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A campainha tocou. Os olhos escuros de Amanda se abriram, suas sobrancelhas imediatamente franzindo em frustração. Resolveu ignorar o som — não estava esperando por ninguém. Fechou os olhos mais uma vez.

A campainha voltou a tocar. Uma, duas, três, quatro, vinte vezes. Bufou, mal-humorada, e levantou-se da cama. Não teve paciência suficiente para espiar pelo olho mágico na porta, apenas abrindo-a com violência.

Toda a irritação em seu corpo transformou-se na mais completa confusão.

Por algum motivo, ali estava Rafael, com os cabelos bagunçados, olheiras, um travesseiro azul debaixo do braço esquerdo, uma caixa de transporte na mão direita e uma mochila nas costas. Antes que pudesse lhe perguntar o que estava fazendo em sua porta — até porque tinha certeza absoluta de que tirara todo mundo da lista de liberados e não dissera a Seu Antônio para esperar pelo loiro —, ele desatou a falar:

— Eu trouxe o Lobinho e o travesseiro azul, e a cafeteira 'tá dentro da minha mochila. Não tinha muito como trazer o sofá, mas... É. Eu trouxe três das suas coisas favoritas que ficam na minha casa. Eu... Posso entrar?

Houve um momento de silêncio cheio de ansiedade. Com certo esforço, Amanda encontrou as palavras dentro de si, as quais saíram roucas por conta da falta de fala dos últimos três dias:

— Por que o Seu Antônio te deixou subir?

Ele suspirou, coçando a nuca com a mão esquerda e quase derrubando o travesseiro no processo.

— Bom, eu meio que disse que você tinha me ligado desesperada e que me pediu pra vir pra cá o mais rápido possível. Eu chorei um pouco e ele abriu o portão.

Ela apoiou-se no batente da porta e cruzou os braços, um sorriso ladino surgindo mesmo que ela tentasse contê-lo.

— E por que exatamente você fez isso?

Rafael respirou fundo, pensando em sua resposta.

— Porque... E se eu te explicar aí dentro enquanto o Lobinho explora o seu apartamento?

Foi suficiente para que ela saísse da frente da porta e o deixasse entrar.

são paulo • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora