O Primeiro Flash

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Nos dias que se seguiram, Alec não pronunciou palavra alguma a Jane.

Como orientado pela vampira, todos os três retornaram da cidade com os queixos erguidos e os andares determinados de sempre, agindo como se nada tivesse mudado. Heidi e seu parceiro já haviam contado como encontraram o forasteiro, como ele tentou fugir e como Santiago usou de sua extensa força para destruí-lo, e Aro sequer desconfiou que havia um segredo flutuando entre três de seus servos.

Sem desconfiança não houve interesse algum em interrogá-los ou tocá-los para verificar os acontecimentos da noite, e, depois que foram dispensados, Jane finalmente sentiu o aperto na boca de seu estômago desaparecer. Ela nunca precisou enganar o seu mestre antes, mas não sentia remorso ou culpa ao fazê-lo, visto que daquilo dependia a sua segurança e a de seu irmão.

Porém, apesar de tudo ter corrido bem, a vampira não esperava que a briga com Alec resultasse em dias sem ouvir a sua voz. Apesar de frequentemente estarem juntos, o gêmeo se limitava a responder suas perguntas com simples acenos de cabeça e movimentos de ombros, como se demonstrasse seu descontentamento evitando pronunciar qualquer coisa em voz alta.

Não demorou muito para que os outros membros da Guarda percebessem o desentendimento entre os irmãos Volturi, um acontecimento inédito e que aguçou a curiosidade de todos para o "porquê" daquela desavença. Contudo, ninguém obteve coragem o suficiente para interrogá-los.

— Alec, você ainda é leal a mim? – pergunta Jane certa tarde, cerca de uma semana e meia após a festa de Notte Rossa, entrando no quarto do irmão sem ser convidada e o interrompendo em sua leitura de um livro sobre Muay Thai.

O vampiro baixa o livro e a observa rapidamente, desviando o olhar logo em seguida enquanto respondia a pergunta com um aceno positivo de cabeça. Ele não concordava com o comportamento da irmã, odiava vê-la se desentendendo com seu amigo, mas jamais deixaria de ser leal a ela.

— Então fale comigo! – pede subitamente, sentindo a voz sair mais ansiosa do que o planejado.

Jane sentia um estranho incômodo diante de todo aquele silêncio, percebendo que, de certa forma, ela sentia falta de ouvir a voz dele. E quando Alec, mais uma vez, se recusou a pronunciar qualquer palavra, dando de ombros e voltando a ler o seu livro idiota, a vampira sentiu uma dor aguda invadir o seu peito.

— Me desculpe! – pede num sussurro, vendo, no minuto seguinte, a imagem de Alec sentado em frente a escrivaninha desaparecer de diante de seus olhos.

Tudo em sua frente foi coberto por uma névoa tão branca quanto a neve. A vampira não sabia mais onde estava, esquecendo-se completamente de que estava tentando conversar com o irmão minutos antes. No entanto, começou a ouvir uma voz, um som delicado e infantil que, por algum motivo desconhecido, ela se deu conta de que era dela.

Alec! – chama a pequena Jane repetidas vezes, nitidamente procurando por ele.

Um vulto preto surge em meio a névoa branca, parecendo ser uma pequena criança agachada em frente a um lago, apesar de a imagem não ser nítida. Contudo, quando a pequena Jane se agachou ao seu lado, praguejando baixinho por aquele chão enlameado sujar seu vestido amarelo limpo e perfeitamente engomado, a vampira percebeu que aquele vulto era a versão miúda e mortal de seu próprio irmão.

Vamos, Alec, fale comigo! Você sempre faz greve de silêncio quando brigamos, mas eu não gosto quando você faz isso. Diga alguma coisa! – pede, evidentemente chateada com o silêncio do gêmeo.

A imagem turva de Alec se move, dando à vampira a impressão de que ele estava se recusando a obedecer, o que prontamente fez a pequena Jane bufar.

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