4.

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— Elisa, o Tom tem um amigo.

— Que bom, né?

— Cala boca, Tom, eu 'tô falando com ela, não com você. Enfim, Elisa, o Tom tem um amigo que é muito bonito e simpático, loiro dos olhos azuis...

— Agora você acha ele bonito, então?

— Já mandei calar a boca, porra. Ele é super gente boa e eu acho que vocês deviam se conhecer.

Elisa olhou em volta, sem graça, os dedos dançando na borda do copo em suas mãos.

A namorada de Tom era uma pessoa incrível e, assim como acontecera com o próprio Tom apenas dois dias atrás, a amizade foi instantânea. Gi era divertida e os assuntos aleatórios que arrumava, impedindo que a conversa estagnasse, estavam realmente ajudando a distrair a mente da garota de cabelos claros.

Infelizmente, porém, agora tudo retornava ao seu cérebro com tanta força que sentiu tontura.

— Ah, Gi, sei lá. Tem todas as coisas com o meu melhor amigo que o Tom te contou e... Não sei se é uma boa ideia.

A ruiva franziu o cenho, fazendo uma cara pensativa que lhe lembrou de Flávia e fez seu coração doer, seus pensamentos voando para o fato de que Vitor provavelmente vivia prestando atenção nas pequenas expressões de sua melhor amiga.

Porra, que bosta.

— Elisa, você não precisa sair com ele ou ficar com ele ou qualquer coisa desse tipo — Tom intrometeu-se, e Gi assentiu ao seu lado, concordando. — Eu posso só passar seu número pra ele, vocês trocam umas mensagens e se conhecem. Se você resolver que realmente não quer ter nada com ele, tudo bem, ele não é do tipo que pressiona. De qualquer maneira, você ganha um amigo.

Mordeu o lábio, considerando a proposta. Deixar que Tom passasse seu número para um desconhecido qualquer lhe soaria ridículo algumas semanas antes, mas andava tão despreocupada com qualquer coisa no momento que a ideia de arrumar um amiguinho virtual lhe parecia espetacular.

Suspirou em derrota, apesar de sentir uma chama de esperança dentro de si.

— 'Tá bom, 'tá bom, pode passar meu número pra ele, mas eu não prometo nada.

Gi exclamou em animação, sorrindo, e Elisa riu, olhando entre os namorados, que pareciam muito felizes com a situação.

Já naquele momento, soube que tinha conseguido dois bons amigos.

— — —

Quando o Uber parou na sua rua, era quase uma hora da manhã. O tempo passa rápido quando se está com pessoas que te fazem sorrir.

O sorriso sumiu de seu rosto, porém, quando viu o garoto na frente de seu prédio. Andou até ele rapidamente, sentindo as mãos tremerem.

— O que você 'tá fazendo aqui? 'Tá tarde já, e você 'tá no meio da rua! E se acontecesse alguma coisa?

Vitor desencostou da parede, colocando as mãos nos bolsos e encarando-a.

— Eu queria conversar e você não tem respondido minhas mensagens — ele admitiu, com a voz cansada, e Elisa segurou-se para não revirar os olhos.

— Eu te disse que eu queria ficar sozinha, Vitor. A gente não tem mais o que conversar — respirou fundo, mordendo o lábio inferior e xingando-se mentalmente pelo modo com o qual seus olhos ardiam.

— É claro que tem, Lis — ele praticamente implorou, desespero no olhar. — Eu não quero perder a sua amizade, você é minha melhor amiga.

Encarou o chão, sentindo o corpo todo formigar. Era exatamente o problema: ela era a melhor amiga.

serenata existencialista • [r.l.]Where stories live. Discover now