Sempre lhe aviso,
Meu amigo touro,
Mantenha sua mansidão,
Siga os conformes do curral,
Evite chamar atenção,
Apenas produza o devido,
Faça o tanto que lhe cabe.
Quando seu porte, força e beleza
Se impuserem por si mesmos e
Puderem causar algum desconforto
E atiçar os valores desumanos
Que vivem nos humanos,
Todo cuidado será pouco.
Podem querer levá-lo
Contra sua vontade, à força,
Sob pressão de uma argola no nariz,
Para os interiores de uma arena,
Onde você pouco ou nada conhece,
Toda a gente nas arquibancadas,
Inconscientemente, como diz o ditado,
Torcerá por você, mas não se engane,
Pois será grande a possibilidade
De ter diante de você um
Bailarino todo fantasiado,
O toureiro.
Este dançará frente à sua grandeza,
Vestido com um manto ou
Capote rosa-amarelo,
Sob o qual esconde uma lâmina
Arma branca que poderá
Estoca-ló entre os ombros,
Alcançando o ponto exato
Do seu coração.
Isto ocorrendo,
Suas patas serão amarradas,
Presas por correntes e
Será arrastado, deixando
Para trás uma poça de sangue,
E tudo terá acabado.
Para o vil dançarino,
A glória burra, honra e o prazer
De ser ovacionado com um
Estrondoso olé, olé, olé.
Conclua, portanto,
Meu querido touro,
Não confie no humano.
