Redemoinho

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Maximilian avança pelos corredores do castelo sentindo os olhos cravados em suas costas. Ele podia sentir a hostilidade de todos os outros vampiros, tanto da Guarda ofensiva quanto da defensiva do clã, e sabia que eles o estavam odiando muito naquele momento, por quebrar sua lealdade aos Volturis. Todos eles eram tão leais ao clã e aos mestres, que a sua atitude os afetou como uma ofensa pessoal e irreparável.

Talvez houvessem exceções, é claro, mas para a maioria deles o pensamento era o mesmo: agora ele era um traidor e não era mais bem-vindo ali.

O camaleão adentra o próprio quarto rapidamente, procurando o ferrolho para trancá-la, mas percebendo, pela primeira vez, que as portas do castelo não possuíam trancas. Com um movimento rápido e preciso, o vampiro lança todos os objetos de sua escrivaninha para o chão e arrasta o móvel em direção à porta, como um alerta desesperado de que queria ficar só e que ninguém poderia entrar.

Em seguida, Maximilian se coloca a caminhar de um lado a outro, passando as mãos repetitivamente pelos cabelos e ativando sua camuflagem momentaneamente, permitindo-se colocar em lágrimas todo o rebuliço que o consumia. Aro não ordenou sua morte naquele instante porque somente ele poderia encontrar sua criadora, e receber aquela missão tinha sido muito mais impactante do que receber uma sentença de morte. E o mestre Volturi também colocou todo o clã contra ele, e aquilo era o suficiente para que soubesse que caçar Andrômeda seria a sua última missão, pois os Volturis não permitiriam que ele ficasse vivo depois de tal afronta.

Maximilian sucumbi sobre os joelhos e esconde o rosto nas mãos, tentando conter os soluços e chorar silenciosamente para que ninguém pudesse ouvi-lo do lado de fora do quarto. Existia vampiro vivendo de forma mais miserável do que ele? Em vez de benção, a eternidade estava sendo como um redemoinho em sua vida, bagunçando tudo, mandando para longe tudo o que ele amava e lhe tragando para um fim dolorosamente cruel.

Tudo em seu interior estava uma bagunça e ele sequer podia definir o que sentia.

E apesar de tentar manter-se silencioso, Alec ouve o seu lamento do lado de fora do quarto e sente a tristeza também invadi-lo, sabendo o fim que o clã lhe daria depois de tudo e sentindo-se o pior dos amigos por deixá-lo enfrentar a ira dos Volturis sozinho, quando ele também era culpado. O vampiro caminha em direção ao quarto de Jane, entrando mesmo sem ser convidado e a esperando do lado de dentro, porque sentia que não conseguiria mais ficar em paz se não tentasse fazer algo por ele.

Alec começa a andar em círculos enquanto esperava, surpreendendo-se consigo mesmo por se preocupar tanto com alguém que não fosse a sua irmã. Ele nunca se importou com ninguém, nunca foi amigo de ninguém e por isso nunca se afeiçoou a ninguém. Entretanto, sentiu as coisas mudarem quando Maximilian chegou ao castelo e ativou algumas recordações de seu passado.

Apesar de não ver nenhuma recordação com clareza e de elas serem sempre curtas e pouco aprofundadas, como pequeninos trechos de um gigantesco filme, Alec sabia que o camaleão aparecia em algumas delas. Ele acreditava no que sua intuição lhe dizia e acreditava nas palavras de Maximilian: eles foram amigos no passado e se tornaram amigos no presente. Contudo, o vampiro era novo naquele lance de "amigo" e não sabia o que fazer para ajudá-lo.

Jane entra no quarto depois de algum tempo, encontrando o irmão perdido em pensamentos enquanto ainda caminhava em círculos pelo meio do cômodo, deixando de lado as suas próprias divagações:

— Alec – chama suavemente, sentindo o corpo estremecer ao estabelecer o contato visual e reconhecer a tristeza em seu semblante. Os acontecimentos do dia estavam mexendo muito mais com ele do que com ela.

— Não quero que ele morra, Jane! – sussurra à irmã, como se ela pudesse milagrosamente mudar as regras do jogo e salvar Maximilian.

— Eu lhe disse que cedo ou tarde o mestre descobriria. O camaleão estava fadado ao fracasso desde que decidiu tornar isso um segredo – explica, numa tentativa frustrada de acalmá-lo, porque suas palavras só o estavam deixando pior.

Coração GeladoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora