f i f t y o n e

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ANABEL 🌙

Sentia a água ondular a cada passo que eu dava, enquanto segurava as barras de ferro dentro da piscina que tinha água aquecida, sobre a supervisão da minha fisioterapeuta, Bonnie. Minha coluna doía bastante, mas era incrível me ver melhor a cada dia, superar expectativas.

- Por hoje está bom, Anabel. - Bonnie disse, me deixando respirar aliviada, os exercícios eram cansativos.

Olhei para Jonathan, que parecia compenetrado no que fazia, sentado em uma mesa mais distante, com o notebook aberto, por algum motivo, depois que voltamos do Canadá, ele tinha voltado a escrever.

Mas como dizem, nem tudo são flores, e ele está indo pra New York amanhã, ou seja, era nosso último dia juntos. E eu estava com um aperto no peito, era uma ansiedade que tinha se instalado ali, uma espécie de saudade antecipada.

Falando assim, parece que nunca mais nos veríamos, mas pra mim, parecia exatamente isso.

Eu estava com medo de ver tudo ruir.

Enquanto saía da piscina com a ajuda de Bonnie, ele guardou suas coisas em uma mochila, e a pendurou em um dos ombros, vindo em minha direção, com o hobbie, a toalha e minha bengala. E ao colocar os olhos em mim, me olhando de cima a baixo, engoliu em seco, eu usava um maiô branco que marcava nos piores lugares. E saindo da água notei, merda, ele estava... Transparente.

Que vergonha!

Tinham outras pessoas no lugar, e tinha um garoto de aparentemente dezesseis anos me encarando de um jeito muito estranho. Mas Jonathan, em prontidão, literalmente, jogou o robe em cima de mim, cobrindo meu corpo. E passou a toalha por trás de mim, a colocando em minhas costas, me fazendo parecer estar em um casulo, enquanto Bonnie segurava um sorriso.

- Vou deixar você em protetoras mãos agora, Anabel. - Disse rindo, enquanto Jonathan me abraçava de lado.

- Certo, obrigado Bonnie. - Falei com humor, pegando a bengala da mão dele, enquanto, ainda com auxílio deste mesmo, ia a passos lentos até o vestiário.

- Se você continuar usando esse maiô na fisioterapia não vou conseguir viajar em paz. - Sussurrou em meu ouvido, me fazendo rir, de nervoso. "É só não viajar", minha mente completou, mas fiz questão de afastar o pensamento egoísta.

Estávamos tratando essa ida dele para New York como uma viagem, como se ele não fosse pra viver lá. E viver lá é bem diferente de ir com planos de volta.

E é claro que ele voltou a me chamar para ir com ele. E no momento, em que ele mostrou real interesse vendo um loft em um site de uma imobiliária em Long Island, me pedindo opinião, algo dentro de mim, doeu muito, porque parecia que a ficha, ao perceber que ele estava mesmo indo, caiu. E acabei imaginando nós dois na nossa casa, do nosso jeito, simplesmente dividindo uma vida juntos.

E sim, antes de colocar a cabeça no travesseiro, era com isso que eu andava me iludindo.

Mas eu não podia passar em cima de certas coisas, e simplesmente ir.

E tive que limpar as lágrimas e me maquiar pra ele não perceber que tinha chorado no banho, dentro de uma cabine do vestiário, com medo de que alguem me ouvisse, e depois que terminei de me arrumar, assim que sai, e o encontrei do lado de fora me esperando, pois tratamos de passar o dia todo juntos, como despedida. E sei que ele não iria querer fazer o nada que Bothell oferece.

Então, estávamos nós dois, ignorando as possíveis mais de duas horas dentro do carro, a caminho de Kenmore, ouvindo bandas indie como quando fazíamos antes, desde Coldplay, Twenty One Pilots a Kings of Leon.

InérciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora