VIII

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>>Ponto de vista de Grant Ward<<

Seria bem mais fácil se as emoções pudessem ser desligadas quando precisássemos. Agir de um modo autômato, baseado apenas na mais pura estratégia: 100% de êxito em uma missão, garantido.

Garrett me alertou, me treinou pra não sentir nada... mas era impossível. Eu só estive enganando a mim mesmo, dizendo-me repetidamente que era apenas parte do show, que era só pra manipulá-la, que eu não me importava com ela...

Mas como explicar a raiva que eu de fato senti quando ela foi imprudente e se feriu em combate? Como explicar o ciúmes que me contaminava quando eu via Fitz admirando-a? Elise não fazia ideia dos sentimentos que o cientista cultivava por ela, portanto, não o correspondia. Mas e quando descobrisse? E se Coulson resolvesse contar a ela, como ele quase fez? O que eu faria se ela preferisse Leo Fitz ao invés de mim?

E como explicar o modo como eu fazia amor com ela naquela prisão? Ah, sim, com May era só sexo. Algo brutal e primitivo, sem sentimentos envolvidos. Já com a Elise... cada pequena nuance em sua expressão já me enchia de preocupações. Eu estava machucando ela? Ela me desejava mesmo? Teria ela se arrependido? Ela não estava sentindo o mesmo prazer que eu naquele momento tão íntimo?

"Grant," ela suspirou, beijando o meu rosto - sua mira mais do que comprometida: ela acertou meu nariz, minha bochecha, meu queixo... suas unhas enterrando-se em meus braços, gemendo baixinho a cada toque novo que eu tentava. Deveria ser o suficiente para deixar as preocupações de lado, e apenas me focar em tratá-la como uma rainha, como ela merecia... mas por que a culpa pesava tanto dentro de mim?

Eu tinha a chance de deixar a Hydra, de dedicar a minha vida a protegê-la, de reprisar os atos daquela noite toda vez que ela assim desejasse, mas... eu não podia, eu sabia. A realidade do mundo lá fora logo iria me encontrar, e eu teria que agir como se tudo aquilo não tivesse significado nada para mim.

Meu coração parecia comprimido pelo meu próprio peito, tamanho o fardo que eu carregava ali dentro.

Ela atingiu o limite: os espasmos dela levando-me para o mesmo nível de êxtase e euforia que ela parecia sentir. "Eu amo você," ela sussurrou, abrindo os olhos de uma maneira sonolenta. Suas mãos contornando o meu rosto.

E então veio o baque: eu fiz aquilo. Eu fiz ela amar uma mentira. Eu não era aquele cara... eu não era bom. Eu me tornei um monstro, como os meus pais, como o meu irmão mais velho. Eu me tornei tudo o que um dia eu já odiei.

E Deus, como eu me odiava naquele instante!

Senti, pela primeira vez em anos, a necessidade de chorar. Mas eu não me permitiria. Não poderia. Precisava relembrar do meu treinamento, precisava me livrar daquela fraqueza.


****

>>Ponto de vista de Elise Clark<<

Envolvida pelos seus atos, mal pude me controlar: lá se foram as três palavrinhas, que quando colocadas juntas em uma sentença solitária, no momento errado, poderiam arruinar tudo.

E arruinaram.

Ward, ainda desorientado pelo que eu dissera, fechou novamente o zíper de sua calça e se sentou no chão. Suas mãos cobrindo o seu rosto, levemente trêmulas.

"Grant?"

"Me perdoe," ele murmurou. Sua voz abafada por conta de suas mãos. "Elise, eu sinto muito."

"O quê? Grant, o que houve?", perguntei, mais do que preocupada, tocando o ombro dele. "Você não fez nada de errado."

"Sim, eu fiz," ele respondeu, me fitando com os olhos marejados. Então mordeu os lábios, balançando a cabeça como que em um gesto de reprovação para consigo mesmo. "Eu fiz."

"Fale comigo," sussurrei, pressionando carinhosamente o seu ombro.

"Eu não posso," meu supervisor se colocou de pé, dando as costas pra mim.

Ele se arrependera de...?

Oh, deuses. E se eu o pressionei? E se eu o induzi a fazer algo que ele não queria ter feito?

Vesti minhas roupas, me odiando por conta de tudo aquilo. Estava prestes a lhe pedir um milhão de desculpas quando o homem que nos levara até lá ressurgira. Como que se dando conta do que acontecera ali, visto que eu ainda me encontrava descalça e Ward sem camiseta, ele abriu um sorriso malicioso.

"Filho, eu devo dizer..."

A voz do homem assustou o meu supervisor, que parecia estar diante de uma assombração. Aquele olhar surpreso, no entanto, durou pouco, pois ele era perito em disfarçar suas emoções.

"Você tem um tipo interessante," concluiu o mais velho.

"O que você quer?", Ward questionou com evidente irritação, cerrando os punhos. Seu maxilar tenso, assim como todos os músculos expostos de seu corpo.

"Está na hora do show," respondeu o homem. "As máscaras precisam cair. Romanoff e Barton estão aqui... e uma bomba está prestes a mandar esse lugar todo pelos ares. Use a Julieta aqui pra escaparmos... tenho certeza que a ruiva não vai fazer nada se ela estiver em risco."

"Grant?", questionei, genuinamente confusa.

Eu não queria aceitar o que estava ouvindo... não queria aceitar o modo como eu interpretara as palavras daquele nazista.

Ward me fitou. Seu olhar frio, um contraste com toda aquela ternura de antes. "Eu te disse."

A Letter to Elise [Grant Ward]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang