Acidente - Cap 1

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Eu sempre corria para sair do trabalho pontualmente às dezoito horas esperando dar tempo de vê-la passar. Deixava tudo organizado, para que dois minutos antes das seis da noite eu já estivesse na porta da loja. Corria desesperadamente até a calçada da praia, vendo o cair do sol. A noite me trazia aquela menina, e eu ficava acompanhando-a com o olhar, até ela sumir no horizonte.

Eu era muito tímida para puxar assunto. E ela passava tão cheia de si. Tão imponente em cima das suas havaianas e calça azul, quase sempre de camiseta preta ou branca levava na mão uma bolsa esporte.

Parecia livre, cabelos enrolados castanhos, quase avermelhados pelo sol, sempre soltos ao vento. A pele era tão branca, nem parecia que morava em região de praia. E eu corria para ver a noite chegar, para ela me trazer a Lua, como eu a chamava nos meus pensamentos.

Numa dessas várias noites que eu corri para vê-la, corri tanto, que claro, estabanada como sou acabei eu atropelando um ciclista.

Sim! Fui eu que o atropelei, correndo na direção dela, e olhando fixamente, atropelei feito uma capivara desenfreada o pobre ciclista.

— Puta merda! Que dor de cabeça!

— Calma! Não se mexe. Tem que esperar o socorro. Você bateu a cabeça.

Meu Deus era ela! Era a Lua. A minha Lua!

Ai que vergonha! Justo ela veio me socorrer.

Estava abaixada na minha frente, decote da blusa na minha direção. Acho que morri! Tentei me levantar, para sair daquela situação embaraçosa, mas a dor era mais intensa.

— Menina, fica parada. Você se machucou feio.

— Não foi nada. Já posso levantar.

Na verdade, não podia!

Ela tentou me ajudar e a Capivara louca aqui caiu por cima dela. Fomos as duas para o chão dessa vez.
Não tinha onde enfiar minha cara. Ah... como eu queria que a rua se abrisse!

Ela riu, na verdade ela riu muito. Claro, até eu riria.

— Não falei pra você não levantar? — A menina dizia.

— Mas eu já estou melhor.

— Bom... então dá pra rolar pro lado? — Eu ainda estava sobre ela.

— Ai que vergonha! — Murmurei sem graça.

— Vem, vamos levantar. Você mora aqui perto? Vou te ajudar

O que? Me ajudar? Onde eu moro? Tá maluca?

— Não precisa, eu estou bem.

— Vai... deixa de bobeira! Vamos levantar. Até porque você ainda está em cima de mim.

Ok! Vida! Já pode me levar agora!

Já passei vergonha demais por hoje.

Levantei aos tropeços.

— Me dá o braço. Vou te ajudar — Ela me estendeu a mão — Onde você mora?

— Aqui perto.

Fomos caminhando, quer dizer, ela caminhando e eu mancando de braços dados. Sentia-me pisando em ovos. Provavelmente porque eu não sentia direito minhas pernas ainda.
Na porta de casa, agradeci, e me despedi.

— Não! De jeito nenhum! Vou te deixar aí dentro ou então chama alguém pra te ajudar.

— Eu moro sozinha.

As Fases da Lua (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora