Roda em movimento - parte II

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Manhã seguinte, Escola Santa Margareth.

Hora do intervalo, e os alunos se espalhavam pelo pátio da escola e demais dependências. Andy se sentou em um canto isolado, fones de ouvido o tirando do tédio solitário de sua realidade escolar. Ele estava sozinho, sempre fora sozinho. E não podia pensar em mudar logo agora, quando descobriu ser um monstro, uma besta selvagem capaz de matar da forma mais brutal que alguém pudesse imaginar.

O garoto sempre foi impulsivo, reagindo sem medir consequências. Transformando frustração e vergonha em explosões de violência. Os sermões da mãe, os conselhos do treinador da antiga academia e as dicas do Jimmy, ele buscava usar de tudo isso para manter a fera sob controle. Mas no fundo sabia que ela não estava realmente domada, apenas presa por uma frágil e velha corrente. Mas isso serviria. Ao menos por enquanto.

Os outros alunos já haviam desistido de puxar assunto com o novato, após ele ignorar qualquer tentativa deles de aproximação.

— Não tô interessado — repetiu para qualquer um que iniciou uma conversa, e normalmente foi atendido.

Na única vez em que não foi, em que a dupla de atletas, maiores e mais populares que ele, insistiu em tirar satisfações na parte mais isolada da escola, seus punhos logo os fizeram mudar de ideia.

— Falem com alguém sobre isso, e não deixo um dente na boca podre de vocês pra contar história — disse ele para os rapazes caídos, assustados, com sangue na boca e dentes faltando.

Mas isso já fazia alguns dias, e naquela manhã ele se limitava a observar os grupos de garotas reunidas por lá, todas com o uniforme escolar padrão (blusa social e saia). Examinava as curvas e o "tipo" provável, anotando no celular sua importante análise que levaria a seleção de um possível alvo. Quatro delas conversavam próximas ao portão, a mais alta tinha cachos afro volumosos e traços de modelo. Usava óculos e parecia ser a líder do grupo. Uma dupla de irmãs sentadas competiam em tamanho de seios, as duas acima do peso e de cabelos castanhos, uma com eles longos e cacheados, a outra com eles curtos e alisados. Por último, uma garota baixinha, de pé e afastada, muito branca e de franja, sem nenhum atributo físico que lhe chamasse atenção.

Andy resumiu o grupo em: "patricinha-gata", "tetudas-gordinhas" e "tábua-branquela". Nenhuma que fosse seu tipo. Enquanto procurava outras garotas para catalogar, a notou. Afastada das outras, no extremo oposto dele e contrastando com as demais garotas, uma jovem de uniforme amarrotado balançava a cabeça ao som de música. Ele sorriu ao reconhecer de quem se tratava: Mandy Duncan, a garçonete-loba.

Ela estava deitada no banco, de olhos fechados enquanto ouvia música alta. Logo ficando alerta por conta de um pé cutucando sua bunda.

— E aí, Hello Kitty — provocou ele, sorriso de quem pouco ligava se ela não queria ser vista com ele na escola.

Ela aproveitou a posição para dar um chute na barriga do garoto, com força. Ele sentiu a dor e arriou, levando a mão ao local.

—... e aí, Scooby Doo — respondeu, irritada.

Mandy retirou os fones, e se sentou. Ele sentando ao lado e massageando a região dolorida. Sem encarar a garota e meio sem jeito, perguntou por fim:

— Qual o lance com vampiros?

Ela pareceu surpresa com a pergunta, inocente sobre o convite que o garoto rejeitou para entrar na matilha, ou sequer sobre o sequestro dele. Um pedido que Andy fez ao Jimmy, assim que voltou. Então questionou:

— Encontrou algum, foi?

Ele deu um peteleco no nariz dela, que soltou um gritinho, levando as mãos ao rosto.

Filhos da NoiteWhere stories live. Discover now