Hora de dizer adeus

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No dia anterior, Gerard havia ido direto para a casa de Frank. Era sua responsabilidade apoiá-lo, especialmente em um momento tão difícil. 

Mesmo que não soubesse muito bem como reagir com pessoas de luto, Way esteve lá para abraçá-lo, segurar sua mão e deixar sua cabeça cair sobre o ombro do namorado enquanto chorava. 

Aparentemente, o senhor Iero havia dado uma saída de carro, como normalmente fazia para ir visitar o estabelecimento seu irmão no outro lado de Paris; porém, desta vez, em uma das confusões do trânsito, um motorista alterado por bebida deu a partida no momento errado, fazendo que seu carro acertasse em cheio o assento em que o pai de Frank estava. O desconhecido foi jogado para a frente pela inércia do impacto e também não sobreviveu. Aquilo era tão injusto, e provavelmente o acidente seria noticiado nos jornais, avisando os parisienses para terem mais cuidado com os veículos da cidade naqueles dias.

"Droga, por que coisas assim acontecem?", perguntava-se Way conforme caminhava com Frank para o funeral naquela data. Uma chuva forte caía, o céu estava lotado de nuvens muito escuras e um vento cortante de tão gélido tornavam o ambiente ainda mais mórbido. Era um péssimo dia e contrário ao verão tão esperado após o inverno rigoroso daquele ano na França.

Todos os familiares e amigos próximos de Iero estavam reunidos em torno do caixão ao ar livre, segurando seus guarda-chuvas pretos e lenços brancos perto do rosto. A mãe de Frank estava com um lenço preto com detalhes no tecido em frente ao rosto. Ela havia feito um coque e seu rosto estava extremamente devastado em dor. Way sentia um aperto no peito. Ele deu um passo ao lado de Frank, de modo que seus corpos estavam praticamente encostados, e segurou sua mão discretamente. O rapaz mais novo, o rebelde que havia conhecido em maio daquele ano, mas com quem havia desenvolvido uma conexão inexplicável, parecia tão diferente. Seus olhos estavam escuros e profundos, seu rosto pareciam mais magros e pouco saudáveis. Era quase irreconhecível vê-lo tão cabisbaixo e sério com o smoking totalmente negro que usava. Contudo, Gerard se sentiu confortado ao perceber que ele apertou sua mão em retribuição.

Um padre da Igreja que seus pais costumavam a frequentar se preparou para dizer algumas palavras. Frank havia se distanciado da religião há muitos anos, mas o resto de seus parentes apreciavam muito qualquer tipo de contato com Deus. Independente disso, o garoto preferia acreditar que aquilo traria algum tipo de conforto para seu pai, independente de onde ele estivesse.  

•••

Após o enterro, aqueles mais próximos dos parentes do conhecido estavam na casa para fazer companhia para Frank e sua mãe, Linda, pelo menos até o fim do dia. Afinal, seriam apenas os dois sozinhos, agora.

Gerard estava sentado no sofá da sala, observando o casaco do senhor Iero pendurado no cabideiro do canto do cômodo. Mesmo que ele nunca tivesse conversado de fato com aquele que poderia chamar de sogro (ainda que o próprio não soubesse disso), era extremamente perturbante a forma que a vida de alguém tão importante na vida das pessoas podia acabar de repente. Ele odiava perdas. Sabia que a morte era natural, mas por que havia de ser tão dolorosa para aqueles que ficaram por aqui?

Ele se levantou e encontrou a senhora Iero entrando no cômodo. Seus olhos estavam inchados e vermelhos.

- Olá, Gerard, querido... É muita gentileza sua ter vindo. Você é a pessoa mais importante para estar com Frank agora. E-Eu só tenho o que agradecer por isso. - Ela fungou para impedir as lágrimas.

- É o mínimo que eu podia fazer. Linda, eu sinto tanto... 

- Nós todos sentimos. Ele não merecia isso. Morrer dessa forma. Apenas por estar no lugar errado na hora errada. - A mãe de Frank baixou a cabeça por um momento. - Eu acho melhor você ir falar com meu filho, Gerard. Ele está  no quarto lá em cima. 

- Irei falar com ele. Obrigada. - Ele fez um gesto de despedida e seguiu em direção as escadas.

Chegando lá, Way deu duas batidas na porta. Escutou um "Entre" de uma voz um tanto rouca, e seguiu a ordem.

- Ei... - ele o cumprimentou. 

A única luz do quarto era de um abajur fraco no criado mudo mais próximo. Frank estava deitado de lado em sua cama, com os olhos quase fechados e suas cores verdes com um castanho da cor de amêndoas muito destacada pelo efeito das lágrimas. Naquele momento, mais privado e exposto de vulnerabilidade, Gerard sentia sua dor. Sentia que o via melhor, de uma forma clara e pura. 

- Gee... Você pode... Por favor, você pode deitar comigo? - o mais novo pediu, movendo seu corpo para a borda da cama.

- Claro. - ele falou, um pouco surpreso.

Gerard fez como pedido e deitou na outra borda da cama. Para ficar mais próximo de Frank, ele envolveu seu corpo deitado de lado com seus braços, e aproximou seu rosto da nuca do outro. O rapaz se deixou ser abraçado dessa forma, e puxou o mais velho para perto.

- Você sabia que foi ele que sempre esteve ali para me apoiar na música? Ele sempre gostou da ideia de ter um filho que tocasse rock... Acho que ele estava a frente do tempo dos conservadores da idade dele. - Frank riu. - E, agora, saber que ele se foi... Isso simplesmente me destrói. 

Frank choramingou baixinho, e Gerard sussurrou em seu ouvido para tentar acalmá-lo.

- Não se preocupe, Frank. Eu estou aqui com você, okay? E seu pai sempre se orgulhou de você. Tenho certeza que o que você fizer traria esse mesmo sentimento. 

Iero secou as lágrimas. 

- Gerard, o que é que você queria me falar ontem? Você não pôde terminar de me dizer por causa de... Todo esse transtorno.

- Não é importante agora. Uma coisa sobre a faculdade.

- Me diga. Por favor. Uma distração viria a calhar para a dor passar.

-Bom... - Ele decidiu ceder à insistência de Frank. - Eu desfiz minha matrícula na faculdade. Cansei de continuar naquele lugar se ele irá me limitar. Um artista não deve sacrificar sua criatividade e sua originalidade para tentar ser aprovado ou aceito.

- Isso é... Genial. - Ele sorriu. - Você fez uma ótima escolha. Mas, Gee, você tem alguma ideia do que isso vai mudar?

O mais velho não disse nada de imediato. Nem ele havia conseguido pensar direito sobre o assunto. Sabia que a decisão era verdadeira e de seu coração, mas o "E depois?" tinha muitas respostas que não o agradavam.

- Eu não sei. Talvez seja a hora de eu me redescobrir um pouco. 

- A nossa hora. Juntos. - Frank se ajeitou para olhar para o namorado e o beijou rapidamente, arrancado um sorriso de seu rosto. 

- Sempre juntos. 

1968; frerardDonde viven las historias. Descúbrelo ahora