[34] Serendipidade. (+18)

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ATENÇÃO: Se você tem restrição a conteúdo +18 (linguagem obscena e cenas explícitas de sexo), pule o capítulo todo! SOCORRO.

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Serendipidade: Sf. [...] Circunstância interessante ou agradável que ocorre sem aviso, inesperadamente; casualidade feliz; eventualidade; [...] Etimologia (origem da palavra serendipidade). Do inglês serendipity 'ação de descobrir coisas boas por acaso'. Aquilo que acontece ou é descoberto por acaso, de modo imprevisto, inesperado.

Jeon Jungkook's P.O.V

Em dias comuns, eu não me importaria em dirigir pela cidade. Hoje, porém, só quero chegar em casa. Não há nada fora do cotidiano. Ruas congestionadas, semáforos fechados e faixas de pedestres lotadas. É que, hoje, o ar no interior do Porsche é insuportável. Além da minha excitação e da ansiedade para chegar em casa e descobrir qual retribuição o futuro me reserva, há uma agravante que me estrangula.

Descubro ao acaso. Pura serendipidade.

A fragrância poderosa de baunilha e caramelo do líquido que a lubrifica me enfeitiça. Jamais um cheiro me capturou dessa maneira. É algo que me tira do eixo e ofusca meu raciocínio, uma fixação de feromônios que me asfixia e se intensifica no calor de sua pele pegajosa, contra o sol que atravessa janela do carro. Ela estressa meu olfato e turva minha visão.

Minha boca produz mais saliva, as gengivas formigam sem formar as presas lupinas. Meus músculos se tensionam e as mãos se fincam no volante. Estalam, prestes a se transformar em garras. A essência Ômega empurra minha racionalidade aos confins da mente e aflora meu Alfa Lúpus. Meu instinto de lobo. Por vezes, enquanto dirijo debilitado, rosnados borbulham em minha garganta.

A sensação é atormentadora e tenta me seduzir, mas não permito.

Controlo-me por ela.

Somente por ela.

À custo, mantenho a concentração e dirijo. Às vezes balanço a cabeça e estapeio a bochecha para despertar do torpor que o odor provoca. Tento respirar através da boca, abro os vidros para circular o ar. A brisa rompe seus cabelos e corta meu rosto, me faz tossir. Meus pés hesitam entre o acelerador e o freio. Vejo duplicatas da realidade e arregalo os olhos. Fito minhas íris rubras como sangue no retrovisor. Praguejo-me pelo desequilíbrio.

A fúria só se esvai quando o portão eletrônico da garagem do casarão se fecha com um estrondo. Estaciono na vaga e apago os faróis do Porsche. Nenhum de nós se move enquanto os vidros das janelas se erguem, para nos fechar no ambiente claustrofóbico, que me tortura. Silêncio e inércia nos absorvem. Os sensores de locomoção da garagem não captam movimento, por isso as luminárias fluorescentes que riscam o teto entre as tubulações aparentes se apagam.

Nossos rostos se ocultam na escuridão, exceto pelas luzes azuladas no painel aceso do carro. Apoio a cabeça no encosto do assento e cerro as pálpebras, com os lábios entreabertos. Largo o volante. Solto um resfolegar fatigado com a testa franzida em uma expressão de sofrimento. Estou no meu limite, prestes a perder o prumo.

Chegamos.

— Você tá passando mal? — O timbre da Monstrinha é receoso.

— Estou. Me ajuda?

— Claro... Vamos entrar, aí você toma um banho, se deita um pouco e eu te levo comida... Que remédio você...

— Vamos entrar.

Girl Meets EvilWhere stories live. Discover now