f o r t y n i n e

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ANABEL 🌙

Meus olhos se abriram devagar, pesados, até poder ver tudo turvo, entre meus cílios, vislumbrando um teto branco. Pisquei algumas vezes, e minha visão ficou normal. Mas ali não era meu quarto. Notei estar em um hospital ao sentir um cordão cervical em meu pescoço, tinha remédio ou soro em minha veia ficandos no meu braço, enquanto eu sentia minha boca terrivelmente seca. Não sentia dor, além de um desconforto estranho e tensão nas costas, além de minha mente estar um tanto confusa.

O que tinha acontecido?

- Ana, querida, você acordou! - Ouvi a voz da tia Alice, alarmada, chegando perto de mim.

- Tia... - Sussurrei, minha voz saía com dificuldade, mas um sentimento bom me abateu somente por ela estar aqui. E algo me ocorreu instantâneamente.

O helicóptero havia caído.

- Minha querida, que bom que acordou, não tem idéia do medo que me deu quando soube, meu amor. - Disse em prantos, tocando minha mão, enquanto um turbilhão de sentimentos se desfaziam em mim. - Eu te amo, eu te amo. - Disse afoita.

- Eu também te amo, tia. Não chora, estou aqui. - Pedi, não queria a ver assim.

Uma morte.

Tentei mover meu corpo que entrava em desespero. Eu não as sentia.

- Minhas pernas... - Sussurrei apavorada, meus olhos se encheram d'agua. - É por causa da anestesia geral que não sinto minhas pernas? - Perguntei a ela. Tinha que ser isso.

- Ana, se acalme, você foi operada. O médico vai te explicar tudo. - Tentou amenizar. Não adiantou.

- Onde foi a cirurgia? - Questionei o que estava me consumindo, enquanto ela me pedia calma, tudo vinha sobre mim como uma enxurrada, e vinha com força. Era pavor.

- QUEM MORREU? - Inqueri, engasgada. Com medo. Era demais pra mim. Parte do meu corpo tremia, sendo que o cordão não me deixava nem mexer o rosto, enquanto as lágrimas quentes desciam por ele.

- O piloto. -Respondeu passando a mão no meu rosto. - O piloto. - Voltou a repetir. Coitado.

- E o Jonathan? Onde ele está? Ele está bem? - Questionei, eu precisava dele.

- Está intacto. - Disse seca, quase impaciente. E continuou, mais carinhosa - Ana, meu anjo, se acalme, vou te dizer tudo, mas você precisa ficar calma, você foi operada na coluna. Mas fique tranquila, a cirurgia foi um sucesso. - Contou. Na coluna? E eu não mexia as pernas? Eu já tinha visto muito disso.

- SE FOI UM SUCESSO, PORQUE EU NÃO SINTO MINHAS PERNAS? ESTOU PARAPLÉGICA? FALA TIA! - Implorei. E isso me fazia sentir dor por todo o tronco. Eu não queria ficar sem andar porque simplesmente não queria ser um estorvo pra ninguém.

- Ana, se acalme, você não está paraplégica. - Disse passando a mão no meu cabelo. Eu sentia um curativo perto da minha orelha.

- Você está mentindo... - Falei entre-cortada, ela provavelmente não queria me deixar agitada e por isso mentia.

Eu não queria ficar paraplégica, e queria muito menos que mentissem pra mim.

- Não estou. Meu Deus, Ana, fica calma, não pode se exaltar assim. Eu vou chamar o doutor, ele vai vir aqui conversar com você. - Disse nervosa, sem saber como lidar com a situação.

- Chama o Jonathan. - Pedi com a voz embargada, enquanto ela se afastava, lacrimejante, e as pressas abriu a porta e saiu do quarto.

Tentei erguer meu corpo mas não consegui, só obtendo dor, notei ter algo, como uma faixa me prendendo a cama pela cintura. Fechei meus olhos, tentando me acalmar, mas o medo não deixava.

InérciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora