II

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>>Ponto de vista de Elise Clark<<

"Então...", começou Skye, encerrando o tour pelo grande avião. "O que achou?"

"Maravilhoso," respondi sonhadoramente, olhando ao redor. Uma futurística mesa holográfica se encontrava a alguns passos de distância de mim. Os agentes Fitz-Simmons rodavam as imagens em 3D, sensíveis ao toque, moldando os objetos virtuais ao que eles bem entendessem.

"O avião ou...", ela sorriu, deixando a pergunta suspensa no ar. Então eu o vi: do outro lado do holograma, Ward, o meu aparentemente novo supervisor, encontrava-se de pé... atento a limpeza de sua pistola.

"Oh, eu...", tropecei nas palavras, morrendo de tanto embaraçamento. "Eu não vi que ele estava ali," expliquei, procurando os olhos de minha colega de equipe - que não pareceu engolir a minha resposta.

"Sei," ela arqueou as sobrancelhas. "Não é nenhum crime, sabia?"

Abracei o meu próprio corpo, transferindo o peso de uma perna para a outra. "Não sei do que está falando."

Ela abriu um sorriso maligno. "Aham. Minta pra si mesma o quanto quiser. Ele é um pedaço de mau caminho e eu sei disso. Olha só para aqueles braços..."

Eu me esforcei para não voltar a olhar para lá... mas não precisei. Ele estava se aproximando.

"Acabou o tour?", ele questionou, sério.

"Sim," respondeu Skye, dando espaço para ele. "Ela é toda sua," adicionou, dando uma piscadela para o Ward - que se resumiu a assisti-la se afastar. Expressão ilegível, até que ele resolveu repousar o olhar em mim.

"Temos muito o que treinar... mas, antes, eu quero saber o que você consegue fazer," anunciou, em um tom completamente formal... muito diferente de alguns minutos antes.

"Ok," me limitei a dizer, estudando o seu rosto. Era difícil deduzir o que ele pensava.

"Ok," repetiu Ward, me dando as costas. "Acompanhe-me, por favor."


****

Eu o segui em silêncio pelos corredores. Ward me lançou um olhar por sobre o ombro uma única vez, somente quando chegou diante da porta da sala de treino. Ele a abriu e a segurou, fazendo um gesto com a mão livre para que eu entrasse na frente. Eu o fiz, olhando ao redor: a sala não era tão equipada como no avião de Fury, continha apenas um saco de pancadas, alguns tatames e uma dúzia de aparatos de ginástica (pesos e afins).

Ward fechou a porta e se posicionou ao meu lado. Seu semblante ainda nublado, ilegível. "Pode tirar os coturnos e o colete," ele instruiu de modo autômato, apontando vagamente em minha direção. "Se quiser trocar de roupa, tem um trocador logo ali," indicou com o queixo, repousando as mãos na cintura.

Eu fiz um sinal negativo com a cabeça, retirando o colete. Ele acompanhava os meus gestos com o olhar, o que me causava certo desconforto. Eventualmente, nossos olhares se cruzaram, então ele tratou de desviar o foco para o saco de pancadas, soltando um suspiro. Notando sua impaciência, tratei de tirar os coturnos e as meias com maior rapidez, posicionando-me diante dele ao concluir a tarefa. "Pronta," anunciei, recobrando sua atenção.

Ward se pôs a me fitar, estudando-me em silêncio... para só depois assentir, assumindo uma postura de combate: pernas afastadas, joelhos flexionados, punhos erguidos. "Mostre-me do que é capaz," ele pediu, me lançando uma piscadela.

Deuses...

Eu espelhei a postura dele, me resumindo a assentir como resposta. Meu primeiro golpe foi defendido por ele com o seu antebraço. Sem hesitar, lancei um chute mirando o seu joelho, mas ele também bloqueou. Aproveitando que estava um pouco mais abaixado por ter parado o meu chute, eu fechei o punho e tentei acertá-lo no rosto: Ward também se defendeu, arqueando de leve as sobrancelhas. Expressão de surpresa que durou pouco, pois ele logo tratou de encobrir.

A rapidez era uma das coisas que Romanoff me ensinara: 'Nunca dê tempo para o seu inimigo pensar,' ela costumava dizer.

Ward, notando minha dispersão, tentou um golpe: passou a perna por trás das minhas, me dando uma rasteira.

Caí sentada sobre o tatame.

Ele franziu o cenho, oferecendo a mão para me ajudar. "Não se distraia."

"Pode deixar," respondi, aceitando seu apoio para me levantar. E eu já estava de pé, pronta pra continuar, exceto que nós dois estávamos perdidos... um no olhar do outro. Nossas mãos ainda unidas. A proxêmica um pouquinho maior do que eu esperava: mal havia espaço entre nós dois.

Até que algo deu um clique nele: Ward balançou a cabeça, liberando-me e dando dois passos pra trás, retomando sua posição de combate. "Vamos de novo," disse, sua voz não deixando transparecer o abalo que ele parecia ter sentido segundos antes.

"Ok," concordei, contendo-me para não comentar nada a respeito do que tinha acabado de acontecer.


****

Ward e eu trocamos golpes, pra valer, visto que ele insistira em 'fazer direito'. Em dado momento, eu me vi encurralando-o contra a parede, depois de ter mandado um chute em seu abdômen - que fizera ele bater com as costas contra a superfície metálica. Aproveitando que ele tinha baixado a guarda, eu mandei um soco em seu rosto (infelizmente, sem dosar minha força), só pra perceber que eu tinha acabado de tirar sangue dos lábios do meu supervisor.

"Oh, deuses," eu baixei os punhos, recuando alguns passos. "Sinto muito."

Ele levou a mão à boca, observando seus dedos tingidos de vermelho. "Não se preocupe," o moreno ergueu sua mão livre, me fazendo um gesto negativo. "Mandou bem," elogiou, erguendo apenas uma das sobrancelhas em minha direção.

"Obrigada, senhor," respondi com o mesmo tom formal com que ele me tratava, não querendo passar a ele nenhuma ideia errada - apesar daquele curioso momento que tivemos horas atrás, que se recusava a deixar a minha mente.

"Chega por hoje," ele anunciou, dirigindo-se à saída da sala, mas parando para me fitar antes de deixar o local. "Amanhã continuamos."

"Certo," concordei, aproximando-me do outro tatame onde eu deixara os meus coturnos e o meu colete. "Desculpe novamente."

Ward meneou a cabeça em um sinal negativo: o jeito dele de me pedir para que eu esquecesse aquilo...

E então ele saiu, deixando-me sozinha.

Suspirei, sentando-me no chão: a vantagem de treinar com a Romanoff era o fato de ela não ser um 'moreno, alto, bonito e sensual', e que eu não me sentia culpada quando atingia o rosto dela - pois ela fazia coisas piores comigo.

Oh, droga. 

Eu estava ferrada...

A Letter to Elise [Grant Ward]Onde histórias criam vida. Descubra agora