VII

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>>Ponto de vista de Grant Ward<<

9 de abril de 2014

Eu não fazia ideia de quais eram os planos de Garrett ao me prender com a Elise naquela cela. Se ele queria manter o meu disfarce, era só ter me deixado invadir a base com ela, não ter interferido daquela maneira. Entretanto, não cabia a mim questioná-lo. Tudo que ele fazia tinha um bom motivo por trás e era apenas aquilo que eu teria de manter em mente: ele sabia muito bem o que fazia, por mais sem sentido que parecesse a primeiro instante.

Fazia poucos minutos que eu tinha despertado, mas eu ainda fingia estar inconsciente para a Elise. Queria saber quais seriam as reações dela perante aquela situação: até o momento ela não tinha surtado. Podia ouvi-la fazendo exercícios de controle respiratório, enquanto deslizava suas costas pelas grades da cela até se sentar no chão de concreto.

Quando percebi que ela tinha retomado o controle, abri os olhos... devagar.

****

>>Ponto de vista de Elise Clark<<

"Bom dia, flor do dia," eu o saudei com um sorriso. "Bem, tecnicamente...", dei de ombros. "Ainda é noite."

"Onde estamos?", ele me perguntou. Seu cenho franzido, enquanto ele olhava ao redor, acariciando o local onde fora atingido. Um pouco de sangue tingiu os seus dedos. "O que aconteceu?"

"Você foi nocauteado, super espião," brinquei, mas o humor logo deixou o tom de minha voz. "E estamos numa prisão da Hydra. Quanto glamour, não acha?"

"Bem, fico feliz que estamos juntos," ele anunciou, me fitando com aqueles misteriosos olhos castanhos.

Não pude evitar o rubor que subiu à minha face. "Oh...", baixei a cabeça, odiando a mim mesma por ter me exposto tanto com um simples comentário.

Ele riu baixinho. "Minha intenção não era...", Ward hesitou, repensando suas palavras. "Estava comentando pelo lado tático: se tivessem nos colocado em celas diferentes, seria mais complicado sairmos daqui. Entretanto, juntos... podemos pensar em alguma coisa."

"É claro," concordei, sem arriscar um contato visual. "Não pensei em nada diferente disso," menti, brincando com minhas próprias unhas - descascando o esmalte preto que as cobria.

"Sei," ele ironizou, o que me obrigou a arranjar coragem para fitá-lo. "Seu rosto me conta outra coisa. Algo bem mais... interessante surgiu em sua mente, não?"

"Não é de sua conta," retruquei, fitando a parede atrás dele, concentrando-me para manter um 'poker face' - uma expressão vazia, ilegível. "Assim como o voto, o que pensamos também é secreto."

"Não pra quem foi treinado pra ler as emoções no rosto das pessoas," ele rebateu, erguendo apenas uma das sobrancelhas em minha direção. "E o voto também dá pra descobrir, com uma boa investigação."

Rolei os olhos. "Não fique se achando."

Ward balançou a cabeça em um sinal negativo, soltando o ar pelo nariz em um riso contido.

Mais sério, ele me fitou... em silêncio.

E eu achei que meu coração iria parar: não deveria ser permitida tanta beleza para um homem só. Aquilo deveria ser um crime.

"Como está se sentindo?", ele perguntou, resolvendo se sentar ao meu lado, naquela estreita e maldita cela. Sua voz baixa, o tom rouco e aveludado...

Certo. Se a Hydra não me matasse, ele iria.

E pra piorar, ele tocou minha perna ferida. Sua mão pousando abaixo do corte, sem fazer contato com a área afetada. Ward pressionou levemente, como que para me relembrar que eu ainda não tinha respondido.

"B-Bem," gaguejei. Meu coração parecendo um martelo a bater dentro do meu peito.

Droga!

Com o cenho franzido, como se estivesse me inspecionando, ele tocou o meu queixo. E então ergueu, gentilmente, a minha cabeça - expondo, o que eu acreditava, ser o corte que aquele agente da Hydra me causara.

"Elise..."

Meu nome em sua voz... estava aí algo que eu não cansava de ouvir.

"Eu estou bem," repeti com firmeza dessa vez, não querendo que ele se preocupasse à toa. Ward assentiu... seus dedos deslizaram do meu queixo para os meus lábios, compartindo-os com um gesto sensual.

"Grant," suspirei, insegura sobre o que estava acontecendo ali. Eu interpretei os sinais corretamente? Aquilo era mesmo um toque... erótico... e não apenas a preocupação de um supervisor?

"Finalmente," ele sorriu. "Estava me perguntando quando você me chamaria pelo primeiro nome."

"O que você... o que você está fazendo?", eu engoli em seco, tentando reaprender como que se respirava... tentando acalmar o meu coração.

"O que eu pensei em fazer desde o nosso primeiro treino juntos...", ele disse, inclinando-se lentamente sobre mim, como que para me dar tempo de impedi-lo se eu quisesse.

Como se eu fosse louca pra fazer um absurdo desses.

"Faça."

Ele assentiu, pressionando aqueles seus divinos lábios contra os meus. Havia uma expertise em seus atos... como se cada toque fosse calculado, calibrado para me enlouquecer. O calor de seu corpo convidando-me para que eu me aproximasse dele... e quando eu o fiz, seus braços - oh, tão fortes! - envolveram o meu corpo, mantendo-me como sua completa refém. E eu desfrutei de cada segundo daquilo, sem protestar quando vi que as coisas estavam prestes a sair do controle.

Danem-se as circunstâncias. Se não no tatame da sala de treino da Shield - onde eu também fantasiei desde a primeira vez - que fosse no chão de concreto da prisão da Hydra... de qualquer modo, Grant Ward estava me fazendo experimentar coisas que eu nunca havia me dado o luxo de experimentar: fazer amor com alguém por quem eu realmente nutria sentimentos, não um cara aleatório em um bar que eu nunca mais veria na minha frente.

A Letter to Elise [Grant Ward]Where stories live. Discover now