1.1. Consciente e inconsciente

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 Os conceitos de consciente e inconsciente variam conforme a abordagem e o arcabouço teórico considerado.

Para Jung, o inconsciente é a maior parte da psique ou, em outras palavras, a psique total, excetuando-se a consciência. Ele afirma que: "O inconsciente (...) é a fonte de todas as forças instintivas da psique e encerra as formas ou categorias que as regulam" (JUNG, 2000, § 342). Encontra-se também a definição: "A meu ver, o inconsciente é um conceito psicológico limítrofe, que engloba todos os conteúdos ou processos psíquicos que não são conscientes, isto é, não relacionados com o ego de modo perceptível". (JUNG, 1991, § 915).

Mas a definição aparentemente mais completa e detalhada que se pode encontrar é:

O inconsciente retrata um estado de coisas extremamente fluido: tudo o que eu sei, mas em que não estou pensando no momento; tudo aquilo de que um dia eu estava consciente, mas de que atualmente estou esquecido; tudo o que meus sentidos percebem, mas minha mente consciente não considera; tudo o que sinto, penso, recordo, desejo e faço involuntariamente e sem prestar atenção; todas as coisas futuras que se formam dentro de mim e somente mais tarde chegarão à consciência; tudo isto são conteúdos do inconsciente. (JUNG, 2000, § 382)

Sendo assim, na concepção junguiana o inconsciente é a base, e a partir dele se desenvolve o consciente, que é uma parte relativamente pequena do todo, apenas "a ponta do iceberg". E, como a consciência não consegue abarcar toda a realidade simultaneamente, sua percepção é sempre limitada e incompleta, enquanto que o inconsciente está constantemente captando e armazenando informações.

A mente consciente, além disso, é caracterizada por uma determinada estreiteza. Só consegue contar uns poucos conteúdos simultâneos a cada momento dado. Todo o resto é inconsciente naquele instante, e só podemos atingir uma espécie de continuação ou um entendimento geral ou percepção consciente de um mundo consciente, através da sucessão de momentos conscientes. Nunca conseguimos conter uma imagem da totalidade porque nossa consciência é por demais estreita... A área do inconsciente é enorme e sempre contínua, enquanto que a da consciência é um campo restrito de visão momentânea. (JUNG, 1983, § 13)

Naturalmente, consciente e inconsciente interagem sem cessar, influenciam-se mutuamente, numa troca constante de conteúdos, o que mobiliza e direciona a vida de cada um. Assim como a consciência pode atuar sobre o inconsciente, recebe-se também dele uma influência constante que não se percebe na maior parte do tempo — influência esta tanto mais poderosa quanto mais ignorada. Nas palavras de Jung:

E porque o inconsciente não é apenas um espelhar reativo, mas atividade produtiva e autônoma, seu campo de experiência constitui uma realidade, um mundo próprio. Deste último podemos dizer que atua sobre nós do mesmo modo que atuamos sobre ele, ou seja, o mesmo que podemos dizer acerca do campo empírico do mundo exterior. Mas enquanto no mundo exterior os objetos são os elementos constitutivos, na interioridade os elementos constitutivos são os fatores psíquicos. (JUNG, 2008, § 292)

Um grande tesouro encontra-se escondido em cada inconsciente, com um grande potencial criativo. Como são muitas as informações armazenadas, trata-se de um material riquíssimo, que muito poderia contribuir para a vida cotidiana, se estivesse ao alcance da consciência — e, de forma aparentemente paradoxal, contribui bastante mesmo se mantendo inconsciente, pois assim atua eficientemente moldando atitudes e gerando inspiração, sem os filtros conscientes.

Muitos artistas, filósofos e mesmo cientistas devem suas melhores ideias a inspirações nascidas de súbito do inconsciente. A capacidade de alcançar um veio particularmente rico deste material e transformá-lo de maneira eficaz em filosofia, em literatura, em música ou em descobertas científicas é o que comumente chamamos genialidade. (JUNG (Org.), 2008, p. 42)

E, dentre estes elementos psíquicos inconscientes, pode-se mencionar a sombra como um dos principais fatores e o que mais interessa a este trabalho.

A música da sombraWhere stories live. Discover now