8.

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é lisa @g.elisassis
hoje eu fiz um amigo meu escutar "me tira pra dançar" pela primeira vez
minha função na terra é espalhar a palavra de tiago iorc

— — —

rafael lange @cellbit
eu tenho algo a dizer...
eu escutei tiago iorc de vdd pela primeira vez hoje
e foi até que agradável
mas não contem pra ngm

— — —

— E o Rafael, Lis? Como vai a amizade de vocês?

Elisa sentiu o rosto esquentar, e não conseguiu não ver o sorriso divertido que Gi e Tom trocaram. Brincou com o canudo reciclável em seu copo, encarando a limonada como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Bem, eu acho. A gente conversa todo dia.

— Todo dia desde que ele te mandou a primeira mensagem?

A menina de olhos escuros hesitou por um momento.

— ... Sim?

— Então você falou com o Rafael todos os dias por um mês? — perguntou Tom, com um meio-sorriso.

— Bom, eu nunca parei pra pensar nisso, mas acho que sim.

Os namorados se entreolharam e Elisa tomou um gole da limonada.

— Quando vocês pretendem se encontrar pessoalmente?

Deu de ombros.

— Sei lá. Eu nunca nem vi a cara dele, então-

— Como é que é? — Gi olhou-a com olhos estreitos e expressão confusa. — Como não?

— A foto de perfil dele no WhatsApp é do Eredin — explicou, os dedos passeando pela borda do copo. — Ele nunca me mandou uma foto dele, e a gente não se segue em nenhuma rede social.

— Por que não?

— Não sei? A gente só nunca parou pra falar "ei, me segue no Instagram e no Twitter aí". Se duvidar ele também nem sabe como eu sou, porque a minha foto de perfil é uma florzinha lá de casa e eu também nunca mandei foto minha pra ele.

O olhar que os dois trocaram foi menos positivo dessa vez. Tom decidiu por mudar de assunto:

— E como vai o Vitor?

Elisa grunhiu em frustração, apesar de sentir alívio pela mudança de assunto — falar sobre Rafael a deixava desconfortável por três motivos. Primeiramente, porque mais frequentemente do que deveria, principalmente nos últimos dias, via-se sorrindo com cada mensagem e também toda vez que lembrava do garoto. Segundamente, sentia-se culpada pelo modo com o qual corria para o mesmo toda vez que qualquer sentimento negativo surgia dentro de si. Por último, ainda tinha uma pulga atrás da orelha em relação a ele, apesar de saber que ele era gentil demais e engraçado demais e bom demais para ser o Rafael de Flávia.

— Nossa, tão bem assim? — Gi questionou com um leve sorriso, sarcasmo escorrendo por suas palavras. A ruiva riu quando Elisa a olhou feio.

— Por outro lado — começou, apoiando a cabeça na mão e olhando para seus amigos. — Eu falei com a minha amiga que ele gosta ontem e a gente combinou de sair amanhã, então eu acho que pelo menos essa parte da minha vida vai ficar certa de novo.

— Que bom, Li. Vai correr tudo bem, prometo.

Suspirou, voltando a encarar sua bebida.

— Espero.

— — —

Gabriela olhou de um tweet para o outro com as sobrancelhas franzidas.

Que estranho.

Curiosa, clicou no perfil de Elisa, indo diretamente para a parte de pessoas que a mesma seguia. Procurou por "cellbit", mas, aparentemente, não o seguia — talvez ainda estivesse bloqueado, inclusive. Mesmo assim, foi para a conta de Rafael, vendo que ele também não seguia a garota.

Mas Rafael nunca ouviria Tiago Iorc por vontade própria, e Elisa tweetara sobre fazer "um amigo" ouvir Tiago Iorc.

Um sino soou em seu cérebro, lembrando-se do amigo do cara do bar com o qual a menina dissera estar trocando mensagens. Não disse muito mais sobre o assunto, mas havia surgido um comentário ou outro sobre o tal garoto, que tinha um cachorrinho muito fofo e falava besteiras que a faziam rir.

Gabi não pensou muito em suas próximas ações, e, quando viu, Rafael a atendia no telefone.

Oi, Gabi, tudo bom? Aconteceu alguma coisa ou você só 'tá querendo fazer live?

— Você anda conversando com a Elisa?

Um momento de silêncio confuso.

Calma, quê? Você conhece a Elisa? De onde? O Tom e a Gi apresentaram ela pra você?

Gabi sentiu o coração acelerar.

— Você 'tá falando com ela por causa do Tom e da Gi?

Eu 'tô, ué. Ela é gente boa, a gente começou a se falar faz quase um mês. Por quê?

— Por nada, não. Obrigada.

Desligou a chamada e encarou o celular fixamente, um milhão de pensamentos percorrendo sua mente.

Elisa nunca criaria uma amizade com Rafael Lange, nunca mesmo. A garota o odiava com uma determinação impressionante, e o fato de que Gabi não se afastou do mesmo depois do término entre ele e Flávia fora um motivo de briga entre as três garotas no passado — tanto que perdera boa parte do contato que costumava ter com Sasa.

E Rafael nem ao menos sabia que a Elisa com quem estava conversando era a Elisa melhor amiga de sua ex-namorada, aparentemente. Será que Elisa não sabia quem ele realmente era, também?

Apesar das várias perguntas rodando seu cérebro, decidiu não questionar nem Rafael nem Elisa quanto a isso. Afinal, talvez estivesse errada sobre os dois se falarem — existe mais de uma Elisa em São Paulo.

Porém, se os dois realmente estivessem conversando, isso trazia milhares de novas perguntas: como Rafael não sabia quem Elisa era? Por que Elisa estava falando com ele, uma das pessoas que mais odeia? Ou Elisa também não sabia quem ele era? Como ficariam quando descobrissem? Como ficaria Sasa?

Após alguns minutos de desespero, revirou os olhos para si mesma.

Nada daquilo era possível. Seria uma piada cruel demais por parte do destino, uma ideia absurda demais.

Era outra Elisa com a qual o loiro começara uma amizade e não era com Rafael que a garota de cabelos claros andava conversando por mensagens — Elisa nem conhecia Tom e Gi, pra começo de conversa. Até onde sabia, pelo menos... Não, claro que não os conhecia. Os tweets sobre Tiago Iorc eram uma coincidência. Na verdade, pensando sobre, era até ridículo o quanto sua mente viajara só por conta de dois tweets bobos sobre ouvir música de um artista em específico. Iorc era famoso, afinal. Muitas pessoas o escutavam e qualquer um poderia ter recomendado a maldita música para Rafael, e tudo isso não era nada demais, nem de longe.

Rafael e Elisa não tinham nada a ver um com o outro e nunca teriam, estava criando paranoias sem necessidade.

Não precisava se preocupar.

serenata existencialista • [r.l.]Where stories live. Discover now