A Letter to Elise [Grant Ward]

IX

>>Ponto de vista de Natasha Romanoff<<

"Acha que usamos C4 o suficiente?", ele me perguntou, terminando de armar as bombas.

"Acredite," sorri, discreta. "Já usei 1/4 disso e foi mais do que o suficiente."

Barton assentiu, segurando seu arco e tirando uma flecha da aljava. "Só me explica uma coisa..."

"O quê?"

"Como você encerrou tudo em Paris tão rápido?", Clint abriu um sorriso malicioso. "Até onde eu sabia, a missão era pra durar mais uns dois dias..."

"Três," corrigi, cortando os cabos dos geradores de energia, comprometendo a luz em toda a base. "Mas aí eu recebi um sinal..."

"Que sinal?"

Sorri para ele, mantendo o mistério. "Quando encontrarmos ela, você vai saber."

****

>>Ponto de vista de Elise Clark<<

Grant se aproximou de mim: seu olhar tão sombrio que eu, instintivamente, recuei até a parede - erguendo as mãos e implorando para que ele parasse, para que ele caísse em si.

"Eu não quero machucar você, mas se não me der alternativa...", ele disse, tomando a pistola das mãos do outro homem, colocando-me sob a sua mira. "Eu farei o que for necessário."

"Por quê, Grant?", sussurrei. Minha voz e o meu corpo tão trêmulos, que eu achei que poderia colapsar. "Por quê?"

Ele ficou cabisbaixo por um momento... até que, do nada, todas as luzes se apagaram, surpreendendo-o.

"Garrett, vai na frente," ele disse, voltando-se para o sequestrador - que de pronto lhe deu as costas. "Eu alcanço você depois."

Garrett... eu conhecia esse nome! Bem, nunca tinha associado um rosto ao nome, mas eu muito ouvi falar dele. Fury tinha sido o supervisor dele e de Coulson. E então, quando Ward entrou pra Shield, Garrett se tornou responsável por ele.

A Hydra estava mais do que enraizada dentro de nossa organização.

"O que é isso?", ele me perguntou, notando uma luzinha azul que piscava no meu relógio.

Ah, se ele achava que era o único que tinha truques...

"Eu não queria contar, querido," eu disse, mais do que irônica. "Pois tinha medo de não dar certo e criar falsas esperanças, mas..."

"Romanoff," ele constatou, praticamente rosnando. "Você a chamou?"

"A Viúva me prometeu que salvaria a minha vida se um dia eu precisasse, como forma de quitar seu débito."

Ward suspirou irritado, colocando-me sob sua mira mais uma vez. "Vamos," ordenou friamente.

Como? Como o cenário todo mudou de um segundo para o outro?

Meu cérebro ainda não conseguia filtrar e compreender tudo aquilo: meu supervisor era Hydra, assim como o supervisor dele. Tudo era uma mentira... o efeito dominó em cada um dos fatos, em cada um dos gestos, uma mentira após a outra - tudo veio abaixo.

Assim como o meu mundo...

Mas por que eu vira tanta verdade em seus olhos antes, naquele momento de intimidade? Por um instante ele realmente baixou a guarda e deixou os seus sentimentos aparecerem, emergirem de sua máscara.

Ele era 100% mau? Não, claro que não. Ninguém era.

Será que eu conseguiria convencê-lo?

"Ward... eu tenho certeza que nem tudo foi encenação," eu comecei a dizer, baixinho, tentando manter o controle sobre as minhas próprias emoções. "É por isso que eu te dou essa chance: abandone a Hydra e isso tudo ficará entre nós. Coulson, Fury, Hand... ninguém saberá."

"Eu não posso," ele disse. Seu maxilar tão tenso, assim como os seus ombros... sua voz tão baixa quanto a minha, o cenho franzido, sobrancelhas arqueadas: uma coleção de expressões que entregavam o quanto ele lutava consigo mesmo. "Eu devo tudo ao Garrett. Minha vida. Quem eu sou. Tudo."

"E quanto a mim? A nós?"

Ele baixou a cabeça, voltando a me fitar depois com um olhar assassino. "Você é uma fraqueza. Uma fraqueza que eu tenho que eliminar."

****

>>Ponto de vista de Grant Ward<<

"Por favor... repense."

"Essa é minha resposta final," aquelas palavras pareceram apunhalar o meu coração, mas precisavam ser ditas.

"Bem, então... eu sinto muito," com agilidade, Elise me desarmou com um chute. A arma foi arremessada contra a parede: ela rolou no chão e a tomou em suas mãos, ficando numa pose muito semelhante a de Romanoff.

"Usando as técnicas dela, então?", aquilo me magoou mais do que eu poderia antecipar.

"Se eu quiser derrotar você, não posso usar nada que me ensinou. Ou eu seria previsível demais, não acha?"

"Esse é um pensamento que eu te ensinei," observei, vendo o quanto ela pareceu tensa. "Eu já esperava por isso."

"Renda-se, Ward."

"Grant," corrigi com um gentil tom de voz, só para provocá-la. Sedução sempre funcionou com ela... esperava que continuasse causando os mesmos efeitos.

Como se lesse a minha mente, ela rebateu com um sorriso debochado: "Você não me pediu pra crescer, Ward? Seria muito infantil da minha parte cair no mesmo truque infinitas vezes."

Touché.

Suspirei, erguendo as mãos em rendição. "Quer me impedir? Atire. É o único jeito de me tirar da Hydra."

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>>Ponto de vista de Natasha Romanoff<<

Quando cheguei diante da cela de onde eu recebia o sinal de GPS da Elise, eu a encontrei mantendo um homem sob a mira dela. Notando a hesitação da jovem agente, eu também saquei a minha pistola e me preparei para eliminá-lo...

Mas as palavras dele me deixaram sem ação:

"Se serve de consolo... eu realmente me apaixonei por você."

Elise baixou a arma como em câmera lenta, até que ela notou minha presença.

Eu deslizei o meu dedo para o gatilho e puxei, mas ela foi mais rápida: acertou a coxa dele, fazendo ele cair de joelhos no chão - o que fez com que o meu tiro pegasse na parede da cela.

Baixei a arma, completamente confusa, até que Elise se pôs entre eu e ele. "Ward é Hydra, mas não merece morrer," ela anunciou.

"Ward? Seu novo supervisor?", arqueei as sobrancelhas, lançando um olhar de soslaio para Clint - que se resumiu a dar de ombros.

"Fazer o que se eu tenho uma sorte para supervisores...", ela brincou, mas o seu sorriso era mais do que triste.

"Sinto muito por isso," eu disse para ela, guardando a minha arma. Elise se resumiu a assentir, abaixando-se ao lado do tal Grant Ward.

Então ele era o segundo maior combatente da Shield...

Acho que eu esperava mais.