Kwon Sook's P.O.V.
Entreolhamo-nos em uma tensão crescente.
Meus braços pesam e me impedem de erguer as mãos para tocá-lo. O odor inebriante me cativa, seu fôlego se choca contra meus lábios. O calor que flui dele me extasia e aquece. O aperto em meus pulsos se afrouxa e não passa de um toque sutil, mas os olhos nunca me abandonam. Me hipnotizam com seu vigor dominante, dançam por meu rosto e me desarmam. Meus lábios engolem o ar da noite junto com seu suspiro.
Os grilos cricrilam ao longe. Perto de nós, o único som é o de nossas respirações. Seu rosto se torna um vislumbre e suas pálpebras pesam, meu queixo se ergue e os lábios quase encostam nos meus. Um toque espectral. Um barulho nos assusta, e nos mergulha na escuridão. Todos os refletores que iluminam os jardins e as guaritas se apagam. Todas as lâmpadas que alumiam árvores e arbustos tremeluzem, piscam com interferências e se apagam.
Jungkook se apruma e ergue o pescoço e vigia o escuro. Seu peito se enche de ar e ele me solta.
— Q-que foi...? — Indago, tomada pela vergonha.
O que nós quase fizemos?
— Os portões funcionam com energia elétrica.
— Os seguranças vão cuidar disso.
— É. Vou à guarita.
Como se conseguisse enxergar além das sombras, Jungkook se esgueira pelos arbustos e volta ao seu carro. Os faróis se acendem e iluminam o caminho. O ronco do motor é quase silencioso, abaixo das pedrinhas que estalam sob os pneus.
Estive prestes a cometer uma loucura, envolvida por aquele...
Balanço a cabeça com veemência e saio dos arbustos em disparada. Fujo do lugar, da situação, daquele cheiro, dele... e de mim.
Apresso-me pelas escadas e tateio os corredores escuros. Em algum momento da minha fuga, as lâmpadas zumbem, piscam e se acendem. Ouço passos nos corredores, uma conversa murmurada entre meu Appa e Srta. Jeon, e me precipito sobre a porta do meu quarto, empurrando-a. Encosto-a, ofegante. Corro os olhos pelo cômodo e vejo uma das caixas de papelão que ainda guardam minhas coisas.
Rasgo um pedaço e o dobro, prendendo na porta, para fechá-la.
Dou passos para trás e respiro descompassada. Passo o braço pela testa, zonzeando pelo quarto. Lembro-me do único em quem confio para falar sem reservas... Meu diário. Sempre me alivio ao escrever. Alcanço a mesinha de cabeceira e abro a primeira gaveta, tirando o caderno e uma caneta de lá. Sento-me na cama e abro na primeira página vazia. E escrevo.
***
O vapor frio bruxuleia como fumaça pelo ar, sopra minha pele e a queima. Descortino ramos de galhos e espinhos congelados, ferindo os dedos. A dor que poderia me desencorajar só me faz desvendar mais rápido o que há por trás dessa cobertura. O cômodo que se revela à minha frente é familiar. Lençóis diáfanos cobrem os móveis, mas posso ver suas formas através das luzes azuladas que irrompem nas janelas e banham o quarto. Sinto medo.
Esse é o quarto de Jisoo.
Corro e puxo um dos lençóis, que flutua e solta uma camada de poeira, espiralando no ar. O móvel é uma penteadeira vazia, com um espelho rachado. Meu reflexo se divide em dois. Em um deles posso ver minha magreza, os cabelos escorridos e a pele lívida, sob a luz azulada. Na outra rachadura os reflexos são quase dourados, meus cabelos são longos, volumosos, caindo em ondas perfeitas até a cintura. Meus olhos são grandes, de olhar intenso e lábios sorridentes.
Jisoo.
Na parte azulada do reflexo, eu, estou parada. O reflexo de Jisoo, no entanto, se abaixa e abre uma gaveta na penteadeira. Meus olhos se embaçam e fito a gaveta. Ela se abre sozinha, e um fundo falso estala. Tremo de medo, e volto a erguer os olhos para o reflexo no espelho. A metade em que Jisoo reflete está ainda mais clara, com as luzes do sol poente, e destoa da minha figura no escuro. Ela ergue um caderno aberto e me mostra uma frase na caligrafia tremida.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...