O jantar

473 66 37
                                    

Mikey sabia a verdade sobre Gerard e Frank. Ou ele sabia o mais próximo disso, porque nem mesmo os dois sabiam o que estava acontecendo entre eles. Depois de confessar os sentimentos que existiam pelas duas partes, era um pouco confuso adivinhar o que deveria ser feito em seguida.

Para completar, os Way tinham uma preocupação maior no momento: eles deveriam ir até a casa dos pais para jantar naquela noite, e eles já haviam perdido preciosos minutos na discussão que, felizmente, acarretou em um bom fim.

Gerard queria que Frank ficasse e fosse com eles até o jantar, mas o rapaz sabia que não era a melhor ideia, especialmente após um dia como aquele. Ele saiu do apartamento e foi até a calçada do prédio para se despedir de Frank.

- Então, está tudo bem entre nós? - Iero se certificou.

- Acho que o melhor que poderia estar, depois de tudo. - Gerard tentou dar um sorriso simpático.

- Isso já é muito bom. - ele respondeu. - Nós nos vemos depois, Gee.

Quando o garoto se virou para ir embora, Way o chamou.

- Frank. - disse, fazendo-o voltar os poucos passos que tinha dado. - Vamos nos encontrar de novo logo. Por favor. - Frank sorriu.

- É claro que vamos. Não seja bobo. - falou. - Amanhã, você me liga. Ou eu te ligo, tanto faz. Boa noite, Gee.

Dessa vez, Iero tomou novamente a iniciativa e deu um beijo rapidamente nos lábios de Gerard, para depois da despedida iniciar a caminhada de volta a casa.

•••

Os irmãos Way pegaram um táxi para ir até a casa dos pais para jantar. Era tarde da noite para comer, mas nenhum dos dois sabia o horário ao certo. Provavelmente, deveria estar perto das dez horas, se não havia passado disso. A residência em que Mikey e Gerard cresceram ficava relativamente longe do apartamento que eles dividiam, perto do centro.

Chegando ao destino, eles desceram do carro e entregaram os trocados de pagamento ao motorista. A entrada da casa dos pais, só então Gerard percebeu, lembrava bastante aquelas da vizinhança de Frank. A porta de entrada era firme e cheia de detalhes na madeira, com uma curta escada levando da calçada até ela. As paredes eram feitas de tijolos avermelhados, e, ainda que a casa não fosse uma das maiores dos quarteirões ao redor, ela tinha três andares. Era possível ver as cortinas brancas das janelas mais altas da rua, e Gerard recordou da época que ali era seu quarto. Não fazia tantos anos, mas parecia que uma eternidade se passou desde quando ele entrou na faculdade de arte e deixou de morar com os pais.

Pela agitação de Paris e de toda a França devido à política e manifestações havia não muito tempo, os acontecimentos e distrações na vida pessoal de cada um, nenhum dos irmãos conseguiu cumprir o papel de bom filho e visitar os pais nos últimos dias. Mikey, em especial, sentia uma culpa interna por aquilo.

Os Way foram até a porta e tocaram a campainha. Eles ouviriam o toque do outro lado e, pouco tempo depois, seu pai os atendeu.

- Donna, eles estão aqui! - gritou para a esposa, no outro cômodo. - Entrem, rapazes! Faz muito tempo que não nos vemos.

Ambos os jovens passaram pela porta e olharam ao redor. A grande sala de estar, com um tapete marrom logo na entrada, várias fotos de família penduradas na parede, um sofá de couro duas poltronas ao seu lado estava do mesmo jeito que da última vez, trazendo várias memórias. A primeira coisa que vinha à mente de Gerard era um Natal de quando, se o seu achismo estava correto, ele tinha 9 anos e, Mikey, 6. Ele ganhara uma bicicleta verde no dia, exatamente como havia pedido, e lembrou que dava pulos de alegria quando seu pai trouxera o presente para ele depois da ceia. A lembrança lhe causou um sorriso.

- Ah, crianças... - sua mãe chegou, correndo para abraçá-los, e fez questão de dar um beijo na bochecha de cada um. - Eu já estava pensando que vocês desistiram de vir, pela demora. O que aconteceu?

Mikey e Gerard se entreolharam.

- Nós tivemos uns atrasos. Só isso. - o mais novo falou, disfarçando.

- Bom, vamos ter tempo para conversar sobre o que tem acontecido com vocês, mas agora preciso que vocês vão para a mesa e comam enquanto a comida não esfriou. - ela disse, fazendo sinal para irem agora.

Indo até o outro cômodo, um pequeno o bastante para ser destinado apenas à mesa de jantar e ao pomposo lustre sobre ela, Gerard e Mikey puxaram as cadeiras uma ao lado da outra para se sentarem. A comida já estava na mesa. Era cassoulet de frango, uma das favoritas do mais velho, e apenas o cheiro já o fez ficar com água na boca.

Não demorou muito, seus pais chegaram e em seguida todos se serviram. Donald Way logo se lembrou de buscar uma garrafa de um de seus vinhos prediletos, aquela do ano de 57, para celebrar a vinda dos garotos.

- Então, como está a faculdade, Mikey? - ele perguntou, servindo as taças.

- Está ótima. - Mikey disse. Era claro que tudo estava ótimo, ele era o melhor estudante do curso de direito. Qualquer um que o conhecesse já poderia imaginar seu nome citado em jornais do futuro sobre tal julgamento que contou com a presença do habilidoso advogado. - Tenho tido muitas novas matérias esse semestre.

- E a sua, Gerard? - seu pai perguntou.

- Está ótima também. - Gerard mentiu, colocando mais uma garfada na boca para evitar outras questões.

- E as moças interessantes, rapazes? A mãe de vocês não pode envelhecer tanto antes de virar avó. - os irmãos sabiam que, em algum ponto, sua mãe faria aquela pergunta. Não houve resposta por alguns segundos.

- Eu não sei se estamos precisando de mulheres agora. - Gerard se manifestou, e Mikey o encarou pois sabia a indireta que havia passado. Sabia também que os pais jamais teriam a abertura de pensamento para entender o real significado por trás da frase.

- Não, não. Um homem sempre vai precisar de uma mulher. São como duas peças de quebra-cabeça que se completam. - o pai falou, dando uma risada e olhando com um sorriso para a esposa.

- Talvez não... - disse Gerard, e o mais novo já se preparou para o que ele poderia dizer. - Um homem, às vezes, pode precisar apenas de um amigo.

Ninguém soube o que dizer de imediato, pois apenas Mikey e Gee sabiam do que ele realmente estava falando.

- Mas um amor é muito mais profundo que uma amizade, filho. - sua mãe falou, fingindo ter entendido. - Algum dia você irá entender, a mulher certa está aí fora para você.

Os quatro voltaram a comer e falar sobre assuntos cotidianos pelo resto da noite, até perceberem que o tempo havia passado e que os irmãos deveriam voltar para a casa, pois teriam a manhã seguinte lotada pelas aulas das suas respectivas faculdades.

1968; frerardWo Geschichten leben. Entdecke jetzt