Capítulo 15

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POV Eduardo

Recebo mais uma carta, desta vez com os dizeres "Farei você sofrer como eu", repetidos da mesma forma que na anterior. Olho novamente a câmera e vejo outro garotinho fazendo a entrega.

Procuro meu pai para pegar a primeira carta e com todas em mãos, ligo para Gian, meu amigo policial.

- E aí, cara, como você está? Já recuperado?

- Estou melhorando, Gian. Mas preciso de sua ajuda. Recebi 3 cartas anônimas com ameaças – leio para ele o conteúdo e conto tudo o que descobri nas gravações.

- Não imagina quem pode ser o autor?

- Não sei, não lembro de fazer mal a ninguém. Será possível ser algum familiar do rapaz morto no acidente?

- Ficou devidamente esclarecido que ele foi o causador, já que estava bêbado e ultrapassou o sinal vermelho, mas às vezes a dor do luto é tanta que desorienta.

- O que devo fazer?

- Tome cuidado. Já reforçou a segurança da casa?

- Sim, meu pai providenciou.

- Me procure amanhã no distrito. Faremos um boletim de ocorrência e irei visitar a família do motorista. Mais que isso, fica difícil, mas investigaremos.

- Obrigada, Gian, valeu. Te encontro amanhã às 9h, pode ser?

- Claro, te espero. E não vacila, seja cuidadoso.

Desligo, tomo banho e espero minha namorada chegar. Ela virá me ensinar a cozinhar. Já comprei os ingredientes que ela pediu e hoje faremos rocambole de carne moída e almondegas.

Toca a campainha e é ela. Dou um beijo rápido e olho para todos os lados, para ver se há algo suspeito.

- Boa noite, amor. Tudo bem?

- Boa noite, anjo. Recebi outra carta com ameaças, agora falando não de morte, mas de sofrimento. Estou preocupado com meu pai e com você.

- Não fique paranoico. Tome cuidado, mas não deixe de viver. Vamos para a cozinha?

- Sim, tenho tudo o que pediu.

- Te ensinarei uma massa que serve para bolo de carne, almôndegas, hambúrguer caseiro. Você pode congelar já no formato desejado e ter sempre à disposição.

- Gostei. Qual o primeiro passo?

- Pegue uma tigela grande. Nela colocaremos a carne moída, ovo, pão umedecido, farinha de rosca, farinha de trigo, sal e pimenta. Também acrescentaremos cebola, tomate, alho e cheiro verde picadinhos. Misture tudo e pronto.

- Mas e as quantidades?

- Vou deixar tudo por escrito. Agora, mãos à massa.

Escolhemos assar o rocambole de carne hoje e enrolar bolinhas para congelar para outro dia. O recheamos com presunto, queijo e ovos cozidos. Como ligaremos o forno, Inês aproveita para me ensinar a fazer um bolo de cenoura.

Tudo fica delicioso, meu pai elogia muito e repete 2 vezes. Ajudo com a louça, a cada dia meus movimentos estão mais normais e a dor é menor em minhas mãos.

Ela insiste em ir embora sozinha de táxi, mas só fico tranquilo quando me liga dizendo que já chegou em casa.

Falo com Gian e as cartas ficam arquivadas na delegacia. De lá, vou para minha sessão de fisioterapia. Áurea força um pouco mais, dói, mas vejo os resultados diariamente.

Inês não pode ir comigo hoje e aproveito para comprar seu presente de Natal. Escolho uma corrente delicada de ouro branco com um pingente de anjo. Esperarei por ela para escolher os das crianças.

Passo na empresa para convidar meu pai para almoçar comigo. Estou tentando me aproximar mais dele. Inês tem razão, não posso guardar mágoas e perder seu convívio.

D. Mercedes me recebe com um lindo sorriso. Apesar de mais nova que meu pai, a diferença não é tão grande para dar margem a piadas e gosto da ideia de tê-la na família. Basta meu pai criar coragem e se declarar.

- Eduardo, você por aqui. Aconteceu alguma coisa?

- Não, pai, só passei para convidá-lo para almoçar – sua surpresa é visível.

- Sim, claro, avisarei Mercedes que estou saindo.

Nosso almoço é agradável, conversamos como há muito tempo não fazíamos. Contei de minha visita à delegacia e das providências do Gian.

- Quero que tome cuidado também, pai. Podem querer feri-lo para me atingir.

- Tomarei, meu filho, fique tranquilo. O que fez para se precaver?

- Estou mudando minhas rotas, evitando rotinas. Falarei com Inês sobre tomar estas atitudes também.

- Faz bem, não vamos facilitar.

- Mudando de assunto, pai, já comprou o presente da D. Mercedes? – ele engole em seco e fica vermelho. É divertido observar seu embaraço.

- A empresa dá uma cesta natalina vantajosa para os funcionários todos os anos e sempre divido com minha secretária os brindes que recebo.

- Não é disto que estou falando. Quando vai admitir que sente algo por ela?

- Não se incomoda? – ele nem tenta negar.

- Claro que não, pai. O senhor tem direito de refazer sua vida. Mamãe aprovaria e eu também.

- Será que ela me aceitará? – parece um menino inseguro e não um homem maduro.

- Acredito que sim, é nítido o interesse que tem pelo senhor. Seus cuidados e zelo vão muito além de suas atribuições como secretária.

- Está certo, não vou perder mais tempo. Aproveitarei as festas de fim de ano para tomar uma atitude. Comprarei um presente para ela hoje mesmo.

- Gostei de ver, boa sorte.

Chego em casa e treino no piano por alguns minutos. O telefone toca e quando atendo, ouço uma voz abafada, que não consigo distinguir se é masculina ou feminina.

- Não adianta falar com a polícia. Não poderá me deter. Te farei sofrer como eu.

A ligação é cortada. Um frio corre por meu interior. As ameaças estão piorando. Gian precisa encontrar este maluco ou não terei paz.

E se quiser atacar Inês para me ferir? Não posso permitir. Será que é bom mantê-la afastada de mim até tudo se resolver?

Vou até sua casa e ela não está. Lembro que ajuda na padaria e me encaminho para lá. O local está repleto de clientes e as vitrines apresentam todos os tipos de delícias. Ela me leva até uma sala nos fundos, onde poderemos ter privacidade.

- Que surpresa, sapinho. Tudo bem?

- Anjo, necessito que faça algo por mim.

- Claro, pode falar.

- Preciso que fique longe de mim por um tempo.

- Está terminando comigo? – o olhar magoado me corta o coração.

- Não, não é isso. Mas recebi uma ligação com ameaças. Temo que este lunático te faça mal para me atingir.

- Não vou me tornar refém do medo. Não aceito ficar longe de você por este motivo.

- Também não quero, mas tenho medo. Te amo, anjinho.

- Vamos ficar bem, agora me dê um beijo que me assustou. Te amo, sapinho.

Será que estou fazendo o certo? Não seria melhor terminar tudo e mantê-la segura?


O que ele deve fazer? Comentem. Obrigada

Ensinando a sonhar - Livro 3 da Série SonhosKde žijí příběhy. Začni objevovat