chapter 16

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Toni engasgou em seu lugar, os olhos arregalaram com o que Cheryl disse, alternou olhares da garota cega para seu pai que ainda parecia impassível, sentado na poltrona.

"Eu sou gay." A voz de Cheryl ecoava em sua cabeça, não sabia se era o efeito das palavras batendo nas paredes e voltando para si ou apenas uma alucinação. Ela não tinha discutido sobre ser gay com seu pai, ela simplesmente discutiu sobre amar Cheryl, sobre querer ela em sua vida, sobre seu pai aceitá-la. Se perguntou por que ela parecia mais chocada com as palavras do que Clifford tinha se mostrado.

A resposta reluziu em frente aos seus olhos, mantendo a imagem do quarto turva à sua frente. Ela nunca cogitou ser gay. Não, ela nunca nem havia pensado. Houve a vez em que seu pai disse que se negava a ter uma filha homossexual, e ela havia rebatido devidamente, mas ela estava com raiva, não tinha parado para absorver aquilo, estava ocupada demais contendo uma fúria dentro de si. Havia falado sobre se assumir com Cheryl, mas ela se referia ao namoro e não a um rótulo.

Ser gay. Ela pensou sobre o que isso significava. Ela teria que se nomear algo, agora que estava com Cheryl. Hétero ela não era, mas ela também não tinha certeza se era lésbica, gay, homossexual. Ser assim significava que ela gostava de garotas, amava e as admirava. Mas não era assim com ela. Ela não gostava, não amava e admirava as garotas, apenas fazia isso com Cheryl. Apenas Cheryl tinha conseguido expandir esse seu interesse. Talvez ela não fosse gay, como Cheryl dizia ser. Ela não se sentia como uma garota que havia sido feita para outras garotas, ela se sentia como uma garota que havia sido feita para Cheryl.

- Okay.

Toni foi arrancada de seu devaneio pela voz de Clifford e pelo aperto suave que Cheryl deu em sua mão. Ela piscou repetidamente para voltar a focalizar a situação em que estava. Ela deixaria para pensar depois, o que importava agora era apoiar Cheryl, usar de seu cérebro veloz para tentar dizer algo coerente quando lhe fosse solicitado. Mas ainda estava atordoada exageradamente em uma névoa.

- Por que Toni parece tão chocada com essa notícia? - Perguntou Clifford com a voz centrada.

Cheryl franziu as sobrancelhas com o que seu pai disse. As mãos afrouxaram o aperto na mão de Toni como se uma pequena corrente de decepção houvesse se instalado entre elas.

Toni recolheu a mão que se afastava devagar, antes de começar a falar.

- Calma. - Disse ela, direcionado à Cheryl. Depois virou para Clifford que a encarava. - Eu... Hmmm. Eu não sei se sou gay, não sei de nada para dizer a verdade. - As sobrancelhas de Cheryl se levantaram em surpresa com as palavras. - A única coisa que sei, é que amo Cheryl.

Cheryl deixou o corpo relaxar com o esclarecimento.

- Quando isso começou? - Perguntou Clifford se recostando no assento.

Toni franziu o cenho para a pergunta, se sentia em uma entrevista ao invés de uma discussão sobre um relacionamento que parecia incomum.

- Quando eu comecei a amar Cheryl? Isso é uma história longa e confusa. - Respondeu ela.

Clifford abaixou a cabeça e esfregou a testa. A primeira vez que demonstrou desconforto com o assunto.

Cheryl se arrastou mais para Toni e juntou a outra mão a dela.

- Quero saber desde quando vocês estão... juntas, desde quando vocês fazem essas coisas pelas nossas costas. - Esclareceu o homem mais velho, voltando a sua postura anterior.

beyond the darkness - choniWhere stories live. Discover now