Casa de Sorte

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Foram cerca de dezessete horas de viagem tediosa e cansativa até que entraram na propriedade de prados verdes, frescos, cheios de grandes árvores e onde se via cabeças de gado. A entrada da sede era ladeada por grandes coqueiros que desembocavam em um grandessíssimo bosque. Os olhos de Clementine brilharam ao ver a propriedade iluminada pelos primeiros raios de sol. Havia um grande gramado na frente da casa e uma graúda fonte que retratava uma ninfa do bosque. A casa era muito maior que a da fazenda Olivares e tinha alpendre e varanda. De onde estavam os que chegavam viam um pequeno lago aos fundos da casa, cercado de flores brancas.

Um filhotinho de cão com focinho quadrado e pêlo amarelo pálido correu na direção de Clementine enquanto latia por diversão.

A moça pegou o animalzinho no colo enquanto conversava com ele e levou uma lambida no rosto, o que fez Marcel gargalhar. Animada, a mulher ergueu pequeno cão rumo ao céu e começou a conversar com ele. Uma senhora já idosa e roliça recebeu os novos moradores.

— Dona Sorte! — A mulher correu um trotinho meio manco na direção de Sorte que abriu os braços.

— Bárbara! — Sorte recebeu a mulher com um abraço. — Que saudades, Bá.

— Eu que o digo! Você já está mulher. — A senhorinha afastou de Sorte e a analisou dos pés até a cabeça. Bárbara tinha sotaque muito forte, assim como o de seu marido Tinoco. — Era menina até outro dia.

— Bá, apresento a ti meus amigos que morarão aqui na fazenda. — Sorte acenou com a mão na direção dos irmãos. — Clementine e Marcel Desfleurs. Nem preciso dizer que são irmãos.

— Não precisa Sorte. — Bá pegou a mão da jovem. — São muito parecidos.

— Bom dia, madame Silva, é um prazer conhecê-la. — Clementine cumprimentou.

— Podem me chamar de Bá. — A mulher pediu.

— Pode me chamar de Clementine — A francesa replicou.

Marcel pegou a mão livre de Bárbara e a beijou em um gesto cavalheiresco, depois deu uma piscadela e sorriu.

— É um prazer conhecê-la, Bárbara. Uma mulher certamente bárbara, espetacular. — Flertou.

A senhorinha colocou a mão cor de chocolate em cima da boca enquanto soltava um riso involuntário.

— Pare menino! — Repreendeu por brincadeira. — Uma velha como eu, morre do coração com esses encantos.

— Pois eu acho que ainda está na flor da idade. — Marcel elogiou e os olhos de Bá brilharam.

Sorte riu feliz por eles se entenderem.

— Bá, Clementine está grávida e não quer revelar quem é o pai. Ela terá a criança aqui e permanecerá pelo tempo que desejar. — Sorte avisou.

— Faz bem, menina. — Falou olhou séria para Clementine. — Vai ficar bem aqui, acredite. Não te julgaremos. Não quero ofender, mas digo que nós não temos a mesma moral hipócrita dos brancos, filha. Não mesmo. Houve muitas de nós que tiveram filhos e ficaram solteiras, outras foram separadas das crianças e dos pais. Muitas vezes adotamos os filhos de outras. Família depende de amor, não de laço de sangue.

Clementine, com os olhos marejados, abraçou Bárbara que retribuiu o gesto. A francesa começou a chorar.

— Eu sabia que esse lugar seria bom para você, Clementine. — Sorte disse. — Ninguém a julgará você.

Bá soltou a francesa do abraço, apoiou as mãos na cintura e começou a falar.

— A fazenda agora é sua, Dona Sorte. Todos ficaram felizes com a notícia. Claro que gostamos do conde, mas somos mais apegados na senhorita. Sempre fomos. — A mulher inspirou e expirou profundamente. — Vamos entrar. Onde estão Luando e Tomaz? Fiz bolo de milho, está quentinho.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now