Aniversário

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Ninguém contava que o casamento de Maria Valeriana seria adiado para o fim de semana seguinte, porque no domingo seria o aniversário de padre Antoine e com a ajuda dos locais, o sacerdote faria uma festa para arrecadar dinheiro para as obras de caridade. O dinheiro também serviria para o sustento do pequeno orfanato-escola que ele mantinha ao lado da igreja. Cuidava apenas de cinco crianças, era verdade, mas todas precisavam comer, vestir e cuidar da saúde.

Todos os habitantes das redondezas ficaram em polvorosa. Houve encomendas de novos vestidos, acessórios, polimento das carruagens e, claro, muitas doações para que a festa fosse grandiosa.

No dia da quermesse, tudo estava meticulosamente organizado. A rua da igreja fora enfeitada com bandeirolas coloridas feitas de papel e coladas em barbantes que foram presos em postes. A trama cruzava um lado e outro da rua em um ziguezague divertido.

Barraquinhas de madeira ladeavam a rua, postas sobre a calçada. Havia pescaria, onde vários peixes de madeira, numerados, eram colocados em uma caixa cheia de terra. Na ponta de cima, onde ficava a boca do peixe, era presa uma argola de arame, o pescador precisava passar o anzol dentro dela e puxar, só então o ele via o número do peixe. As prendas ficavam dispostas na parede atrás de quem cuidava da barraca e seus números dos prêmios podiam ser vistos por quem passasse.

Barracas de comidas doces e salgadas eram o que não faltavam. As famosas quitandas sempre faziam sucesso. Biscoito, pão de queijo, pão, pamonha, curau, Chica Doida, maçãs caramelizadas, pipocas doces e salgadas, tortas doces e salgadas e muitas compotas de doce. Doce em calda como o de bolinha de queijo, de caju, de mamão em pedaço, de casca de cidra e figo. Doces pastosos como o de leite, de pau de mamão, geléia de mocotó e geléia de jabuticaba. Frutas cristalizadas. Janta completa com carne assada e cozida, feijoada, farofa, mandioca frita e cozida, e uma grande variedade de saladas. Havia caldo de carne e canja. E muitas bebidas, principalmente excelente cachaça de engenho e quentão de vinho.

A quermesse também contava com um baile no salão da igreja, para aqueles afeitos à dança. Todos os músicos eram locais e tocavam mais melodias populares do que qualquer outro gênero. Claro que quem mais gostava disso eram os homens livres e pobres que viviam do próprio trabalho.

Os homens livres, uma classe de pessoas que não era escrava e nem parte da aristocracia rural latifundiária. Não eram miseráveis, mas a maioria não chegava a ser rica. E aqueles que ficavam ricos, adentravam o circulo social dos nobres com algum tipo de casamento. Weirtz era rico, viera de uma família criadora de gado e sonhava em galgar os degraus da nobreza, mas não era tão fácil quanto parecia.

Havia mais demanda para rapazes livres do que para moças, já que os duques, condes, barões e marqueses se casavam rapidamente e geralmente com alguma outra filha da nobreza. Era fato que, se ele tivesse um varão, acharia alguma herdeira rejeitada para unir em matrimônio com o filho. "Uma feia desesperada." era o que ele dizia para a mulher.

"Aquela Sorte, por exemplo, estaria fácil." Disse certa vez. "O conde e a condessa morrerão secos e a moça herdará o título, os escravos e as terras. Sem graça como é, ficaria à mercê do primeiro homem que aparecesse."

Ao que Ofélia respondeu: "Sorte foi educada para ser condessa, papai. Domina a arte da administração e vive inteirada dos negócios do condado."

Mas Weirtz, do alto de seu machismo que a sociedade alimentava dia após dia, calou a filha com um tom irritado de trejeitos de deboche, fazendo com que se sentisse estúpida.

"Só uma moça para pensar isso. Ti és uma cabeça de vento, Ofélia, como todas as outras moças. Mulheres não têm capacidade de cuidar sozinhas dos negócios, é preciso um homem. Pulso firme no cabresto." Disse. "Mulheres devem cuidar da casa e do marido, nunca dos negócios. Tenho certeza que o conde apenas fingia que a deixaria no comando dos negócios, antes de morrer o homem arranjaria um casamento para aquela coisinha desprovida de beleza."

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now