[64] Fitas.

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Jeon Jungkook's P.O.V.

Minhas pupilas se dilatam na visão aguçada de híbrido. A audição fica debilitada, como se meus tímpanos entrassem no vácuo. Concentro-me inteiramente na visão e os sons agora são apenas chiados. Ecos longínquos de passos no piso de linóleo acinzentado, do tilintar de talheres nos pratos e bandejas de alumínio e o burburinho provocado pela cena armada por Tzuyu e Jimin. É como se eu mergulhasse em uma piscina e abrisse os olhos. Posso enxergar através da água, mas não consigo ouvir com clareza.

E o que vejo é um banco espaçoso demais. Lisa, Jimin e Sook, porém, estão próximos. O braço de Lisa se encosta no esquerdo de Jimin, que tem a Monstrinha muito próxima de si, pelo lado direito. Os dedos dele tocam delicadamente a cintura esguia dela, e sobem quase imperceptivelmente a barra amarrotada de sua camisa do uniforme. Ela junta a têmpora ao ombro de Park Jimin e ele encosta o queixo no topo de seus cabelos, perto da fita que ela usa para prender os cabelos.

A fita.

Não sei se existe no mundo algo de que eu tenha mais ciúme do que das fitas que ela usa.

Só eu posso encostar nelas. Só eu.

Vou matar Park Jimin na próxima oportunidade, não agora. Sei que ele não está fazendo isso porque gosta dela, ou porque quer furar meu olho, até porque ele não sabe da minha relação com a Monstrinha. Pelo que conheço de Jimin, ele só quer acabar com essa suspeita de Tzuyu porque viu que eu me incomodei e com certeza atingiria a Sook. Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, é melhor ele começar a tirar as mãos dela. Não vou reagir agora, mas posso muito bem me entender com ele, depois.

Só não vou falar nada agora porque tenho noção de que mais da metade dos alunos da escola me observam curiosos. E sinto o olhar enfurecido de Tzuyu contra mim, como se me investigasse em busca de algum vestígio de rancor ou ciúme. Ela não encontrará. Não vou me exaltar. Se escondo tantos segredos tão bem, posso ocultar uma mera expressão.

Prometi a mim mesmo, depois do episódio com Yoongi, que nunca mais deixaria a fúria me dominar. E uso o que ele me disse uma vez, para aprender a controlar a raiva. Imagino a correnteza leve da nascente de um rio. Os fluxos pacientes da água que brota da terra, escorre nos fossos e cria grandes mananciais. É a prova de que rios caudalosos e violentos surgem da tranquilidade. E é a prova de que na calma e na paciência também existem grandes poderes.

Os chiados do refeitório volvem aos poucos e eu retorno à realidade. Já não há surpresa ou ciúme em minha expressão. Meus olhos monótonos se fixam nos de Tzuyu, que ainda espera uma resposta. Agora percebo que ela está desarmada, entre o espanto com a atitude de Jimin e minha reação atormentada. Sorrio, como Yoongi Hyung me ensinou a fazer, e mordo o sanduíche. Certo é que, em meu íntimo, ainda reprimo o desejo de enfiar o garfo de Taehyung na jugular de Park Jimin.

— O que dizia, Tzuyu? — Pergunto, depois de engolir o naco do sanduíche, e o largo na bandeja, passando a língua pelos lábios. — Aigoo... Ah, é. Insinuou que eu tenho um casinho com minha irmã, que, por sinal, teve que assumir publicamente que está namorando meu melhor amigo por causa da sua paranoia. E é assim que você quer me conquistar. — Ergo as sobrancelhas, com a voz fria. — Tsc.

Ela gagueja e olha ao seu redor.

O burburinho cresce, com algumas risadas.

— M-mas... Eu vi vocês de mãos dadas lá nas escadarias! — Ela acusa, desestabilizada.

Concordo com um aceno e ergo a voz, para me certificar de que todos ao nosso redor nos ouvem.

— Você a humilhou e disse que a depressão dela era uma mentira criada pra chamar atenção. E ainda teve coragem de mencionar a morte da mãe e da irmã mais velha dela. — Estreito o olhar, dissimulado. — Aish, Tzuyu. Uma coisa é eu não ter um bom relacionamento com ela, outra bem diferente é ser um completo idiota sem noção que não ajudaria uma pessoa que está chorando porque foi agredida nesse nível.

Girl Meets EvilWhere stories live. Discover now