Vive La France!

114 16 199
                                    

Sorte abriu os olhos e percebeu que o marquês a fitava com seriedade, profundamente concentrado, respiração pesada. Ela viu com clareza de detalhes quando ele abriu a boca e começou a declamar Camões.

- O amor é fogo que arde sem se ver;/ É ferida que dói e não se sente;/ É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem doer. - O marquês colocou a outra mão na altura do maxilar de Sorte e deslizou o polegar em movimentos circulares pela pele da bochecha quente. - É um não querer mais que bem querer;/ É solitário andar por entre a gente;/ E nunca contentar-se de contente;/ É cuidar que se ganha em se perder*.

A respiração de Sorte tornava-se descompassada, o corpo parecia febril, o coração saltava no peito como um animal indomável. O dedo acariciando sua bochecha fez com que fechasse os olhos para apreciar mais. Naquele instante, algo dentro de Sorte acordou. Algo que não poderia mais dormir.

- É querer estar preso por vontade;/ É servir a quem vence, o vencedor;/ É ter com quem nos mata lealdade. - Azarado deslizou um dedo sobre os lábios macios e não conseguiu se conter. Tudo que tinha planejado metodicamente mudou de curso em um piscar de olhos. - Mas como causar pode seu favor/ Nos corações dos homens amizade,/ Se tão contrário a si é o amor?

Antes que Sorte abrisse os olhos, Azarado uniu seus lábios aos dela. E sentiu a respiração dela sair para dentro da boca trêmula. Era quente e atrativa. Visto que Sorte não ofereceu resistência ao beijo, o marquês tomou mais a boca dela, coordenando o movimento sem jeito de moça inexperiente enquanto sentia o corpo arder de desejo e o baixo ventre latejar clamando por carícias que ela não poderia dar ainda.

E Sorte sentiu o corpo acordar e latejar em partes que ela nem sabia que poderiam reagir ao mesmo tempo. Parecia surda pelo sangue que corria quente e rápido em suas veias. O coração fazia o peito vibrar. Sentia muitos arrepios, primeiro pelo toque suave e provocante sobre seus lábios e depois, pela pressão invasiva que ela desejava.

Sem entender direito o que fazia, subiu a mão pelo peito dele rumo ao pescoço quente onde a artéria pulsava feroz.

Então o marquês a soltou.

A jovem abriu os olhos, assustada, pensando que fizera algo errado, mas percebeu que Azarado olhava para a rua de onde tinham saído antes.

- Pensei ter ouvido vozes. - Ele se explicou voltando o olhar para Sorte.

Ela não sabia o que dizer e nem como agir. Não tinha vergonha do que acabara de fazer e nem fingiria que tinha. Então permaneceu muda. A mão de Azarado ainda segurava a dela sobre a coxa dele.

- Sorte... Não quero mais esperar. Eu tinha planejado dar-lhe tempo para me conhecer melhor e saber se é o que realmente deseja, pois uma vez que aceite, voltar atrás será uma mácula para seu nome. - Azarado, nervoso, introduziu o assunto.

Sorte começou a tremer. Beliscou a própria coxa para verificar que não sonhava.

- Sorte Maria Henrieta de Olivares... - Diamantais respirou fundo, pois daria um passo muito importante e definitivo. - Me aceita como teu noivo?

Sorte sentiu o estômago se contrair e embrulhar, o ar parecia pouco e os membros pesados demais, longe de seu controle usual.

Azarado esperou tenso com o suspense, até que ela pronunciou algumas palavras.

- Eu não sei seu nome completo. - Disse.

Azarado ergueu uma sobrancelha, confuso.

- Me diga seu nome. - Sorte pediu.

- Eu disse meu nome quando me apresentei a você no baile da duquesa, Sorte. - O homem falou. - Lembra-se?

- Não. - Ela ergueu as sobrancelhas e franziu o cenho. Não conseguia se lembrar do maldito nome.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now