Um mais um igual a quatro ✹ Jikook

Capítulo 1 - Desilusão

Encontrar uma roupa que ficasse boa em mim não era difícil, mas, naquele momento, parecia uma tarefa impossível.

Eu já havia jogado todas as peças do meu armário em cima da minha cama, mas nenhuma delas parecia boa o suficiente para ir ao baile de comemoração do nascimento do primeiro filho do nosso grandiosíssimo rei. E não que eu estivesse preocupado com a festa ou com os nobres que estariam lá, eu, na verdade, não me importava com eles. Mas Kim Taehyung, o meu primeiro amor e empregado fiel da nossa família, também tinha sido convidado e eu aproveitaria a oportunidade para declarar meus sentimentos por ele.

E eu queria estar deslumbrante quando isso acontecesse porque já tinha tudo planejado na minha cabeça: primeiro chegaríamos ao baile, depois conversaríamos futilidades a noite toda enquanto bebíamos alguns cálices de vinho para desinibir e matar a vergonha. E então, quando as horas já estivessem bem altas e nós dois dançando a valsa real no meio do salão principal, eu diria que o amava e que queria ficar com ele para sempre. Taehyung responderia que me amava também e me daria o meu tão sonhado primeiro beijo, pedindo a minha mão ali mesmo. E meses depois nos casaríamos em uma grande e luxuosa cerimônia, logo enchendo nossa casa com cinco ou mais filhotinhos de sorrisos quadrados iguais aos do pai.

Mas sem uma roupa bonita nada daria certo.

Bufei frustrado, batendo o meu pé no chão de modo impaciente, e joguei mais um dos meus muitos casacos em cima da cama, logo ouvindo algumas batidinhas na porta. Mandei a pessoa entrar e a cabeleira castanha de Hoseok, meu melhor amigo e empregado faz tudo da nossa casa, não demorou a surgir na fresta entre o batente e a madeira rustica da porta. Ele sorriu e entrou no quarto, depositando uma bandeja com chá e biscoitos em cima do meu criado-mudo.

— O que aconteceu aqui, Jimin? Por acaso os ratos do porão resolveram migrar para o seu armário? — Hoseok riu baixinho, mas também suspirou por saber que era ele quem teria que me ajudar a arrumar toda aquela bagunça.

— Não, Hoseokie, não tem nenhum rato no meu armário. Eu só não consigo achar a roupa perfeita. Eu quero ficar bonito para o Taehyung, fazê-lo me notar essa noite, mas é tudo muito simples e os tecidos já estão todos desgastados.

Choraminguei com um enorme bico nos lábios, desdobrando mais algumas peças que mamãe havia mandado confeccionar no inverno passado. Estavam todas velhas e Taehyung não podia me ver vestido nelas, senão o meu plano de conquistá-lo não funcionaria. E eu sabia que deveria ter mandado a costureira preparar algo para mim também, mas gastei todo o meu dinheiro comprando presentes.

— Ah, Jiminie, não se preocupe tanto com isso. — Hoseok se aproximou de mim e suspirou mais uma vez, parecendo meio entristecido com as minhas palavras. Ele segurou o meu rosto nas suas mãos quentinhas e acariciou as minhas bochechas antes de dizer: — Você é tão bonito quanto uma boneca de porcelana e não precisa de roupas novas e extravagantes para que alguém te note, você brilha por si só. E eu tenho certeza que... bem... — ele pigarreou. — que o Senhor Kim não se importa com essas coisas.

— Você acha mesmo? — perguntei esperançoso.

— Claro, meu amor, quem vai se importar com roupas quando esses olhinhos e esses fios cor de cevada são tudo o que vão conseguir enxergar?

Eu ri baixinho do seu comentário sobre o meu cabelo louro – herdado da mamãe – e sorri alegremente ao agarrar seu tronco, o puxando para um abraço bem apertado. Hoseok e eu havíamos crescido juntos – ele, inclusive, estava no quarto quando eu nasci –, por isso eu o amava e o respeitava como meu irmão mais velho. Era ele quem cuidava de mim e sabia todos os meus segredos, então eu tinha muitos motivos para ser grato ao ômega de riso fácil e sorriso de coração que sempre me fazia sopas e cantava para eu dormir porque Hoseok também era a minha família, mesmo que não compartilhássemos o mesmo sangue.