A lua mais bonita - Cap 3

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Chamei um táxi. O pronto socorro era próximo, mas não tinha como ir a pé. Cheguei lá umas 15h, fiz exames, consulta, esperei... esperei... mais exames por conta das dores de cabeça. Ganhei um belo presente: Uma bota ortopédica. Mas pelo menos assim, eu consigo andar.

A noite já tinha chegado, quando saí da clínica. Desci do táxi com uma facilidade que não tive ao entrar. Abri o portão, e ao me virar pra fecha-lo, gelei.

De cabeça jogada pra trás, fones no ouvido, com a costumeira calça azul, Keyla estava sentada no chão do outro lado da calçada e não me viu chegar. Fiquei ali olhando até que ela baixou a cabeça e levantou-se e correndo na minha direção.

— Nossa! Eu estava preocupada. Não peguei seu telefone, e hoje você não estava na praia – Olhou para meu pé — Mas... caramba! Foi feia a coisa, hein?

— Só um pouco. Logo melhora. Não fui trabalhar hoje, fui ao médico.

— Mas você está bem? Foi sério?

— Estou sim, só o pé que doía muito.

O pé, as pernas, as costas, a cabeça...

— Descansa. Fiquei preocupada.

— Espera! Não quer entrar?

— Não. Hoje não.

E saiu andando. Nem olhou para trás.

Que será que houve? Ah claro! Eu fui uma puta! Dei pra uma pessoa que nem conhecia! Na minha casa! Lógico que ela não vai aparecer mais.

Melhor ir dormir e esquecer, eu pensei. Mas bota não me deixava pegar no sono, tampouco o pensamento na Lua. Por que ela agiu tão estranha? Na certa tinha namorada, ou até namorado. Será que era casada? Não... casada não, ela é jovem. Mas por quê?

O dia já estava clareando quando o sono finalmente começou a chegar. Os barcos de passeio estariam na manutenção e a Mariana com a chave da loja, então, eu poderia descansar.

Mas não conseguia, cada vez que fechava os olhos, ela vinha em minha mente. Mais ainda a forma como se despediu.

Dormi de cansada.

Acordei à tardinha e resolvi ir até a praia. Um dos motivos de ter me mudado para cá era justamente o mar, não foi à toa que me formei em turismo e abri uma agência receptiva, com "ajuda" de minha mãe, aqui na região dos Lagos do Rio de Janeiro.

Com a bota não é tão simples caminhar, mas pelo menos eu não atropelo ninguém. Sentei no fim da calçada virada para o mar. Não havia me ligado na hora, e já eram 18:05h quando uma pessoa se sentou do meu lado.

— E aí? Tá doendo muito?

— Oi – Meu sorriso me condenou. — Não! Nem está. Vim aqui ver o mar

— Ou me ver?

— Dessa vez foi só o mar, não me liguei na hora. Você me tratou estranha, pensei que nem fosse mais vê-la.

— Eu sou estranha. Sou diferente de tudo que tu conheces – Não tinha o que dizer, fiquei olhando as ondas, e ela continuou — Eu também venho por aqui porque gosto do mar, a academia é na outra direção, eu venho aqui conversar com ele, com a lua... eles me ouvem, me entendem, e me aconselham.

— Aconselham? – Sorri.

— É verdade. Não disse que sou estranha? – Foi a vez de ela sorrir. — O mar tem muito a dizer, ouve! A lua também tem muito para contar. Fecha os olhos e escuta.

Assim eu fiz, quando a senti chegando perto do meu ouvido, sussurrando:

— Quero sentir seu gosto de novo.

As Fases da Lua (Degustação)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon