capítulo 9.

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   O meu passado mais sombrio eu não vos contei,pois dói de mais relembrar tudo aquilo que passei, mas agora já não posso esconder,pois tudo voltou a tona quando com "ele" me deparei.
   Foi em um dia sombrio de outono, acabara de completar 12 anos,não sorria,não estava feliz,não havia motivo para sorrir. Caminhava a passos pequenos pela calçada da rua próxima de casa,estava frio,eu usava uma jaqueta preta de couro, meu olhar estava fixado em meus pés, me perguntando se algum dia eu poderia me sentir bem novamente,se algum dia eu poderia dizer que minha vida era perfeita.
   Enquanto eu caminhava,um lindo pássaro amarelo começava a me seguir,estiquei o meu braço e ele pousou suavemente no mesmo e eu apenas admirei a beleza de suas penas e o tamanho de suas asas pensando :"como queria,assim como você,saber voar,talvez ter asas para me libertar,para sentir a liberdade de mim mesma,para poder libertar minha alma..."
   Um desparo de arma de fogo me tira do meu transe. O belo pássaro é atingido em cheio e cai no chão  já sem vida. Entro em pânico,atordoada tento socorrer a ave,mas já era tarde de mais.
   Um jovem que aparentava ter uns 18 anos,se abaixa em meu lado com a arma em mãos,ele pega uma mecha do meu cabelo loiro que nessa época estava tingido as pontas de rosa e a coloca para trás. Fico aparentemente com medo,chorando,achando que o próximo desparo seria em mim,o tal jovem aproxima sua boca da minha orelha e diz:
   _Shiiii.... acalme-se bela menina,não chore_ele passa a mão no meu pescoço e a desce até meus braços, retirando um pouco da minha jaqueta_colabore comigo que tudo ficará bem.
   Eu estava paralisada,sabia apenas chorar. Ele deixa um beijo úmido e nojento no meu ombro desnudo, estava com muito medo. Crio coragem e me levanto,iria tentar correr mas ele me impediu,pois tinha o dobro do meu tamanho e da minha força.
   _Se você não colaborar isso acabará muito mal_ele diz e tenta enfiar a mão por baixo da minha blusa.
   Seguro seu braço e o pergunto:
   _O-o que... você quer de mim...
   _Por acaso seu nome é Melissa?
   _Sim...
   _E você mora na rua Santa Maria?
   _Não_minto,me esforçando para que ele acredite.
   _Não minta para mim garotinha_ele aponta sua arma para minha cabeça, me forçando a dizer a verdade.
   _Eu moro sim..._digo entre soluços.
   _Boa garota_ele sorri maléficamente e dá um beijo em minha testa,saindo dali às pressas.
   Fico por lá durante um tempo, paralisada,atordoada,até ouvir um estrondo de tiro vindo da rua onde morava.
   Saio correndo de volta para casa. Enquanto corria temia pelo que havia acontecido,a cada passo que dava o meu peito apertava e meu coração parecia estar prestes a parar.
   Minha tia tinha chegado de viagem , ela simplesmente me odiava,ela já me bateu e foi ela quem havia me mandado passear para não precisar olhar para minha cara despresível.
   Assim que entro vejo todos chorando descontroladamente,minha mãe estava ajuelhada segurando em seus braços frágeis o corpo já sem vida de sua irmã que havia sido baleada no peito esquerdo,no pescoço e na cabeça. Não consigo controlar minhas lágrimas e choro junto a eles. Assim que minha mãe percebe minha presença seu rosto se enrijesse,por que tudo parece ser minha culpa? Mas eu já sabia que parte disso era minha culpa,eu não deveria ter falado nada,a morte da tia Lúcia ficará marcada em minha mente para sempre,marcada como brasa em minha alma,uma culpa carregada durante anos da minha vida.
   No dia do enterro da minha tia minha mãe me mandou não ir. Eu tive que lhe contar sobre o homem que havia me parado com uma arma na rua,mas parecia que ela queria me dizer:"você deveria ter deixado ele fazer o que queria,para evitar mais desgraças". Ela também me disse que se esse homem voltasse,a próxima morte seria a dela.
  
   Depois de tanto tempo ele estava ali na minha frente,sentado no sofá ,me encarando com o mesmo olhar daquele mesmo dia, aquele olhar diabólico e sorriso perturbador,era o mesmo,só havia envelhecido.
   _Por que não entra garotinha._ele diz brincando com a faca ensanguentada.
   _Onde está minha família!?
   _No andar de cima.
   Assim que tento correr para as escadas ele me puxa e me prende contra a parede dizendo:
   _Pensa que vai a onde garotinha?_ seu sorriso é a mistuta perfeita de maléfico e sinistro,ele está sorrindo, mas não está realmente se divertindo, pois está com raiva,muita raiva disfarçada de alegria.
   Ele desliza a faca sobre meu rosto dizendo:
   _Avize-os que isso foi apenas um aviso.
   E com isso ele sai pela porta,tranco a mesma e subo as escadas a procura de meus familiares.
   Minha mãe e meu irmão estavam com os braços e o rosto cortados, certamente haviam sido torturados, presos em duas cadeiras,uma de frente para a outra,com a boca amordaçada.
   Vou até eles e os liberto dizendo:
   _Ele disse que isso foi apenas um aviso... vocês estão bem?_pergunto preocupada,mas não obtenho resposta.
   _Onde ele está! Cadê aquele canalha! Eu vou acabar com ele!_Lucas diz e me empurra para o lado.
   Minha mãe vai até mim e diz:
   _Eu disse quem seria o próximo alvo... me ajude a arrumar isso tudo e depois vá para seu quarto e só saia de lá quando eu mandar._Ela diz calma, sua voz mais parecia um sussurro,ela não me encarava,e eu já sabia o que significava, ela não queria me encarar pois sabia que eu conseguia ler seu olhar,ela sabia que eu me machucaria ao ver o que seus olhos me transmitiriam, mas o mais duvidoso era:"por que ela se importava?"
   Por que ela não queria que eu me ferir-se mais? Por quê?
   Ajudo-a a se levantar e arrumar o quarto,depois fui para meu quarto,me trancando no mesmo tentando encontrar o motivo pelos meus dias serem sempre atormentados por demônios do passado,demônios nunca mortos,que sempre voltam para me atormentar e fazer desmoronar meu psicológico.

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