Capítulo 37

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Avril girou o corpo para o outro lado. Seu braço passou por debaixo do travesseiro, o forçando ainda mais contra seu rosto, como se ele já não estivesse afundado no material. Suas pernas antes encolhidas se esticaram, seu corpo ficando ainda mais em contato com o lençol macio que cobria o colchão. Um cheiro familiar tomara conta de seus pulmões e ela não se importou, chegando até a tirar o braço de debaixo do travesseiro para permitir que sua mão tateasse o espaço vago ao seu lado, em busca do dono daquele cheiro. Não encontrar ninguém não foi o motivo de sua surpresa, mas sim estar procurando alguém.

Ela se sentou em um pulo, seu rosto amassado encarando a parede familiar em frente a cama, enquanto ao mesmo tempo tentava normalizar sua respiração e entender o que acontecia. Não demorou muito para que ela virasse o rosto para o lado que se lembrava de estar a janela, onde costumava ter um pequeno sofá, não encontrando ninguém. Ao virar para o outro lado ela encontrou uma pequena luminária acesa, a luz que ela emitia era tão pouca que sequer chegava à cama, iluminando apenas o rosto de Steve e o livro que ele segurava próximo ao corpo, sentado em sua cadeira e com os pés apoiados no tampo de vidro de sua mesa.

A verdade era que ele não estava lendo. Ele tentara, é claro, mas a história, por mais que fosse boa, não o prendia mais. A mulher mais uma vez em sua cama, sim, isso prendia sua atenção. Quando notou que ela começava a despertar, Steve ao menos se deu o trabalho de pegar o livro abandonado em seu colo mais uma vez, fingindo ler enquanto acompanhava suas reações. Quando viu a mão dela passeando pelos lençóis já fora de ordem, claramente buscando alguém, foi como se uma pedra descesse por seu estômago, e ele não pode demonstrar uma reação sequer, já que logo o olhar surpreso o encontrara.

- Mas o que...? Esse é seu quarto...? – constatou ela, piscando várias vezes. Avril sequer se deu o trabalho de tentar maquiar sua voz, deixando que ela soasse tão confusa quanto quisesse – O que eu estou fazendo no seu quarto?

- Você não precisava mais ficar na enfermaria, recebeu alta algumas horas atrás – explicou o soldado, mudando a folha do livro depois de se certificar que tinha memorizado a página que estava antes, apenas para fazer sua atuação parecer mais convincente – Então te trouxe para cá.

- A alta eu entendo, mas por que para cá? Por que não me deixar no meu próprio q...? Merda – ofegou ela, quando finalmente entendeu o que acontecia, fechando os olhos com força e se xingando por não ter previsto aquilo – Eu não tenho mais permissão para ficar sozinha, não é? Agora vai ser supervisão 24 horas por dia de verdade, não é?

O olhar triste de Steve foi tudo que ela obteve como resposta.

- Por que não continuar com a cela? – perguntou ela depois de um suspiro alto.

- Emprestamos para o Petr – contou ele, até chegando a fechar o livro e devolver à mesa, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto lançava um olhar piedoso à mulher – Não temos certeza se ele realmente está do nosso lado, então achamos melhor não arriscar.

- Ele está – garantiu ela, bufando, principalmente por eles terem tomado a decisão certa – Mas foi uma escolha inteligente, admito.

Avril apoiou as mãos no colchão, recuando até suas costas encontrarem a cabeceira da cama. Mentalmente ela condenava o próprio corpo por tamanha traição, por se sentir tão segura ali. Tinha alguma coisa no ar, ela tinha certeza. Era um ambiente tão familiar que seu corpo completamente ignorava seus comandos para permanecer atento à menor ameaça, apenas relaxando e mandando sua mente fazer a mesma coisa. Ao mesmo tempo que parecia tão certo se sentir bem naquele ambiente, naquela companhia, também era muito errado. Ela não podia e nem merecia aquela regalia, precisava manter aquela distância se presava sua sanidade.

The Real SideWhere stories live. Discover now