Missa

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Bianca não gostava da senhora Weirtz, pois em sua opinião a mulher era desleixada na criação das filhas e linguaruda demais. Fazia leva e trás de boatos que – não com pouca frequência – eram inventados ou alimentados por ela mesma.

A má vontade da marquesa aumentou após conhecer a auspiciosa família Olivares. Adália era comedida e sagaz, o contrário do que diziam. Segundo Florência Weirtz, a mulher era sem graça e vida, seca em todos os sentidos.

Quanto a Sorte, na opinião da marquesa, era uma moça espirituosa, inteligente ao extremo e cheia de vida. Bonita também. Não tinha dessas belezas que se destacam a primeira vista em um salão de bailes, mas não era feia. Só era comum, nas cores e nos traços. Ainda assim era muito agradável aos olhos e tinha modos perfeitos. A cautela fizera de Sorte uma mulher elegante nos modos, mesmo que de maneira inconsciente.

Bianca achou que era uma lástima a moça não herdar o título de condessa, pois certamente seria um fenômeno na corte. Se o filho não fosse rápido, outro rapaz a descobriria em breve, porque o próprio Azarado a colocara sob as luzes da atenção pública quando dançou com ela. E ele não era o único jovem bom e atraente que morava na região.

Quanto ao senhor Weirtz, era o tipo de homem que Bianca abominava. Daqueles que só sabiam - como papagaios - repetir uma mesma frase condicionada. A fixação por um herdeiro varão parecia uma doença. Claro que o próprio marido também desejara um varão, era isso que tinha aprendido do pai, mas se acaso tivessem concebido uma menina, seria uma herdeira da mesma forma. Bianca jamais aceitaria que ele a colocasse de lado e ficasse como um tolo repetindo aos quatro ventos o desejo de ter um menino.

Não aceitaria. E isso foi acordado antes do casamento.

A sociedade a chamava de excêntrica por suas atitudes e ela sabia que isso se dava ao fato de ser rica e influente. Se fosse pobre, receberia a alcunha de louca ou coisa pior e certamente o destrato viria de gente como senhora Weirtz.

A mulher afastou aqueles pensamentos e continuou seu serviço de tricotar uma manta de bebê.

Na sala, o marquês ouvia entediado enquanto o senhor Weirtz falava de assuntos pífios. Ofélia contemplava o homem com certa timidez e a mãe trocava algumas palavras com Francisco, já que a mulher não se dignou a atender.

Enquanto isso, Pedro arrumava as malas para ir à cidade mais próxima. Partiria no dia seguinte para cumprir com sua palavra. Na sala da casa, Adália e Sorte recebiam o convite para o casamento de Maria Valeriana, que seria no final do mês. Ambas agradeceram de maneira educada, mas nenhuma gostaria de ir àquele casamento. Porém, teriam obrigação já que foram convidadas e ninguém estava terrivelmente doente a ponto e servir de desculpa.

— Irão à missa de domingo? — A mãe da noiva perguntou como quem não quer nada, mas certamente pescava uma fofoca. — Faz tempos que não as vejo na vila, até mesmo comentei com padre Antoine.

— Iremos. — Adália respondeu enquanto Sorte lançava um olhar cheio de dúvida. — Preciso ir à casa do Senhor agradecer a benção que me concedeu.

— Qual benção? — Maria Valéria, mãe de Maria Valeriana, fingiu-se de desentendida. — Perdoe-me a indiscrição, condessa.

A mulher colocou uma mão sobre a boca fingindo arrependimento e Adália teve vontade de não contar a notícia.

— Não há problema, senhora Maria Valéria. Ocorre que estou esperando minha primeira criança. — Contou educada.

— Parabéns! — Mãe e filha exclamaram juntas. Sorte só não bufou porque seria repreendida.

Adália nem se deu ao trabalho de abrir a boca para agradecer, apenas acenou com a cabeça.

Após um silêncio desconfortável, Maria Valéria resolveu que era hora de partir.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now