ROOMMATES ᨞ jikook

2. golfinhos

"NOTIFICAÇÃO DE DESPEJO."

Jimin bufou para a visão daquele papel vermelho idiota enfeitando a porta escura de seu apartamento tão mixuruca. Desviou o olhar ao que revirou os olhos, se deixando levar pela raiva e arrancando o papel num puxão só. Foi um grande erro, já que aquilo era importante para o lembrar sempre quando chegava em casa que ele poderia acordar com batucadas na porta e alguém dizendo que ele deveria sair imediatamente. Respirou fundo e guardou o papel no bolso da forma mais desajeitada possível, adentrando o lugar fedido e mal arrumado, sabendo que seria mais uma longa noite sem dormir.

Ele trancou a porta sem importância, jogando suas chaves, sua carteira e seu celular sobre o tal móvel que ficava o mais próximo possível da porta para esse tipo de ocasião, jogando os cabelos para trás e arrastando o pé enquanto andava até seu quarto. Pensou em tomar um banho para relaxar a mente e se livrar de todos aqueles pensamentos aterrorizantes que tornavam tudo ainda mais difícil de conviver, mas desistiu pela preguiça de ter que tirar toda a roupa, ver outra, organizar os produtos, uma toalha... Ugh, muita coisa para se pensar.

Jimin abriu os botões de sua calça jeans azul um tanto velha, deslizando por suas pernas e rosnando quando quase caiu por ter esquecido de tirar os sapatos. Foi preciso alguns segundos para que ele estivesse apenas de cueca e uma camisa velha com a estampa de, provavelmente, um restaurante que ele nem mesmo tinha frequentado. Tinha vontade de chorar. Toda a vez que ele olhava para baixo, em volta, todas aquelas coisas atiradas, a sua indisposição significativa que não o deixava nem mesmo limpar seu apartamento uma vez que fosse, sua rotina tão avassaladora que deixava sua cuca queimando pela insatisfação e toda aquela vida de merda que ele poderia jurar que tinha vontade de pôr um fim.

Mas de qualquer forma, ele tinha que ser forte. Ouvira sua vida inteira que um ser humano sem força não é um ser humano, talvez ele fosse um avestruz; golfinho. É, ele gostava de golfinhos. Talvez fosse mais fácil pensar e viver como um, mesmo que tivesse que parar para analisar a situação do oceano atual ou qualquer lugar com água. Bem, não lhe restara opções. O certo agora era ficar olhando em volta, sentado no colchão coberto por um lençol bem fino e um cobertor não tão quente comparado com os outros que tinha. Seus lábios foram sugados para dentro, sendo pressionados um pelo outro, como aquela mania que ele tinha desde... Sempre.

Decidiu que assistiria um filme, sabia que não dormiria tão cedo naquela noite. A televisão Smart dada pelos pais o esperava na sala logo próxima. Era possível enxergá-la da porta de seu quarto. Ele sabia que aquela era sua única salvação para não morrer de tédio, assim como pão ou miojo eram suas únicas salvações para não morrer de fome. Ele poderia comprar coisas mais trabalhadas, especiais, coisas para ele mesmo cozinhar, mas precisava economizar. Quanto mais mão de vaca fosse, melhor.

Caminhou até sua cozinha de prontidão, procurando por aqueles sacos de pipoca de microondas que ainda tinha guardado ou por uma porcaria qualquer que pudesse ingerir enquanto assistia um filme antigo qualquer. Jimin normalmente assistia filmes que tinha no Youtube, já que pagar a mensalidade da Netflix estava totalmente fora de cogitação. Lutou por muito tempo para manter o Spotify, por conseguinte perdeu também. Foi um dos motivos para Jimin se viciar em filmes mais antigos, aqueles lançados antes dos anos noventa e que achava facilmente no Youtube. Os de terror eram seus favoritos. Achava impecável a forma como eles conseguiam ser melhores que os atuais, mesmo que a produção seja uma completa bosta se parar pra pensar. Mesmo assim, ele gostava.

O escolhido da vez era "A Profecía", de mil novecentos e setenta e seis. Estava com medo de enjoar de "Bebê de Rosemary" ou " O Exorcista", então deixava para noites mais especiais, tais como aquelas que precisava comemorar sozinho ou quando estava acompanhado de algum amigo. Não era muito de filmes fantasiosos, como aqueles de aranhas gigantes, vampiros, lobisomens. Gostava mais daqueles que envolviam demônios, por mais ateu que fosse. Era impossível escolher um favorito, mais podia garantir que assistiria todos de novo, até aqueles que não era muito fã.