56.

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Acordou com a luz de fora entrando pelo janela. Piscou algumas vezes enquanto seus olhos se ajustavam à luminosidade, por um momento esquecendo-se de todas as coisas que estavam acontecendo em sua vida.

Então se lembrou e sentiu vontade de chorar de novo, ou de vomitar. Ou de tomar mais um remédio pra dormir e deixar mais um dia passar sem ter que levantar da cama e aceitar o sentimento de desolação dentro de si.

Puxou o cobertor e ouviu um grunhido, o que lhe fez lembrar dele.

Um peso pareceu ser tirado de seu coração, um tipo diferente de formigamento percorrendo seu corpo com a realização de que ele estava deitado ao lado dela, provavelmente ainda dormindo, e que Eredin estava em algum lugar no apartamento e o travesseiro azul estava debaixo de sua cabeça e a cafeteira estava na cozinha.

Suas quatro coisas favoritas.

Finalmente virou-se para encará-lo, dando de cara com o rosto sereno e calmo de Rafael. Seus cabelos loiros para todo lado, sua pele clara brilhando no sol suave que entrava pela janela.

Um sorriso bobo foi aos seus lábios antes que pudesse pensar muito na situação, o mesmo pensamento que a assombrava já fazia um tempo tentando chamar sua atenção mais uma vez.

Levantou-se com cuidado para não acordá-lo e arrumou o cobertor em cima dele o melhor que podia. Fechou a janela, fazendo com que o quarto ficasse escuro, mas não voltou a deitar. Fechou a porta ao sair, dirigindo-se à cozinha, Eredin logo aparecendo e rodeando seus pés. Colocou um pouco da ração trazida por Rafael e água da torneira em potes que encontrou nos armários. Enquanto o cachorro comia, pegou o telefone fixo.

Alô?

— Oi, Seu Antônio, bom dia.

Srta. Makino? Bom dia! Que surpresa! Como você está? Aquele seu namoradinho disse que você precisava vê-lo com urgência, 'tá tudo bem?

Suspirou, mordendo o lábio inferior com delicadeza, pensando numa resposta honesta.

— Ainda não, mas 'tá ficando.

Que bom, que bom. Precisa de alguma coisa?

— Sim, sim, na verdade sim. Eu queria dizer que você pode voltar a me ligar quando alguém vier me procurando, e que você pode colocar o Rafael Lange de volta na lista de sempre liberados.

Sim, senhorita. Mais alguma coisa?

— Por enquanto não, Seu Antônio, muito obrigada.

Era ainda muito cedo, perto das sete e meia da manhã, e sentia-se exausta — a noite anterior fora a primeira noite de sono em três dias que não fora induzida por remédios quaisquer que encontrara na dispensa, e lhe fizera um bem danado, mas continuava cansada —, mas queria resolver algumas coisas antes.

Aproximou-se do celular despedaçado no chão. Após mandar mensagens afirmando estar bem para suas amigas e para Rafael, Guilherme lhe mandara uma única e provocadora mensagem: "você chegou bem em casa, mandie?".

Sua primeira reação foi jogar o celular na parede.

Tentou juntar os pedaços, e o dispositivo chegou a ligar, mas não conseguia ver muita coisa com a tela toda rachada. Se o objeto estava ligado, porém, podia entrar no WhatsApp pelo computador.

Respirou fundo.

Tinha algumas coisas para consertar.

são paulo • [r.l.]Where stories live. Discover now