X - FINAL

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>>Ponto de vista de Grant Ward<<

Ela me deu um tiro para me salvar da Viúva Negra?

Eu tive um grande problema em compreender aquilo, mas depois tudo ficou claro: eles iriam me manter vivo, apenas porque acreditavam que eu poderia ser útil. Só podia ser. Por que outra razão ela me pouparia? Amor? Compaixão? Eu não era merecedor de nada daquilo. Eu só a usei...

E quem mais se feriu, no fim, provavelmente fui eu. Não era nem mesmo capaz de lhe sustentar o olhar.

Elise se abaixou ao meu lado, colocando algemas ao redor dos meus punhos. Seu doce perfume me entorpecendo... sentiria falta dela. Estaria mentindo para mim mesmo se eu dissesse que não.

"Elise...", murmurei o seu nome... a dor em meu coração muito maior do que o tiro que ela me dera.

"Ward, por favor," ela me interrompeu, o tom de voz também entregando o quanto ela estava ferida. "Por favor, não fale mais comigo. Esquece que eu existo."

"Eu nunca conseguiria," sussurrei, finalmente conseguindo fitá-la.

Os olhos dela marejaram... e, de súbito, ela se colocou de pé.

O agente Barton se aproximou de mim. "Com licença," ele pediu com um tom gentil para a Elise, me segurando pelas algemas e me forçando a ficar de pé.

Enquanto ele me guiava em direção ao quinjet, eu arrisquei olhar mais uma vez para ela: Romanoff se posicionou ao seu lado, sua linguagem corporal revelando que ela sentia nada além de pura raiva, pois eu traíra a sua protegida.

"Eu sinto muito," eu disse, sem usar a minha voz, sabendo que Elise conseguiria ler os meus lábios. "De verdade."

Ela baixou a cabeça.

A Viúva Negra se aproximou dela, consolando-a com um abraço.

****

>>Ponto de vista de Elise Clark<<

"Acabou agora," Nat sussurrou para mim, afastando-se apenas o bastante para mirar os meus olhos.

"Aonde irão levá-lo?", questionei, me desprendendo gentilmente de seu abraço.

"Eu avisei Coulson de sua chamada de emergência. Ele já deve estar chegando... como o Ward fazia parte do time dele, acho que cabe ao Phil decidir se o manterá como prisioneiro ou o entregará a julgamento."

"Se ele for a julgamento...", hesitei, procurando o olhar de Nat. Ela assentiu, me respondendo silenciosamente. "Ele vai pegar pena de morte," concluí, mais pra mim mesma do que pra ela.

"Sim," confirmou a espiã. "Vocês...?"

"Sim," eu a interrompi, já sabendo o que ela iria perguntar. "Nós... aconteceu. Ele me manipulou e eu caí. Acho que tudo o que eu queria era alguém que me amasse de verdade."

"Pessoas como nós não têm esse luxo," ela rebateu, cruzando os braços. "Deveria ter continuado com os casinhos de uma noite só, como eu aconselhei."

"Eu não consigo mais, Nat," eu dei de ombros. "Minha vida é uma sucessão de desastres. E quando eu finalmente acreditei que algo bom estava acontecendo, o primeiro homem pelo qual eu de fato tive sentimentos... era Hydra," eu ri baixinho, mesmo que o meu maior desejo naquele instante fosse de me jogar contra as turbinas do quinjet que levara Nat e Clint até lá.

"O prisioneiro está seguro," anunciou Clint, se aproximando de nós. "Deixei toda a nossa equipe de apoio com ele. Posso acionar a bomba?"

"Onde está Garrett?", questionei, alternando o olhar entre os dois agentes.

"Escapou," me respondeu um frustrado e impaciente Gavião Arqueiro. "Então, Nat?"

"Ainda não. Coulson está..."

E como que prevendo o que ela diria, um barulho de turbina de avião soou em cima do prédio. Não muito tempo depois, o som se extinguiu e Coulson, juntamente de May, adentraram o espaçoso hangar da base.

"Então... o que aconteceu?", perguntou o meu chefe, acenando discretamente para Clint e Nat.

"Então você está mesmo vivo," comentou Clint, irônico.

Coulson apenas sorriu.

"Filho da...", o Gavião segurou o xingamento. "E você sabia disso?", ele perguntou para a Viúva. "Claro que sabia," ele continuou, sem dar chance a ela de responder. "Vou ficar com o prisioneiro," Clint anunciou, se afastando. "Vai que ele resolve fazer um estrago maior."

"Prisioneiro?", May inquiriu, alternando o olhar entre eu e Romanoff.

Notando que eu não tinha condições de falar a respeito, Nat tomou a frente. "O agente Grant Ward é da Hydra."

****

Depois de conversar com May, ela foi para o quinjet onde os agentes vigiavam Ward. 

Coulson decidiu por mantê-lo sob custódia dele, o que me fez suspirar aliviada. Ainda depois de tudo, não conseguia imaginá-lo sendo levado para o corredor da morte. 

A única boa notícia do dia (aquela noite parecia que não teria fim, mas por sorte eu estava errada - por mais sombrias que fossem, como minha mãe e irmã costumavam dizer, elas sempre chegavam ao fim) era que a equipe tinha conseguido recuperar o tal 0-8-4 - que se revelou como uma arma alienígena capaz de criar buracos negros... o que, para Fitz, deveria ser como um presente de natal chegando mais cedo.

"Eu tenho uma proposta," disse Nat, olhando de soslaio para Coulson e para Clint, que já tinha se recuperado do seu piti.

Os dois apenas a observavam curiosos.

"Eu sei que você criou laços com a sua nova equipe, mas eu quero lhe provar que você pode, sim, ter sorte com seus supervisores, apesar de tudo."

"Nat...", eu tentei interrompê-la, mas seu olhar foi o suficiente para me calar.

"Se você quiser, eu gostaria de tê-la de volta na equipe. Gostaria de retomar o meu trabalho como a sua supervisora."

Entreabri os lábios, mas não consegui dar minha resposta. Meus olhos encontraram os de Coulson, que se resumiu a assentir pra mim.

A escolha era minha, ficou claro.

E a verdade era que... eu não conseguiria voltar para a equipe do Coulson, não depois do que houve com o Ward. Para todo o lugar que eu olhasse, eu lembraria de algum momento que eu tivera com ele, e o meu passado me assombraria como um implacável fantasma.

"Obrigada, Phil," eu agradeci com um aceno, ganhando um sorriso simpático dele. "Eu não vou me despedir da equipe... pois não conseguiria partir."

"Eu entendo," ele assentiu, apertando minha mão.

Assenti de volta, procurando o olhar da letal Viúva Negra. Minha supervisora... nem eu acreditava que estava prestes a voltar para o time dela e do Gavião. Nós costumávamos a ser mais que uma equipe. Tratávamos uns aos outros como irmãos.

"Bem-vinda de volta," ela disse, abrindo um sorriso contido pra mim, enquanto Clint viera me abraçar, bagunçando os meus cabelos.

"Treino com arco e flechas vai ser obrigatório agora, ok?"

"Ok," eu ri baixinho. "Prometo tentar."

Phil, May e a equipe de apoio de Clint e Nat escoltaram Ward para fora do quinjet, levando-o escada acima para o terraço - onde o Ônibus de Coulson se encontrava pousado. Grant não desviou os olhos de mim, até que de fato não pudesse mais me ver... o que me fez estremecer.

Suspirei.

Teria que tomar cuidado com minhas promessas, pois tinha um grande histórico de não conseguir cumpri-las.

****

Série criada em 06/10/2018. Finalizada em 13/10/2018.

A Letter to Elise [Grant Ward]Where stories live. Discover now