capítulo 6.

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    Meu irmão ficou no quarto o dia inteiro e adivinha? Meu pai ficou reclamando o tempo todo que era culpa minha,então ele me mandou dar uma volta e só voltar quando ele tivesse ido trabalhar,bom,ele já foi,mas mesmo assim estou ainda perambulando pela rua escura e deserta,apenas pensando no lixo de ser humano que sou e chutando o asfalto sem nenhum motivo.
    Estou tão distraída que quase caio no chão de susto quando um garoto puxa o meu capuz e para em minha frente:
   _Oi ,to tentando puxar um assunto a um tempão._o desconhecido diz .
   _Oi,não tinha percebido.
   _Olha só! Pensei que fosse surda mesmo. A propósito,eu sou o Tayler,e você,como se chama?
   Lembre-se Melissa ,não deve confiar, é assim que começa ,uma brincadeirinha boba,um sorrisinho fofo,a aproximação e depois a decepção. Tenho que arrumar um jeito de sair daqui.
   _Melissa_digo e saio dali correndo como uma louca .
   _Pera aí! Onde você vai?_ouço ao longe a voz de Tayler,não adianta tentar falar nada,eu não irei cair nessa outra vez.
   Sei que é o certo a se fazer,já tenho problemas demais na minha vida. "Nunca confie em ninguém",essas palavras pairam em minha mente, cada vez mais claras e verdadeiras.
   Muitas pessoas entram na sua vida, te decepcionam e depois vão embora, poucas entram,te faz feliz,e permanece nela.
   Chego em minha casa,subo direto para o meu quarto e fico ouvindo musica até ter que descer para por a mesa.
   Assim que desço a campainha toca, vou atender a porta e adivinha quem era? Tayler.
   _Você saiu correndo,fiquei sem entender e vim atrás de você._diz Tayler.
   _Você é louco garoto?
   _Não,mas às vezes pareço ser. E aí, vai me convidar para entrar?
   Percebo que minha mãe não notou nossa presença,então nos empurro para fora e fecho a porta. Com um sorrisinho ele diz:
   _Nossa! Valeu por me convidar para entrar,por acaso sua mãe é uma onça? Se for me avise para dar tempo de sair daqui correndo.
   _O que você quer?
   _Só queria saber o que deu em você.
   Ele é louco?
   _Não foi nada,e aliás,você é um estranho. Agora se me der licença eu preciso entrar.
   _Ok,tchau também.
   Ele simplesmente sai de lá num pulo e então posso entrar novamente em casa.
   Entro na cozinha e me deparo com meu irmão bebendo água,assim que percebe minha presença ele abre um sorriso sombrio e diz:
   _E então,o que vai fazer dessa vez para chamar atenção? Se cortar talvez? Ha! Ja sei! Vai se fazer de vítima e mal amada enquanto tenta encontrar uma forma de morrer para se livrar dos lobos mais conhecidos como família?
   _Não_tentei parecer forte e fria em minha resposta,mas encarando meu irmão era quase impossível_só irei cuidar da minha vida ,aliás,não pedi para ninguém se entometer nela.
   Ele faz uma cara de deboche.
   _É como uma música que ouvi uma vez:"é um anjo quando quer mas sabe ser malvada". Ou melhor, finge ser um anjo quando quer.
   _Diz o surdo ao que não vê.
   Ele simplesmente sai,me deixando sozinha para enfim por a mesa.
                      ...............
   Já havia comido,no meu quarto mesmo que agora estava repleto por um silêncio ensurdecedor. Resolvo ler um livro já que não estava com nenhuma vontade de descer e encarar meu irmão e minha mãe me olhando com um certo despreso.
   Estava prestes a pegar um livro na escrivaninha quando vejo na mesma um canivete,minha mente foca nele e acabo vivendo uma guerra interna quando minha mente dizia:"pegue-o,irá lhe fazer bem,você precisa se sentir bem". Mas aí eu digo:_Não! Eu não posso,não irei conseguir parar. E então você é vencido pela sua própria mente com apenas uma frase:"O que é que tem? Ninguém se importará com o que você faz,O SEU IRMÃO JOGOU ISSO NA SUA CARA,TE CONFESSOU NÃO SE IMPORTAR COM VOCÊ,e você ainda vai sofrer só por não sentirem mais desgosto do que já sintam por você? Vamos lá,não se prenda,se liberte,voe.
   Então foi aí que disse a mim mesma:
   _É a última vez,só essa vez e pronto, nunca mais faço isso,mas agora eu preciso....
   Pego o canivete e corro para o banheiro do meu quarto. Forro o chão com um velho pano preto que logo jogarei fora. Preciono a lâmina em minha coxa,a dor é suportável,é como um calmante,a cada corte me sinto mais leve,tenho a impressão de estar bem de novo,é como voltar a infância e ser a garotinha sorridente que um dia já fui.
   Esse momento é maravilhoso,é como se eu descarrega-se todos os meus problemas,esquecesse o mundo, esquecesse de quem eu sou. É o momento de paz que sempre busco, os cortes substituem a dor emocional pela dor física,o que é muito melhor do que viver sofrendo emocionalmente, sofrer internamente não arranca pedaço,mas dói muito mais do que levar uma facada no coração,poucos entendem,mas esses poucos que conhecem essa dor sabem como é difícil viver a cada dia,ou melhor,sobreviver a cada dia.
   Depois de um tempo estoco o sangramento como sempre,limpo o canivete e limpo minha bagunça.
Vocês devem se perguntar:"por que você não corta o pulso?". Mas a verdade é que não quero que saibam o que eu faço,por isso me escondo através de cortes na coxa,um lugar que ninguém vê,mas que esconde quem eu sou.
   Eu deveria ter ido para aula hoje,mas a mesma foi mudada para amanhã, não me importo,de qualquer forma, sei que serei vista como nas outras escolas:"a esquisita excluida".
   Deixo minhas preocupações de lado,vou para baixo do cobertor e pego um livro para ler:A caixa de pássaros . É de terror por que eu não gosto de outro gênero literário.
   Estou na metade do livro quando ouço pedrinhas serem jogadas na minha janela. A abro e minha amiga logo salta para dentro do meu quarto e diz:
_Que tal nos divertírmos pelas ruas antes do colegial?

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