Capítulo 8

2K 265 10
                                    

POV Inês

Quando chego, encontro a casa cheia. Meus irmãos casados vieram todos para jantar.

- Titia Inês, que saudade. Deixa eu te dá bejo – minha sobrinha Lívia tem quase 4 anos e é a princesinha mais linda e carinhosa que existe – Olha meu vestido novo, não tô bonita?

- Está encantadora, pequena. Uma verdadeira princesa.

- Meu papai Leando que me deu.

- E ela não tirou mais – Joana me cumprimenta. Sua barriga de 7 meses está redonda e logo Lucas chega para nos alegrar ainda mais.

- Como você está, irmã? Tem se alimentado bem, repousado?

- Chega a Dra. Andréia e seu questionário... Estou bem, apenas ansiosa para ver o rostinho de meu bebê.

- O que acha, cunhada? O bebê nasce logo? Pergunto para a médica da família, casada com Manoel.

- Em algumas semanas teremos nosso príncipe. Joana está muito bem, não se preocupe.

- E você? Ainda não se decidiu a ter um bebezinho?

- Manoel e eu estamos planejando para o próximo ano.

- Não podem demorá muito. Os pequenos precisam de amiguinhos para brincá. E eu tô véia e quero vê eles todos antes de morrê – minha avó sempre colocando pressa, ora para casar, ora para ter filhos.

- Deixa disso, vovó Severina, a senhora é muito jovem – Larissa, casada com meu irmão José Carlos, abraça minha avó, e é retribuída.

- O Sr. Magalhães que o diga. É forró de segunda à segunda – Toninho, meu irmão mais novo com 13 anos, não perde a oportunidade de mexer com vovó.

- Mas vô te dá um cascudo, moleque! Sempre de patuscada comigo. Eu vô na igreja, não no forró.

- Mas também gosta de um arrasta-pé, não negue, D Severina. – JC diz enquanto se afasta rápido para não levar um cascudo também.

- Deixem de buli com Mãinha. Vamos jantá.

- A comida já está pronta, podem fazer seus pratos – minha mãe vem da cozinha com a última travessa e coloca na mesa.

O clima é descontraído e feliz. O pequeno Tiago, filho de Larissa e JC, nos diverte com seu andar cambaleante de 1 ano de idade e suas tentativas de conversa. Lívia não cansa de mostrar um novo passo de dança que imitou do desenho animado e em girar a roda de seu vestidinho.

Apenas Edmilson participa pouco. Sempre foi o mais quieto, mas desde que a namorada morreu de leucemia há 2 anos, se fechou ainda mais. Ri apenas silenciosamente, e fala pouco. Após seu falecimento, ele começou a pintar quadros. No início, era só dor que emanava de suas pinturas, mas com o tempo, foi diminuindo, o que nos tranquiliza um pouco. Fez acompanhamento com uma psicoterapeuta e já recebeu alta. Ainda não é de todo alegre, mas está melhorando.

Pouco antes de me deitar, recebo uma ligação de meu amigo Luís.

- Boa noite, Inês. Tudo bem?

- Sim, e você?

- Daquele jeito... Kátia está saindo com um cara que não devia.

- Eu também não gosto dele, mas ela me escuta?

- Por que não consigo deixar de gostar dela, Inês? Estou cansado de sofrer por quem não me quer.

- Já tentou reparar em outra garota? Quem sabe sair com alguma... – pobre Luís, esse amor não correspondido se arrasta por anos.

- Tem uma menina na minha sala. Sei que está interessada em mim, mas nunca cogitei convidá-la para sair. Não sei se consigo.

- Eu sou igual a você, então não posso falar nada. Só acho que não devia ter escolhido a mesma universidade que a Kátia, sendo que tinha melhores opções.

- Queria ficar perto dela. Mas hoje, me arrependo.

- Vou dar mais um toque nela, mas não garanto – não há mais nada que possa fazer, mas parte meu coração ver seu sofrimento.

- Deixa quieto. Ela sabe que gosto dela, tem inclusive me evitado por conta disto. Vou desligar agora. Obrigada por me ouvir, precisava desabafar.

- Conte sempre comigo. Boa noite.

Na manhã seguinte, volto à padaria de minha mãe e seleciono várias unidades de iguarias, para que Eduardo prove uma a uma e me diga do que são. Não desistirei tão fácil de fazê-lo perceber que a vida não se resume no que podemos ver.

Encontro-o ainda na cama, mas já se levantando. Escolho uma roupa em seu closet e lhe entrego.

- Minhas combinações deviam estar horríveis, pois agora me entrega as peças antes que eu possa escolher.

- Só uma ajudinha, nada demais. Esperarei aqui para refazer sua bandagem, como todas as manhãs.

- Volto logo – me diz enquanto tateia em direção ao banheiro.

Arrumo seu quarto enquanto está no banho. Há muito material sobre música na escrivaninha e no piano elétrico encostado em uma das paredes. Numa das salas da casa, há também um de cauda. Tomara que possa vê-lo tocar um dia, que ele não desista sem lutar.

Quando termino meus cuidados com seus olhos, levo-o até a sala de jantar.

- Eduardo, trouxe algumas delícias para você provar. Prefere começar pelos salgados e deixar os doces como sobremesa do almoço, ou mesclo agora?

- Podem ser só os salgados e apenas um doce no final.

- Prove este. Do que é? – coloco em sua boca um pedaço de mini quiche de alho poró.

- Não sei, mas é delicioso. Parece algum vegetal, mas não conheço.

- E este?

- Folhado de presunto e queijo. Está incrível, quero mais.

Depois de uma sequência de testes, com ele acertando a maioria, lhe ofereço um bem casado e ele não decepciona.

- Este eu nunca erraria, é meu favorito. Um só é pouco, aliás.

Terminando de comer, saímos para nosso passeio de todos os dias. Porém, hoje pegamos um taxi para ir mais longe, até um grande parque com bastante área verde e focamos no som dos pássaros.

- Este é fácil, um bem-te-vi.

- Ouviu este? Nem eu sei qual é.

- Também não – rimos os dois de nosso desconhecimento e mudamos para outros tipos de sons.

- Uma criança andando de triciclo.

- Dois meninos jogando futebol.

Voltamos a tempo de terminar de preparar o almoço, que já tinha deixado adiantado antes de sairmos.

Hoje nos divertimos muito, mesmo que ele tente esconder. Será que conseguirei ajudá-lo?

Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série Sonhosحيث تعيش القصص. اكتشف الآن