Mona Lisa

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Emma

A morte é assustadora, eu diria. São cinco letras que ao ficarem juntas se transformam em dor, desespero e raiva. A humanidade simplesmente fica chocada ao ver um artista morrendo e quando isso acontece, milhões de pessoas no mundo inteiro iniciam o pensamento sobre o sentido da vida. Muitos indivíduos começam a publicar em suas redes sociais que está na hora de dar valor a quem amamos, outros apenas lamentam e eu, bom, eu fico curiosa para saber o que vem após a assustadora e esperada morte. As vezes eu acho que seria mais assustador se esse momento não acontecesse, porque pior do que morrer é viver sufocado em seus próprios pesadelos e rodeado de demônios que não vão embora. Algumas religiões afirmam que existe o céu e o inferno, como também existem aquelas que acreditam na reencarnação. Eu não faço ideia de quem eu seria em outra vida ou se já fui alguém, porém entendo que em todas elas eu teria que passar pela esperada e triste morte.

 
Os peixes não devem entender o que acabou de acontecer, enquanto alguns nadam tranquilamente, o outro permanece morto e nenhum deles se aproxima para se lamentar e questionar o sentido da vida. Eu queria poder ser um peixe, não teria que lidar com esse momento e nem fazer as pessoas que eu amo sentirem a dor. Apesar de toda a frieza, aparenta ser horrível viver em um aquário e ter que passar o resto da vida observando pessoas inúteis livres o tempo inteiro. Pobre peixe, tenho certeza que deve estar em um lugar melhor agora ou só morto mesmo, espero um dia descobrir para onde nós vamos.
 
— Emma, o que você está olhando? — ouço uma voz feminina tirando a minha concentração do aquário. Um lindo aquário.
 
— Ah. — olho e analiso a Candice, ela esbanja um olhar confuso, ainda permanece com seus fios cor de ouro, mas acrescentou um detalhe; ela pintou uma mecha de rosa, o que destaca seus olhos azuis. — Oi, Candy, não vi você chegando.
 
— Faz pouco tempo, eu vim receber os calouros mais cedo. Cheguei aqui, você estava quase devorando o aquário e matando os peixinhos com seus olhos. — ela fala enquanto mostra um sorriso. — Mas tudo bem, eu não julgo você por estar aqui e não no meio do pessoal. Isso era de se esperar.
 
— Eu estava apenas obtendo inspiração para uma nova pintura. Você sabe, aquário, faculdade... Tudo se encaixa. — falo como se fosse algo óbvio, porém não soou nem para mim.
 
— Uau, entendi. Você tem uma mente incrível. — ela olha admirada para mim, porque ela é assim. Totalmente assim. Candice adora me tratar como troféu e eu fico feliz por ela me admirar tanto, mesmo que algumas vezes não seja verdade. — Mas, olha, Emma, que tal irmos receber os calouros? Eu fiz até uma camiseta. — ela coloca o cabelo para trás para dar uma visão melhor da camisa vermelha com a frase em branco escrita "BEM VINDOS, CALOUROS DE DANÇA"
 
— Nossa, é realmente legal ter você como veterana. — confesso dando uma risada ao ver os detalhes da camisa, ela colocou vários bailarinos e glitter nos mesmos. — Eu iria adorar cursar dança, chegar aqui e meu deus olha só o que minha veterana fez para mim. — brinco e ela bate no meu ombro. — Ei!!
 
— Como eu sabia que você iria amar a minha... — ela começa a abrir a mochila e eu posso pensar em vários jeitos de dizer não para ela. Em diversas línguas se eu precisar. — Eu acabei comprando uma para você, exatamente, eu não fiz! Essa eu comprei de presente de aniversário atrasado. — ela termina de pegar o pano da bolsa e entrega na minha mão. O tecido é macio e posso jurar que já vi essa imagem em algum lugar. Termino de analisar a camisa e não posso deixar de sorrir ao ver o que ela comprou para mim. É uma camisa barata de algum local que vendia por metade do preço, um tecido completamente barato, mas importante, ele tem uma das minhas obras favoritas de Michelangelo estampada, A Criação de Adão. – Como você está sorrindo, vou supor que gostou. — ela me olha pensativa e não posso negar minha vontade de abraçá-la.
 
— Como você sabe que eu fiz aniversário recentemente? — volto a encará-la. É estranho lembrarem do meu aniversário, geralmente, eu não comemoro, pois acho que é um dia a menos e não vale a pena comemorar. Apesar disso, meu sorriso revela minha felicidade em receber um presente de Candice.
 
— Bom, como você não havia me falado antes, perguntei da sua mãe há mais ou menos uns seis meses e ela me contou. — responde tranquilamente. — Depois de um tempo, eu descobri que você ama Michelangelo, o que para mim não fazia sentido, porque eu sempre achei que fosse apenas um personagem de Tartarugas Ninjas, e você é tão chata para gostar de animações assim...

Pinte a sua dor | kth [CONCLUÍDA] Onde histórias criam vida. Descubra agora