2.

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— Eu sinto muito, Lis. De verdade. Eu nunca pensei que... Me desculpa.

As mãos de Elisa tremiam como nunca antes, e ela as passou pelos fios de seu cabelo com certa dificuldade. Seu coração acelerado, lágrimas ardendo em seu olhos.

Queria sumir.

— Eu sinto muito. Eu juro que, se eu pudesse escolher...

— Não faz mal — murmurou, evitando os olhos do garoto bonito à sua frente com uma determinação impressionante. — 'Tá tudo bem.

— Mas não 'tá — ele insistiu, aproximando-se para pegar as mãos dela, infelizmente desistindo quando ela deu um passo para trás. — Giovanna, por favor.

Giovanna. Vitor nunca a chamava de Giovanna — ninguém chamava. Era de conhecimento público que preferia ser chamada pelo segundo nome, uma preferência geralmente respeitada.

— Vitor, tudo bem — repetiu, forçando um sorriso e o olhando por um segundo antes de desviar o olhar novamente, porque doía demais. — A gente nunca escolhe de quem gostar.

E mesmo assim, com tantas pessoas no mundo, ele tinha que se apaixonar por Flávia? Talvez doesse menos se ele gostasse de uma garota qualquer que ela não conhecesse, mas Flávia?

Claro, Sasa era uma das pessoas mais lindas e simpáticas que conhecia, e merecia todo o amor do universo, mas era difícil olhar para aquele que tinha seu coração há mais de dois anos e aceitar que o coração dele estava ocupado demais nas mãos de sua melhor amiga, mesmo que esta ainda não soubesse do fato.

— Você quer... Conversar sobre? — ele perguntou, incerto, após um minuto de silêncio ensurdecedor.

— Na verdade, eu quero ir pra casa.

Vitor suspirou, bagunçando seus cabelos castanho-claros, sem saber o que fazer.

— Eu posso te deixar lá, então.

— Não precisa, eu peço um Uber.

— Giovanna...

— Vitor, 'tá tudo bem. Eu só quero ficar sozinha agora.

— Certeza?

— Absoluta.

— — —

Talvez a melhor opção fosse ligar para Flávia ou para Gabi, mas realmente não estava com vontade de escolher as melhores opções.

Seus pés a levaram até um bar qualquer ali na rua mesmo. Não tinha planos de ficar bêbada — só queria tomar a bebida mais amarga existente e sentir pena de si mesma sem ter que conversar com ninguém.

Não saberia dizer o que havia em seu copo, mas a ardência que ficou em sua garganta era algo que nunca esqueceria. Chegou a tossir uma ou duas vezes, e então apoiou os cotovelos no balcão e escondeu o rosto em suas mãos.

Por que sempre se apaixonava pelas pessoas erradas?

E, ainda mais importante, por que nunca era a pessoa certa de alguém?

Sua mente passeou entre as diferentes situações que poderiam ocorrer após o acontecimento de hoje. Vitor poderia evitá-la, agora que sabia que ela o amava. Vitor poderia tentar forçar uma amizade. Vitor poderia sentir pena dela.

Vitor poderia começar a sair com Flávia.

O simples pensamento foi suficiente para que seus olhos se enchessem de lágrimas desesperadas, mas se recusou a chorar. Não, não choraria no meio de um bar por um garoto que não sentia nada por ela, nem pensar.

Mas, sinceramente, não sabia o que faria se Vitor realmente começasse a sair com Flávia. Sasa lhe pediria por permissão, obviamente, mas não teria coragem de negar, e talvez os dois tivessem alguma coisa. Afinal, a ruiva estava solteira já fazia quase dois anos também, desde que terminara seu namoro com Rafael, e não faria mal conhecer pessoas novas agora, certo?

Céus, por que era tão autodestrutiva? Não precisava pensar naquelas coisas, não mesmo.

Pediu outro copo igual ao anterior e tomou seu conteúdo em um único gole, sua garganta ardendo.

Uma voz anunciou, divertida:

— Calma aí, moça, que se seguir desse jeito você não vai conseguir nem levantar dessa cadeira.

A garota virou-se para encarar o menino cheio de tatuagens sentado ao seu lado. Ele sorria, simpático, o que mostrava que o comentário não fora nem um pouco maldoso. Ela lançou-lhe um sorriso cansado.

— Não se preocupe, eu não vou beber mais do que isso.

Ele assentiu, ainda sorridente, encarando-a com olhos brilhantes, as pontas cor-de-rosa de seu cabelo balançando quando ele mexia a cabeça.

— Qual o seu nome?

— Elisa. E o seu?

— Tom. Mas e aí, Elisa, o que você 'tá fazendo aqui?

— Querendo desaparecer. E você?

— Eu só vim buscar um negócio que esqueci aqui ontem — ele deu de ombros. — E por que você quer desaparecer?

A garota de cabelos claros grunhiu em frustração, coçando os olhos.

— Ah, o padrão. Eu contei pro meu melhor amigo que gosto dele, e ele gosta da minha melhor amiga.

— Que merda.

— Eu que o diga.

Elisa suspirou, o olhar atento de Tom concentrado nela.

— Elisa, eu te conheço de algum lugar?

Ela franziu o cenho, sabendo que, bom, talvez ele a conhecesse dos poucos vídeos que tinha cantando no seu canal do Youtube, mas duvidava.

— Sei lá. Talvez?

O dono dos cabelos rosa pareceu satisfeito com a resposta.

— — —

Alguns copos de água e quase uma hora de conversa depois, Elisa se sentia um tanto melhor. Tom a fazia rir e adorava falar sobre sua namorada, que coincidentemente também se chamava Giovanna (apesar do garoto ainda não saber que esse era o primeiro nome da garota com quem conversava).

A amizade foi instantânea e, antes que pudesse ir embora, Tom obrigou-a a passar-lhe seu número de telefone para que pudessem conversar mais depois.

Era bom saber que existiam pessoas simpáticas por aí, as quais estavam completamente dispostas a falar com garotas tristes e descontroladas sentadas no balcão de um bar.

Voltou para casa e, pela primeira vez em horas, checou seu celular. Tinha algumas mensagens de Flávia falando sobre qualquer coisa, outras de Gabi chamando-a para sair e uma mensagem solitária de Vitor perguntando-lhe se chegara bem em casa que partiu seu coração um pouco mais.

As lágrimas começaram a cair no instante que a água quente do chuveiro alcançou seus cabelos.

Às vezes, odiava sentir, e odiava de verdade.

Às vezes, queria poder fingir que nada lhe afetava.

Mas as coisas sempre lhe afetavam, e muito.

serenata existencialista • [r.l.]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora