Promessas Antigas - parte I

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Foi na Londres de 1700, capital do ainda reino da Inglaterra, e sob o governo da monarca Ana. Cidade em que a Ordem do Dragão tentou encravar suas garras.  

Os seguidores de Vlad Drácula pouco a pouco estenderam sua influência pelas grandes capitais da Europa, fosse  transformando nobres em vampiros, fosse sujeitando os poderosos aos seus objetivos. Mas Londres se mostrou um caso a parte. Por meses vampiros foram enviados para a cidade, apenas para encontrarem nela a morte. Eles se instalavam, iniciavam um trabalho, mas em pouco tempo desapareciam. Adam estava cansado daquilo. Se mesmo vampiros experientes sumiam em Londres, era hora do filho do Drácula entrar em ação. 

Ele era paciente, preparando terreno através do seu mortal de maior confiança: Willian Connor. Foi esse o homem que sondou a cidade e iniciou os negócios financeiros antes da aparição pública de seu patrão estrangeiro. Connor era inglês e tinha contatos. Graças a ele, Adam por fim foi apresentado a sociedade inglesa, como um intelectual e homem de negócios. 

Mas enquanto o mortal agia as claras, o imortal agia nas sombras. Adam vagava pela noite, saltando por telhados e escondendo a face enquanto sondava o terreno e vigiava seus alvos: vampiros. A Ordem não deixou de enviar vampiros a cidade, assim como não informou a nenhum deles sobre a presença de Adam Tepes. De modo que ele pode acompanhar os passos de sua isca a distância, na expectativa de caçadores ou lobos. Foram poucas noites até a morte do infeliz, mas não da forma que ele esperava. Morto em seu esconderijo, enquanto dormia. Estaca no peito e decapitação. 

Pouco depois, outro vampiro, e o mesmo destino. Não houve confronto com caçadores, assim como nenhum sinal de lobisomens. Também não chamaram atenção demais... ainda assim, os inimigos sabiam onde encontrá-los. Só havia uma explicação, o vampiro sabia. Bruxaria! 

"A Bruxa de Prata", foi esse o nome que sua vítima falou, antes de morrer. Londres era o lar de uma bruxa poderosa, capaz de rastrear a presença de mortos-vivos e enviar homens para matá-los quando mais vulneráveis. Infelizmente para ela, Adam era capaz de suprimir sua essência imortal, e dessa forma, aproximar-se sem riscos. 

— Me chamo Adam Turner, e é uma honra conhecê-la, senhorita Winnicott — disse um vampiro vestido como um inglês da época, incluindo a longa peruca branca, assim como o casaco aberto com botões e babados nas mangas.  

— A honra é toda minha, senhor Turner — respondeu Alice Winnicott, ao ter a mão beijada por ele.  

Marie era uma jovem aristocrata um tanto incomum. Não se guiava pela moda inglesa ou francesa, com seus vestidos de difícil movimentação e grande volume. Ao invés disso, usava vestidos leves e práticos, de design e cores que se destacavam para a época. Mantinha o cabelo preso em um penteado simples ou mesmo solto, e seu exotismo aliado a beleza e carisma natural, a tornavam uma figura impossível de se ignorar. 

— Soube que a senhorita coordena um núcleo de estudos filosóficos e literários, estou correto? — inquiriu Turner, durante a reunião da alta sociedade a que foi convidado. 

— Sou apaixonada pelo ser humano, senhor Turner. Artes, filosofia, literatura... todas manifestações humanas que me fascinam.   

Adam sorriu, intrigado com a mulher a sua frente. 

— Espero que meu pedido não soe inoportuno, mas gostaria de tomar parte nessas reuniões — pediu ele, vendo nisso a oportunidade de ter acesso livre a bruxa. — Seria possível, senhorita? 

— Nossas portas estão abertas para todos que desejem ir além do senso-comum. Sinta-se convidado. 

E assim o imortal infiltrou-se naquelas reuniões semanais, onde a elite intelectual londrina debatia sobre Platão, Aristóteles ou os Pais da Igreja. Sobre Dante e Maquiavel, Descartes e Hume, artes e música. Alice Winnicott não apenas sediava as reuniões em sua casa, como destacava-se como a mente mais brilhante dentre os membros.  

Filhos da NoiteWhere stories live. Discover now