chapter 8

2.6K 226 256
                                    

O pai de Cheryl limpou um pouco de molho que ficou no canto da boca da garota. Cheryl se aconchegou a palma da mão do pai, aceitando o carinho que veio logo depois. Havia o tintilar dos talheres constante, o silêncio parecia ter se acomodado em uma das cadeiras para jantar com eles. Cheryl tinha falado pouco com sua mãe desde o acontecido, no almoço com Toni. A garota passara a tarde toda tentando ligar para Archie e foi ignorada com sucesso.

- Eu estava pensando em fazer intercâmbio. - Disse Cheryl cortando a quietude.

Desde que botou essa ideia na cabeça vinha pensando em um modo certo de anunciá-la aos seus pais. A conclusão foi que não havia maneira certa de fazê-lo. Ela teria que ser direta.

- O que vocês acham? - Perguntou ela.

Penelope a encarou como se ela fosse um bicho de sete cabeças, depois trocou um olhar cúmplice com Clifford.

- Fazer o que, querida? - Perguntou seu pai, como se não tivesse ouvido.

- Intercâmbio. - Afirmou ela. - Outro dia um pessoal da escola comentou e eu me interessei. - Mentiu.

- Espera ai... - Começou Penelope, a voz em puro deboche. - Você está falando em morar fora do país, é isso? - Perguntou ela se fazendo de desentendida.

- É. - Confirmou Cheryl inocentemente.

Penelope gargalhou.

- Você só pode estar brincando. - Comentou ela.

- Vai começar... - Disse Cheryl virando os olhos, demonstrando tédio.

- Vai começar o quê? Essa discussão nem devia estar acontecendo. - Disse Penelope.

Clifford pausou a mulher com um aceno de mão e apanhou o braço de Cheryl que estava sobre a mesa lhe fazendo um carinho delicado.

- Explica para nós direitinho, filha. - Pediu ele.

- Explicar o quê? - Protestou Penelope. - Vocês estão malucos? Não existe a menor possibilidade da Cheryl ir morar sozinha fora do país e ponto final.

- Mas por quê? - Perguntou Cheryl, o tom ainda suave.

Ela precisava de mais do que um "não" para tirar a ideia da cabeça.

- Sério, Cheryl? Está me perguntando por quê? - Perguntou ela como se óbvio o por quê aquele assunto nem deveria estar em pauta.

- Mãe, um monte de gente faz intercâmbio. Qual é o problema? - Perguntou a garota exasperada.

Penelope ficou em silêncio por alguns segundos.

- Mesmo que nós deixássemos... quem vai aceitar uma garota cega dentro de casa? - Argumentou a mulher sem nenhuma cautela na voz.

O rosto de Cheryl ficou vermelho de raiva, Clifford mandou um olhar de repreensão para a mulher.

Cheryl levantou abruptamente da cadeira e saiu da cozinha. Clifford levantou para acompanhar a filha, mas Penelope o segurou pelo braço e murmurou seu nome.

Uma Cheryl apressada passou de volta pela porta da cozinha com uma caderneta colorida em mãos, o rosto uma carranca, o olhar sério e desafiador direcionada para o lugar de sua mãe à mesa.

Ela lhe entregou o objeto que foi tratado com desprezo e desdém nas mãos de Penelope.

- Aonde você arrumou isso? - Perguntou a mulher.

- Em uma agência de intercâmbio. Tem uma na Irlanda especializada em quem é cego. - Explicou Cheryl em um tom seco.

- Me dê isso. - Pediu Clifford quando viu que Penelope maltratara o papel.

beyond the darkness - choniOnde histórias criam vida. Descubra agora