Boas novas

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— Por Deus, estou enorme. — Adália reclamou enquanto descia as escadas. A barriga crescera tanto que a mulher nem conseguia mais enxergar os próprios pés.

— Espere, ajudarei a ti. — Azarado, que estava aos pés da escada, ajudou a concunhada a descer os degraus.

O nariz de Adália parecia uma batata. Andando como um pinguim, ela seguiu Azarado até a sala onde Sorte estava em um sofá, sentada.

A recuperação de Sorte fora lenta. Todos os dias Azarado ia vê-la e ajudar a cuidar dela. Dava comida, água, ministrava os remédios e se dispôs a banhá-la, mas Pedro quase o arrebentou no soco quando sugeriu tal ato. Adália, como sempre, foi a balança que equilibra o marido. Em vez dos murros de Pedro, o marquês de Diamantais se viu obrigado a ouvir um longo sermão sobre ser descente, enquanto o conde de Pedra Negra ria triunfante.

Sorte pensou na ocasião que ambos pareciam dois adolescentes. Frangotes de penugem na face e selvageria no coração.

Ofélia chegou a visitar Sorte e cheia de vergonha pediu perdão pelo que fizera. Sorte quis entender o motivo de ela nunca ter pedido ajuda e a moça explicou todo o complexo medo que sentia. Foram horas de diálogo nas quais as moças puseram-se a divagar no difícil papel das mulheres naquela sociedade ainda muito conservadora. Weirtz incorporara o discurso dos mais conservadores enquanto as famílias Almeida e Olivares estavam na vanguarda do desenvolvimento do mundo. Décadas a frente de seu próprio tempo, isto é, na maior parte dos ideais que defendiam.

Sorte não teve raiva de Ofélia, na verdade ofereceu hospedagem em suas propriedades sempre que retornasse às cercanias, já que Ofélia não tinha mais domínio por ali. Vendera a fazenda do pai, pois não queria as lembranças ruins que moravam naquele pedaço de chão. Os escravos foram todos alforriados. A notícia repercutiu e muitos disseram que a moça enlouquecera após a morte da mãe.

Ela não se importava com a opinião alheia. Agarrou-se à sua tão amada liberdade e ganhou o mundo com a irmã a tiracolo. A única pessoa que realmente amara e que de fato a amava.

Ofélia ficou manca. Eram sequelas do tiro, mas também não se importava com aquilo. Aprendeu a viver com sua diferença. Bianca sempre afirmava que o fato de estar manca a ajudava a atirar como o melhor dos caçadores.

Weirtz foi jogado no fundo de uma cela imunda e a finada senhora Weirtz encontrou morada no fundo de um túmulo.

O bebê de Clementine nascera prematuro, mas sobreviveu graças à ajuda dos Silva e companhia. Era um menino. O único varão que Weirtz colocara no ventre de uma mulher. Para a sorte de Clementine, a criança era uma cópia de si. Marcel se tornou um tio coruja que cuidava do menino enquanto a irmã gerenciava a fazenda.

Bianca e Francisco preparavam-se para uma viagem pelo mundo. Sentiam-se cheios e energia para aventurar-se, mas o fariam apenas após o casamento que estava marcado para depois do nascimento da criança de Ponta Negra.

— Oh céus! Não acho posição confortável. — Adália reclamou enquanto se remexia no sofá.

— Devia se deitar. — Sorte opinou enquanto tomava um gole de seu café.

Azarado a abraçara pelo ombro.

— E subir aquelas escadas outra vez? — Adália ergueu uma sobrancelha. — Isso é uma afronta.

Por um instante Adália observou o casal à sua frente. O marquês recuperara tônus muscular e voltara a toda a vigor da juventude. Os olhos verdes brilhavam de alegria a cada vez que olhava para Sorte. Enquanto a moça também recuperara muito da saúde. Tinha ainda algumas cicatrizes, mas quem se importava? Ela vivia feliz e sorrindo pelos cantos. Exceto quando cuidava de assuntos relacionados à suas terras e negócios. Nem mesmo Azarado a arrancava do gabinete.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora