Capítulo 5 - Descoberta

14.7K 2K 3.2K
                                    

Eu podia ouvir ruídos, sentir diferentes cheiros e até mesmo enxergar as sombras tremeluzentes das pequenas velas que me rodeavam, deixando o meu corpo quente e um pouquinho mais suado do que ele já estava, mas eu não conseguia abrir meus olhos. Minhas pálpebras pareciam pesar uma tonelada e a minha cabeça continuava rodando, rodando e rodando, mas dessa vez num escuro desesperador que me dava ainda mais vontade de vomitar.

Eu não sabia onde estava ou porquê estava ali, a minha mente havia se transformado em um grande emaranhado de pensamentos que eu não conseguia desenrolar. Mas ao mexer meus braços e fincar as minhas unhas no que havia debaixo do meu corpo, eu senti lençóis e um colchão macio, o que me fez entender rapidamente que eu estava no meu quarto, deitado na minha cama. E o cheiro doce de cereja que infestava o lugar não me deixava duvidar.

Grunhi baixinho e contorci as minhas pernas ao sentir uma forte pontada no meu estômago, usando todas as minhas forças para obrigar os meus olhos a se abrirem. Pisquei repetidas vezes, sentindo as minhas retinas queimarem por causa do clarão alaranjado que tomava conta do cômodo, me fazendo lacrimejar, e girei os meus orbes por todo o lugar, encontrando mamãe sentada ao meu lado, sua mão pequena esmagando a minha e os seus grandes olhos azuis me avaliando com carinho e preocupação. Ela sorriu, apertando os meus dedos um pouco mais.

— Oh, querido, que bom que acordou. Estávamos todos muito preocupados com você. — ela disse, e eu franzi o cenho, um pouco confuso. Todos?

Passeei meu olhar pelos quatro cantos do quarto e vi Min Yoongi, o médico da nossa família, sentado em uma poltrona ao lado da minha cama, perto do meu criado-mudo. Hoseok estava escorado num dos meus armários com a feição abatida e os olhos inchados, o que indicava que ele não dormia bem há dias e que vivia chorando. Já papai estava parado aos pés da minha cama, seus braços cruzados sobre o peitoral largo e os lábios crispados numa expressão aborrecida, sua costumeira pose de homem duro e impenetrável. Mas eu sabia que ele também estava muito preocupado comigo.

Mas o que mais me surpreendeu foi encontrar o Duque Jeon um pouco mais distante, quase perto da porta, mas ainda dentro do quarto. Sua postura estava ereta e as suas mãos postas para trás do seu corpo, seus olhos negros me fitando com intensidade e sentimentos que moldavam cada linha do seu rosto. Ele parecia apreensivo, meio culpado e totalmente deslocado por estar ali. E eu senti o meu coração disparar ao olhar para ele, o meu rosto esquentando automaticamente por causa da vergonha que eu sentia toda vez que me lembrava que eu tinha me deitado com ele, um homem estranho e que eu não amava. E aquilo me assombraria para o resto da vida. Por isso, desviei meu olhar rapidamente, voltando a minha atenção para mamãe.

— Mamãe... — eu a chamei, a minha voz saindo fraca e a minha garganta raspando por causa da secura.

— Sim, meu amor, o que foi?

— O que aconteceu?

— Você desmaiou. — ela explicou, balançando a mão que não segurava a minha. — Nós estávamos jantando e de repente você disse que precisava se retirar, mas antes mesmo de subir as escadas você perdeu a consciência. — mamãe suspirou. — Mas agradeça ao Duque Jeon por ter reflexos tão rápidos, foi ele quem impediu a sua queda e te trouxe para o quarto. E foi ele também quem se ofereceu para buscar o Doutor Min nas Terras do Norte junto do Senhor Kim, já que é tarde e poderia haver salteadores pelas estradas.

Eu entreabri meus lábios, um pouco surpreso com a sua revelação, e desviei meus olhos novamente para o alfa parado perto da porta, encontrando as suas íris cor de obsidiana ainda presas em mim. Ele me fez uma curta mesura, como se dissesse que não havia nada o que lhe agradecer, e sorriu de canto, causando um pequeno alvoroço dentro do meu peito. A saliva amarga acumulada na minha boca desceu com dificuldade pela minha garganta e eu fiquei sem ar por um ou dois segundos enquanto o encarava, me sentindo pequenininho e indefeso na sua presença. Ele não precisava ter feito aquilo por mim, não precisava ter ido tão longe buscar um médico para me examinar quando tudo o que eu fiz nas últimas semanas foi ignorá-lo e me manter o mais afastado possível.

Um mais um igual a quatro ✹ JikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora