Luta - Cap 5

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Marcos me chamou pelo rádio preocupado com a minha demora. Informou que ficaria no píer caso eu precisasse de algo, a despeito de eu já tê-lo dispensado para casa.

— Ele está preocupado com você! — Lua comentou após ouvir nossa conversa.

— Marcos é como um pai para mim, me viu crescer, é meu padrinho. É o pai que o meu biológico não é. Me apoiou em todas as minhas decisões, ensinou todos os segredos que sabe do mar, é meu braço direito com os barcos. Meu pai mesmo faz anos que não quer ouvir falar de mim, desde que descobriu que eu era lésbica. Ele e minha mãe me isolaram aqui na Região dos Lagos, para que eu não fosse a vergonha da família – como ela estava me olhando interessada, continuei — Com 15 anos vim morar com Marcos e a sua esposa, eles recebiam uma espécie de mesada pra ficar comigo. Quando terminei a faculdade minha mãe obrigou meu pai a montar um negócio para mim, tentando amenizar tudo que eu passei, mas me privando do convívio com meus irmãos e família.

— Nossa! Que história! Quantos anos você tem agora?

— Jura que você quer mesmo saber? Já tô velha. Nem sei como você está aqui comigo.

— Velha? Não parece.

— Sou mais de dez anos mais velha que você. Tenho trinta e seis.

Ela ficou me olhando séria. Tinha momentos que eu queria que o chão se abrisse para eu me enfiar! Era impressionante como ela mudava suas feições, como ela se fechava, como mudava o comportamento.

— Você é uma menina ainda! – Tentei amenizar –ou piorar– a situação.

— Você não sabe nada sobre mim. Já vivi tanta coisa que idade não quer dizer nada.

E virou-se para o mar pegando a garrafa de vinho e tomando no gargalo mesmo, seu rosto estava tenso não me arrisquei a dizer mais nada. Joguei uma coberta sobre ela já que a maresia estava fria. Keyla então me puxou e me abraçou, calada e de cara feia.

Eu tive um pouco de medo do que ela estava pensando, fiquei ali quietinha. O calor do seu corpo em mim era bom, e Lua sacudiu a cabeça como se afastasse os pensamentos, tirou meu cabelo da nuca e me beijou. Meu corpo idiota me condena.

Ela sorriu enquanto eu pesava em como ela é misteriosa, tendo em vista que agora sorria lindamente.

Me virei de frente, ainda dentro da coberta, com o corpo colado nela, arrisquei cutucar a fera...

— Você não me disse nada sobre você... diz pra mim, pelo menos isso, tem namorada? — Ela fez uma cara tão feia que pensei que fosse apanhar.

— Você sabe o necessário sobre mim.

— Mas eu não posso me envolver com alguém com compromisso.

— Acho que o importante é que eu estou aqui com você, agora.

— Namorado? – Perguntei e me encolhi inteira, esperando a reação dela

Ela riu. Riu tanto que eu fiquei sem jeito. Parece as vezes que não é a mesma pessoa.

— Namorado? — Fechou novamente o semblante — De jeito nenhum — e ficou ainda mais tensa, mais que das outras vezes, concluindo — Pra isso teriam que me matar. Não quero mais falar sobre isso, OK?

Eu respeitei. Aquele ar preocupado me deixou nervosa também. A abracei sem saber meio o porquê, mas a acomodei em meus braços. O corpo que estava rígido, acuado, foi relaxando, até que suspirou.

— Keyla, posso te pedir uma coisa?

Me olhou como quem diz "porra, vem ela se intrometer de novo".

As Fases da Lua (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora