Matrimônio

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O dia amanheceu nublado. A data do casamento de Azarado era também a de partida de Sorte.

O sol nem tinha raiado quando os Desfleurs se despediram do marquês e da marquesa e partiram felizes para a fazenda dos Olivares. Não viam sentido em participar daquele casamento, por mais que gostassem do filho dos marqueses, preferiam chegar cedo para ajudar Sorte a organizar as próprias coisas.

Foram recebidos por um conde nervoso que andava de um lado para o outro sem possibilidade de partir com a irmã e deixar a mulher grávida para trás.

— Fique tranquilo, monsieur Pedro. — Clementine tentou acalmá-lo. Estaremos com ela o tempo todo.

Pedro lançou um olhar carregado de dúvida e preocupação.

— Vocês não estão acostumados aos cuidados e precauções que nós tomamos. — Replicou.

— Mas sou muito observadora e garanto que cuidarei bem dela enquanto estiver comigo. — A francesa falou e depois sorriu no intuito de amainar a inquietação do conde.

— Com todo o respeito, monsieur conde, já salvei sua irmã uma vez. Confie em nós. — Disse com franqueza.
— Vamos Pedro, ela já é crescida. Senhora de si. — Adália acariciou o rosto do marido.

Entretanto, nada que disseram fez com que Pedro se acalmasse.

No quarto, Sorte colocou seus trajes de viagem. Já estava bem das feridas que a deixaram de cama e consideravelmente melhor do rombo que fora aberto em sua alma. Não completamente curada da traição marcada a ferro e fogo, mas consideravelmente bem. A família e os amigos foram um ponto importante em sua recuperação.

Sabia que Marcel e Clementine a aguardavam lá embaixo e que todos tomariam o desjejum juntos. Matilde a ajudava com os últimos ajustes e dava conselhos preocupados.

— Tenha cautela, filha. Olhe por onde anda, não faça parada em estalagens que não sejam confiáveis. Não coma algo sem que haja uma segunda opinião. — Matilde falava.

— Sim, madrinha. Pode confiar em mim, serei cautelosa. — Disse enquanto achava graça do excesso e cuidado.

Matilde a segurou pelos ombros e depois abraçou a moça como e fora a última vez.

— Menina, seu irmão quase dá a luz a uma criança de tão preocupado que está. Assim que chegar à fazenda, envie um mensageiro para dizer que está bem. — Pediu.

— Enviarei Matilde, acredite em mim, já sei o que fazer. Meus vinte e seis anos de idade já se aproximam. — Sorte lembrou.

— Fará uma festa para comemorar seus anos? — Matilde perguntou.

— Não sei, madrinha. Se eu fizer será em outra fazenda, longe desse lugar e dessa gente. — Falou enquanto amarrava uma fita no cabelo.

— Tanto faz onde será, contanto que eu esteja lá. — A mulher soltou o comentário espirituoso e sorriu.

— Claro que estará. Assim que Adália tiver a criança, voltaremos para lá, você e eu. Sei que gosta dos Silva. — Sorte prometeu.

Sim, Matilde gostava dos Silva. Sobretudo do sotaque deles que lembrava a ela dos próprios pais. A senhora alisou a saia de seu vestido de seda enquanto pedia a Deus que protegesse sua afilhada. Ela assistira o desenrolar dos últimos acontecimentos como uma sombra protetora e de repente se viu obrigada a deixar a afilhada partir. No fundo, estava tão preocupada quanto Pedro, mas tinha fé de que tudo ficaria bem.

Ambas desceram para fazer a primeira refeição do dia. Juntos, todos se sentaram à mesa que já estava servida. Pedro à cabeceira, Adália do lado direito, Matilde do lado esquerdo, Clementine ao lado de Adália, Marcel ao lado de Matilde e por último, Sorte, ao lado de Marcel.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now