46.

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Quando chegou, ele já estava lá, sentado no banco que um dia fora considerado especial para ambos.

O pensamento lhe trazia algo parecido com calafrios.

Aproximou-se com cuidado, sentindo suas mãos tremerem, seus olhos presos na figura dele.

Ele a viu e abriu um enorme sorriso.

— Mandie!

Apesar de haver muito espaço no banco em que ele estava, sentou-se no banco da frente. Quanto mais longe, melhor.

— Mandie — ele repetiu, um sorriso bobo em seus lábios. Obrigou-se a sorrir de volta. — Você continua tão linda. Como você 'tá?

Houve um silêncio desconfortável antes que ela respondesse, tentando manter a voz controlada.

— Eu... Eu tenho que ir pra outro lugar, depois, depois daqui. Então, se isso puder ser rápido...

— Ah, sim. Certo. Me desculpe.

Por um segundo, se encararam. Algo brilhou dentro dos olhos dele e ela sentiu as próprias mãos tremerem com mais força. Guilherme suspirou.

— Mandie, eu sei que o nosso término foi difícil, mas eu ainda te amo, e eu queria resolver as coisas.

A loira ficou em silêncio. Ele continuou:

— Eu quero voltar.

Foi a vez de Amanda sorrir, sarcasmo pingando como veneno de seus lábios.

— Ah, você quer?

Ele respirou fundo.

— Mandie, olha...

— Primeiro: você precisa parar de me chamar de "Mandie". Nós não somos mais namorados, nem mesmo amigos. Segundo: que porra é essa, Guilherme? Você começou a ficar com outra garota no segundo em que a gente terminou, e agora você quer voltar? Terceiro: sim, o nosso término foi difícil, e não tem muito como consertar as coisas. Eu posso ir embora?

Ele foi rápido em pegar uma das mãos dela. A coragem escapou do corpo da garota, que paralisou no lugar.

— Mandie, eu entendo que você esteja irritada e que você não queira falar comigo, mas, no dia que a gente terminou, eu prometi que esperaria por você. Eu sempre vou esperar por você, porque eu amo você.

As palavras fizeram com que raiva borbulhasse dentro dela. Tentou puxar a mão para longe, mas ele a segurou com força.

— Não, Guilherme, você não disse que me esperaria. Você disse que esperaria que eu percebesse que ninguém nunca ia me amar e que esperaria que eu voltasse correndo pra você. Bom, você estava errado sobre tudo, e quem voltou correndo foi você.

Os olhos dele faiscaram, e ela soube exatamente onde tinham chegado. Seu coração bateu forte no seu peito e o ar lhe faltou, como que se preparando para o que viria.

— Você acha que eu estou errado?

Ficou em silêncio, seus sentidos aguçados pelo mais completo desespero.

— Quem você acha que te ama, Amanda? O bonitinho com quem você 'tá ficando agora? — ele soltou um riso sem humor quando os olhos dela foram para o chão, sem graça. — Até parece. Você já olhou pra ele? Ele merece coisa melhor que você. Por que ele ia te amar? Ele tem milhões de pessoas que o admiram, ele poderia amar quem ele quisesse. E você tem alguns seguidores no Instagram e três amigas para as quais você mente — ela voltou a encará-lo, com o cenho franzido. Ele sorriu. — Você acha que eu não sabia? Eu sei que você mentiu pra elas. Qual foi a sua desculpa? Nós percebemos que somos melhores como amigos? Não estávamos dando certo? Você inventaria qualquer coisa pra não ter que admitir que sempre estraga tudo, não é?

Ele riu novamente, e ela sentiu o sangue congelar dentro de seu corpo em completo terror. Ele continuou falando:

— Sabe, Amanda, eu não preciso esperar que você perceba que ninguém além de mim vai te amar. É só esperar que você estrague tudo! Essa é sua especialidade, não é? Você estragou o nosso relacionamento porque você não sabe manter a boca fechada, você estragou essa conversa porque você se acha muito esperta, você estraga as suas amizades porque você não diz a verdade, nunca. Você sempre estraga tudo, e eu sei que não vai demorar pra que você estrague seja lá o que você tenha com aquele moleque, também.

Finalmente soltou sua mão, mas Amanda não conseguia se mexer, não conseguia reagir. Ele a encarava com satisfação, sabendo que vencera mais uma vez. Sorriu, preguiçoso, antes de soltar a pergunta que fez com que lágrimas viessem aos olhos da menina:

— Os hematomas ainda estão aí?

Ela levantou-se e foi embora sem se despedir.

são paulo • [r.l.]Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz