Capítulo 21

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POV Eduardo

Estou destruído. Ficar sem ela é como voltar à escuridão. Tudo perdeu a cor e o sabor. Mas é temporário, apenas até descobrir o autor das ameaças. Mas será que ela me perdoará? Entenderá meus motivos?

Meu pai estranha meu mutismo, há dias que sempre conversamos após o jantar, mas hoje nem comida tem.

- O que aconteceu, filho?

- Terminei com a Inês. Deixei ela pensar que estou traindo-a.

- Mas por quê? É louco por ela!

- Ela é meu anjo, minha vida, pai. Mas as cartas e telefonemas estão cada vez mais intensos, ameaçando agora a ela e tenho medo.

- Entendo, quer mantê-la segura. Mas precisava feri-la?

- Tentei ficar distante, mas não foi suficiente. Me desesperei.

- Tenho fé que logo a polícia encontrará esse criminoso.

- Tomara, papai, tomara. Não posso ficar longe da minha Inês.

Faz 3 dias que não vejo meu anjo e minha vida está escura e triste. Nem tocar tenho vontade, nada tem graça sem minha menina.

Áurea continua com suas insinuações e tentativas de sedução. Finjo que não noto, não quero interromper o tratamento, mas acho que precisarei encontrar uma nova fisioterapeuta.

Me esforço para tirar Inês de meus pensamentos. Preciso preparar as minhas aulas, pois logo se inicia o período letivo. Terei várias turmas, em níveis diferentes de aprendizado. Estava animado, mas agora...

Gian me liga no final do dia e pede que vá até a delegacia. Me encho da esperança e corro para lá.

- Bom tarde, meu amigo. Sente-se.

- Descobriram o autor das ameaças?

- Ainda não – deixo meus ombros caírem em desânimo – Mas posso assegurar que o autor das cartas não é da família do motorista. Investigamos todos e nada indica que sejam eles. Estão devastados pela perda, mas têm consciência do erro do rapaz.

- O que faremos então?

- Continuaremos a investigar. Te chamei para perguntar se não lembrou de mais alguém que possa te querer mal.

- Não lembro de ninguém. A mãe de Mauro me disse que a namorada dele está muito revoltada com sua morte, mas já foi explicado a ela que não tive culpa.

- Irei averiguar, de qualquer forma.

- E a Inês? Mantêm a vigilância sobre ela?

- Não o tempo todo, mas uma viatura passa periodicamente pela padaria e sua casa. Estamos fazendo o que podemos.

- Tenho medo, Gian.

- Acho que esta é a intenção do ameaçador. Talvez queira apenas te manter em alerta, sempre preocupado.

- Está conseguindo, nem durmo mais de nervoso.

- Qualquer novidade, te aviso.

- Obrigado, meu amigo.

Quando volto para casa, encontro Edmilson e Toninho me esperando, com uma caixa a seus pés.

- Oi, que surpresa ver vocês.

- Oi. Inês pediu para te trazer estas coisas – o maior responde.

- O que é?

- Não sei, mas ela estava chorando quando me entregou. Por que magoou minha irmã?

- Nunca quis magoá-la, um dia ela entenderá meus motivos. Mas te digo, Edmilson, eu a amo.

- Se amasse, não faria ela chorar. O que eu não daria pela chance que você tem...

- Não posso explicar, mas eu dia provarei que sou sincero. Mas, por enquanto, é melhor que fique como está.

- Inês é a melhor pessoa que conheço. Não deve sofrer.

- Eu sei, Toninho, me desculpe.

- Só se fizer ela sorrir novamente. Se gosta dela, cuide.

- É o que estou fazendo.

- Vamos, Toninho. E você, Eduardo, pense bem no que faz.

- Obrigado meninos.

Levo a caixa para meu quarto e sinto meu coração quebrar ao encontrar o sapinho. Sei como ela se apegou a ele, sempre me dizia que dormia abraçada com o bichinho de pelúcia. Há também uma blusa que lhe dei, uma jaqueta que emprestei e alguns bilhetes. Ela quer me riscar de sua vida.

Deito-me com o sapinho e o aperto forte. Me permito chorar de saudade de meu anjo. Durmo e sonho que estou tocando num teatro lotado, mas ninguém ouve. Falo e não escutam. Tudo é cinza e frio. Inês está em meio à plateia, a única com cor, mas me dá as costas e vai embora. Corro atrás, sinto seu perfume, porém não a alcanço. Acordo angustiado e não durmo mais.

Recebo outra carta logo pela manhã:

"Está fazendo a menina sofrer à toa. Sei que não estava com a fisioterapeuta. Mas a pobre Inês acredita. Pobrezinha."

Como esta pessoa pode saber tanto sobre nós? Estamos sendo vigiados todo o tempo? É assustador. Minha vontade é ficar plantado em frente a padaria, mas posso piorar a situação assim. Mas como proteger meu anjo?

Passo um dia horrível, não consigo me concentrar em nada e Áurea reclama durante nossa sessão.

- Está muito distraído hoje. Parece nem me notar – faz um beicinho e me olha sedutora. Canso-me desta situação.

- Chega, Áurea. Acho melhor não voltar mais. Obrigado pelos seus serviços, mas procurarei outro profissional.

- Melhor para mim. Sem o empecilho da ética, posso dizer que estou muito interessada em você. Já que não está mais com aquela sonsa, pode ficar comigo. Não se arrependerá – se cola em mim, e me afasto.

- Não fale assim da Inês. Ela terminou comigo por achar que eu e você estamos juntos.

- Mas é muito bobinha mesmo... Não deve confiar nada em você, se nem precisei dizer nada, apenas insinuar. Ela fez suas próprias deduções.

- Como assim. O que disse para ela?

-Nada, apenas deixei ela pensar que estamos juntos e ela acreditou. Não quer descobrir como seria nós dois?

- Vou embora – me desvencilho dela e pego minhas coisas. Essa garota tem uma ideia de ética muito diferente da minha.

- Não pode reclamar por eu lutar pelo que quero. Se sua preciosa Inês não faz o mesmo, não pode me culpar.

- Ela se valoriza, apenas isso. E eu a amo ainda mais por isso.

Saio rápido antes que perca a cabeça com aquela garota oferecida e seja grosseiro. Chego em casa a tempo de ouvir o telefone tocando.

- Para não dizer que sou má pessoa, te darei a chance de se despedir. Mas seja rápido.

Meu coração gela. A voz do maluco que me persegue é inconfundível, apesar de não saber se é homem ou mulher. Ligo para Inês, mas ela não atende. Olho para o relógio e vejo que está no horário dela sair da padaria. Pego as chaves do carro e corro para a garagem. Tenho que chegar a tempo.


Será que ele chegará a tempo? O que estão achando do suspense? 

Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora