10.

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Então vocês vão sair juntos de verdade?

— Vamos. Finalmente, né? Eu e ele começamos a nos falar faz mais de dois meses.

Elisa encarava-se no espelho, tentando a terceira roupa dos últimos quinze minutos, brincos espalhadas pela mesa que ficava em seu quarto e sapatos jogados pelo chão.

Sentia-se nervosa — tinha apenas mais quarenta e cinco minutos para ficar pronta e não conseguia nem mesmo escolher o que vestir.

Queria que ele a achasse bonita.

Enquanto corria de um lado para o outro, conversava com Gabi por chamada de vídeo.

Vocês vão no cinema só ou vão jantar também? — a garota de cabelos rosa perguntou, interessada. Elisa suspirou, passando as mãos pela saia do simples e casual vestido azul-claro que encontrara em seu armário. — Porra, ficou gata demais. Eu acho que você devia ir com esse.

Sorriu, contente, satisfeita com seu próprio reflexo pela primeira vez em algum tempo. Olhou para os sapatos no chão, pensando em qual seria melhor para a ocasião.

— Ele falou da gente ir pra casa dele assistir alguma coisa na Netflix depois — respondeu, encarando um de seus tênis brancos. — Será que fica muito estranho se eu for de vestido e tênis?

Não, acho que não. Onde que ele mora?

Pegou um par de meias do armário e sentou-se na cama, escolhendo um tênis e começando a calçá-lo.

— Ele mora perto de mim, na verdade. Uns dez minutos daqui no máximo. Mas, ah, eu 'tô animada. Vai ser bem legal. Eu vou conhecer o Eredin!

Elisa não chegou a perceber o jeito com o qual Gabi paralisou completamente do outro lado da chamada, as mãos tremendo.

Eredin?

— Eredin é o cachorrinho do Rafael, ele é uma graça.

O Rafael tem um cachorro chamado Eredin?

— Sim?

A menina de cabelos claros e olhos escuros olhou para sua amiga com expressão confusa e não pôde deixar de notar o completo desespero no rosto da mesma.

— Gabi, 'tá tudo bem?

— 'Tá sim, Li, 'tá sim. Viu, eu vou ter que desligar agora, tudo bem?

Pendeu a cabeça para um lado, perguntando-se o que tinha acontecido.

— Certo. Qualquer coisa me avisa depois.

Pode deixar. Beijo, tchau.

— Tchau.

— — —

Olhou-se no espelho mais uma vez, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e observando seu reflexo fazer o mesmo.

Céus, "nervosa" não transmitia o sentimento que preenchia suas veias naquele momento.

Mesmo tendo vários amigos, Elisa sempre foi o tipo de pessoa que só fazia amizade com os amigos de seus amigos — não iniciava conversar com pessoas na fila do banco ou da lanchonete ou no ponto de ônibus e, apesar de ser até que um tanto sociável, nunca fez amigos sozinha.

Apesar de ter conhecido Rafael por conta de Tom e Gi, estava a caminho de conhecê-lo de verdade pela primeira vez e estava sozinha, sem nenhum conhecido para tranquilizá-la e sem nenhum amigo para trocar de assunto se a conversa ficasse estranha.

Ia morrer.

Certo, sabia que estava sendo dramática e sabia que ficaria tudo bem — estava conversando com Rafael já fazia quase três meses e nunca ficavam sem assunto. Conversavam por horas e horas e ele sempre a fazia sorrir e não seria diferente ao vivo, correto?

Mesmo assim, sentia seu estômago revirar em ansiedade.

Nervosismo é uma palavra pequena demais para descrever os pensamentos que corriam por sua mente.

Encarou sua imagem no espelho, mordendo o lábio inferior e sentindo-se bem, apesar de tensa. O vestido azul que escolhera não a fazia sentir nem arrumada demais nem de menos e sempre a fazia se sentir bonita.

Sorriu para si mesma e começou a andar na direção da porta. Estivera esperando os minutos passarem — não queria chegar cedo demais.

O telefone vibrou dentro de sua bolsa. Pegou-o distraidamente, as chaves de casa nas mãos.

Sentiu o coração afundar no peito.

Rafael lhe mandara uma mensagem.

oi, lis
viu
surgiu um problema e eu não vou poder ir hoje

Ah.

Claro.

Óbvio que ele não poderia ir. Merda.

O aparelho vibrou de novo.

o eredin tá passando muito mal e acho melhor ficar com ele hoje à noite
eu vou levar ele no veterinário amanhã
mas o q vc acha da gente sair semana q vem?? na sexta
mesmo horário, mesmo programa

Deixou um sorriso leve escapar, alívio tomando seu corpo por perceber que ele ainda queria vê-la.

Digitou uma resposta rapidamente e passou a encaminhar-se de volta para o quarto.

Talvez ficasse triste se a situação fosse outra, mas sabia o quanto Rafael gostava daquele cachorro, e o simples fato de que ele tinha uma razão para cancelar tudo e não tinha o feito só porque não tinha interesse em conhecê-la já era suficiente para tranquilizá-la.

de boa rafa, sem problemas
melhoras pro eredin!!

serenata existencialista • [r.l.]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora