Capítulo 11 - Vazio

14.6K 1.8K 2.7K
                                    

A chuva forte e barulhenta que caia sobre a minha cabeça estava me atrasando, deixando as minhas roupas pesadas e as minhas pernas fatigadas de tanto lutar contra ela. Mas eu continuava correndo, correndo com todas as minhas forças, com tudo o que eu tinha enquanto tomava cuidado para não pisar e esmagar os pedaços do meu coração, que se partia e esfarelava um pouco mais a cada passo que eu me distanciava de Jungkook.

Eu não podia deixá-lo.

Não era certo.

Mas era o que eu precisava fazer se quisesse que nós três tivéssemos uma chance de sobreviver. Que ele tivesse a chance de voltar para mim e para o nosso filho são e salvo. Eu precisava correr, voltar para o castelo e buscar por ajuda. Mas apesar de todos os meus esforços, eu não sabia ao certo o que estava fazendo ou para onde estava indo.

Eu já estava correndo há um bom tempo, mas ainda não havia chegado a lugar algum. Meu peito vibrava de angustia e meus olhos se embaçavam por causa das lágrimas e da água da chuva, que não me deixava enxergar nada, nem mesmo um único palmo a minha frente. O céu havia se transformado em um borrão negro e assustador, que vez ou outra era cortado pelo clarão prateado dos raios e dos relâmpagos, e as árvores não estavam sendo boas comigo. Elas tentavam me alcançar e me prender com seus dedos finos e pontudos quando eu me embrenhava cegamente entre elas, desesperado, fazendo buracos no tecido da minha camisa e da minha calça, além de raspar a minha pele, me machucando. Dor e cansaço se espalhava pelos meus membros e eu queria gritar, gritar de pavor e desesperança, mas quanto mais alto e feroz o vento rugia nos meus ouvidos, me jogando para os lados como se eu fosse um boneco feito de palha, mais eu corria.

Entretanto, eu continuava perdido.

E respirar estava ficando cada vez mais difícil, senão impossível.

Desacelerei meus passos, passando a caminhar pela grama alta e lamacenta que cobria meus tornozelos, e busquei por fôlego, engasgando quando a água fria da chuva entrou na minha boca e pelo meu nariz, me sufocando. Meu peito subia e descia freneticamente, o oxigênio fugindo mais rápido do que eu podia contê-lo, e eu tossi, sentindo tontura e uma enorme vontade de vomitar. Parei e curvei meu corpo até descansar as mãos nos meus joelhos, tentando respirar com um pouco mais de calma. Meus pulmões doíam e meu corpo todo tremia de medo, de frio e de incertezas, mas eu precisava me controlar e focar no caminho que estava seguindo, que ficava cada vez mais íngreme, difícil e perigoso conforme eu me afastava da gruta, ou eu continuaria perdido no meio do breu da noite. No meio do meu medo.

— Você consegue, Jimin. Você consegue! Fique firme e tudo dará certo no final. Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. Não tem nada no escuro. Não tem. — sussurrei para mim mesmo, sem saber se eu realmente acreditava nas minhas palavras.

Endireitei a coluna e passei os braços ao redor do meu corpo numa inútil e boba reação de proteção, a minha pele tão fria quanto a neve do inverno de Tarla, que matava todo o verde com o seu branco celestial. Meus sapatos estavam ensopados e as solas faziam um barulho esquisito nas poças que se formavam em pequenos buracos espalhados pelo chão. Os trovões rasgavam o silêncio sepulcral da noite, ocultando o gorjear das corujas e o uivo dos lobos e me fazendo estremecer por causa do barulho aterrador. Suspirei, tudo em mim doendo e quebrando um pouco mais com o pensamento de que eu estava falhando com Jungkook mais uma vez. Como sempre.

Ele precisava de mim, da minha ajuda, e eu ao menos conseguia encontrar o caminho certo.

Voltei a caminhar, mais devagar dessa vez por causa da falta de ar, e limpei meus olhos com as costas das mãos, os estreitando e tentando enxergar qualquer coisa, um vulto sequer, entre a cortina de água que embaçava e escurecia as minhas vistas. Havia um descampado atrás de mim e árvores enormes – aldragos e aroeiras salsas que balançavam seus galhos tortos na minha direção como se fossem fantasmas agourentes tentando me matar de susto – , cercavam a minha esquerda. Uma pequena trilha a direita, iluminada pela parca luz prateada da lua, que tentava aos tropeços se sobrepor ao forte aguaceiro, me chamou a atenção, minha memória se remoendo para se lembrar de onde eu já a havia visto.

Um mais um igual a quatro ✹ JikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora