14.

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Rafael Lange está vindo em minha direção.

Rafael Lange está vindo em minha direção.

Rafael Lange está vindo em minha direção.

A primeira reação de Elisa seria fugir, mas estava tão confusa que não teve a capacidade nem disso.

Seu dedo ainda formigava após enviar aquela última mensagem para o garoto no seu celular, e, apesar de odiar a situação, todos os pontos já estavam ligados em sua mente.

Rafael Lange parou diretamente à sua frente, com um sorriso nervoso e mãos trêmulas.

— Oi, Giovanna. É... É bom finalmente te ver.

E, em meio segundo, a confusão e o choque se transformaram na mais profunda raiva.

Seus pensamentos voaram para todos os lados e seu corpo todo começou a tremer em ódio, e é impossível descrever a quantidade de autocontrole que lhe foi necessária para não matá-lo naquele instante.

— Você é um filho da puta — cuspiu, e o sorriso já frágil sumiu do rosto do loiro. — Dois meses! Dois malditos meses! Você ficou brincando comigo por dois meses?

— O quê? Não, eu-

— Por quê, hein? Por causa da Sasa? Caralho, fazem mais de dois anos que vocês terminaram! Mas, bom, não me impressiona que você continue obcecado por ela, já que você é um puta dum psicopata...

— Não! Não, calma, Giovanna-

— Você sabia que ela 'tá saindo com outro cara? Ela 'tá saindo com outro cara, Rafael! Vê se supera, porra!

— Olha, por favor, me deixa-

— O que eu não entendo é o porquê de você vir atrás de mim, depois de tudo que você fez pra Flávia. Estragar a vida da minha melhor amiga não foi suficiente pra você? Não, claro que não, você tinha que foder comigo também, não é?

— Giovanna, me escuta, eu-

— Eu sempre soube que você era um merda, mas eu nunca pensei que você fosse cruel o suficiente pra fazer uma coisa dessas. Dois meses! Eu acreditei numa mentira por dois meses! Eu te contei sobre o Vitor, eu te mandei foto dos meus gatos, eu compartilhei músicas que eu amo com você, a gente fez a porra duma lista de coisas pra assistir juntos, e era tudo uma farsa!

— Giovanna-

— Você sabia, por acaso? Você sabia que eu precisava de alguém? O Tom e a Gi fazem parte desse seu joguinho ridículo também? Cacete, óbvio que eles fazem!

— O Tom e a Gi não sabem de nada, só me deixa-

— E tudo isso pra quê, Rafael? Por vingança? Eu não acredito que eu passei dois meses sendo amiga de uma pessoa completamente inventada, eu não acredito nisso! Como você pôde?

— Eu nunca-

— E a Gabi! A Gabi sabe de toda essa merda, não sabe? Certeza que ela sabe, e eu me pergunto que tipo de coisa você fez pra que ela não me contasse.

— O que que a Gabi tem a ver com-

— O Eredin é uma mentira também? Você acha foto dele no Google ou alguma coisa assim? Do jeito que você foi longe com essa mentira, eu não duvido de nada.

— Giovanna, eu só quero-

— Puta merda, eu te odeio!

Algumas pessoas na praça de alimentação os observavam com curiosidade enquanto Elisa recuperava o fôlego e Rafael olhava para tudo menos ela.

A garota de cabelos claros não conseguia raciocinar, seu sangue fervendo dentro de suas veias. Porém, existia algo mais forte que a fúria.

A dor.

Pequenas lágrimas se acumulavam em seus olhos e se recusava a chorar na frente dele, mas seu peito ardia em tristeza, seu coração quebrado pela amizade imaginária que tinha construído em sua cabeça, pela mentira, pela culpa de ter se aproximado de alguém que fizera tantas coisas ruins com sua melhor amiga, pelo sentimento inocente que vinha tomando forma dentro de si e que não tinha mais para onde ir.

Passou a mão pelos próprios cabelos e soltou um suspiro trêmulo que condizia com o tamanho do esforço que estava fazendo para não desabar.

— Eu... — mordeu o lábio, sentindo angústia apagar a ira e tomar conta de todo seu corpo. — Eu vou pra casa.

O rosto do loiro encheu-se de pânico.

— Não, olha, Giovanna — ele começou, e ela apenas o encarou, sem força suficiente para continuar a gritar. — Por favor, só... Só deixa eu me explicar, tudo bem? Só me ouve, e eu juro que, se você continuar querendo ir embora, eu não vou te impedir. Eu não vou te impedir e eu não vou entrar em contato com você nunca mais, por favor. Eu não queria que nada disso acontecesse, eu nem sabia quem você realmente era até semana passada e eu — ele respirou fundo antes de lançar-lhe um olhar desesperado — eu só preciso que você me escute.

Talvez tudo teria sido melhor se Elisa tivesse ido embora. Se ela tivesse dito "não" e se dirigido para casa, se ela tivesse revirado os olhos e exclamado um "vai se foder, Rafael". Com toda certeza tudo teria sido mais fácil.

Porém, ao ver o estado de completa ansiedade no qual Rafael se encontrava, e ao ouvir o pingo de esperança nas palavras dele, e ao lembrar-se de todos os sorrisos que ele lhe causara nos últimos meses e da promessa que fizera à Gabi poucos dias antes, viu-se dizendo, numa voz quieta e cansada, após um suspiro:

— Tudo bem.

serenata existencialista • [r.l.]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant