntos. E com um futuro inteiro a frente, que cabia apenas a eles decidir.  

1968; frerardWhere stories live. Discover now